sexta-feira, 11 de maio de 2018

seriam os deuses vingadores?


Seriam os deuses vingadores?

 

          Esses dias saí pensativo do cinema. Não concluam os caros leitores que estava assistindo algum filme cabeça. Pelo contrário. Estávamos, eu e meu filho mais novo, saindo de uma seção do último filme da série Vingadores. Pois é. Primeiro devo confessar minha meia ignorância em relação aos personagens oriundos dos quadrinhos. Nunca fui um aficionado leitor de Marvel e nem DC Comics. Por conta disso, o filho mais novo, teve que fazer um release de metade dos personagens que eram por mim desconhecidos. Não obstante isso, era para ser uma tarde de convivência entre pai e filho com direito a seção de filme de ação e milk-shake de Ovomaltine. Quão engano da minha parte. Daí vem a explicação do “pensativo” ao fim do filme, que me compeliu a, chegar em casa, abrir uma garrafa de vinho e concatenar as ideias para escrever essa crônica. Tudo por conta do vilão. Pasmem.

          Sem me preocupar com spoiler, Thanos, o antagonista da película, é um show de personagem. Um vilão completamente diferente dos sanguinários e dementes personagens que povoam essas séries de aventura e ação. O carisma do sujeito, travestido com feições brutas, chega a comover quem acompanha o filme. Sua objetividade e argumentação matemática aliada a falta de truculência e quase gentileza fizeram-no o coadjuvante que sobrepôs os principais. Nada de Homem de Ferro, Thor, Hulk ou Homem Aranha. Thanos surfou na onda da popularidade. E a pergunta básica é porque? Sempre né? Pois vamos lá.

          A ideia do aumento desmedido da população mundial em detrimento dos recursos naturais, não é novidade no pensamento humano. Não o primeiro a levantar essa lebre, mas o mais famoso deles foi Thomas Malthus, um economista britânico que no final do século XVIII já previa as catástrofes oriundas da superpopulação. Baseado na teoria malthusiana, vimos, durante o transcorrer da História mundial, vários personagens defenderem o extermínio indiscriminado de parte da população em detrimento da outra. Isso anexado a fatores de ordem econômica, racial e ideológica que pautaram a limpeza populacional. Não vamos longe ao citar que a teoria do economista britânico permeou os pensamentos de várias figuras históricas como Hitler, a dupla Marx e Engels, Darwin, Keynes e mais recentemente expresso por Dan Brown no Best Seller “O Inferno”. Baseados na ideia da sobrevivência humana, defendeu-se uma teoria de eliminação de parte da população. Matemático e preciso.

          Assim se apresentou o vilão Thanos roubando a cena e o filme propriamente dito. Sem truculência e diria até, com um cavalheirismo quixotesco, foi eliminando seus oponentes e rumando para o objetivo traçado. Eu assistindo aquela epopeia, mas já vacinado quanto as teorias de Malthus, incomodei-me quando o filho sussurrou em determinado momento, se referindo ao vilão: “sabe que ele tem razão?!”. Daquele momento em diante parei de prestar atenção no enredo e comecei a raciocinar sobre o fato em si, buscando uma maneira de levar um conceito vacinado àquela mente indefesa e a mercê das ideias simplistas e vilanescas. E olha que demorou terminar o filme porque, para os nécios em Marvel, existe uma tal cena oculta após os créditos. E pensa nuns créditos compridos... quase um filme inteiro. Terminada a tal cena extra, e após o filho explicar toda a sua teoria sobre o final surpreendente, pude puxar o assunto e entender o pensamento da criança. De imediato comecei a fazer questionamentos sobre as decisões a serem tomadas. Se realmente resolvêssemos eliminar metade da humanidade, como seria esse caráter de seleção? Teria um critério justo? Conseguiria a sensibilidade permitir essa eliminação indiscriminada? Não teria o homem recebido do Criador a inteligência para utiliza-la de maneira correta e não em soluções simplistas? Seria essa a forma correta de lidar com o problema? Não deveríamos procurar uma solução mais equilibrada?

          Ao final penso que o filho conseguiu assimilar um pouco das indagações e internaliza-las. Como uma vacina que requer tempo de resposta, espero que ele obtenha bons resultados. Não esquecendo de sempre reforçar a dose de proteção. Quanto ao pai, saiu melhor do que entrou no cinema. Sempre aprendemos muito quando ensinamos algo de transcendente aos filhos. E fica sempre uma pontinha daquela sensação de pai super-herói, mesmo sabendo que não existem. Só não sei se Thor ou Tony Stark.            

         

   

           Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 11 de maio de 2018