Obituário
É com muito pesar que anuncio a todos os familiares e amigos o falecimento de Liz Baby, aos 13 anos de vida canina (70 anos o correspondente humano), vítima de complicações renais. Não deixa herança nem testamento, somente suas duas crias, Bia e Zulu (paradeiro desconhecido). O enterro foi realizado na reserva florestal do Complexo Vale do Cerrado, onde poderá enfim descansar em paz. A família aproveita a ocasião para agradecer as pessoas que olharam por ela nesse momento final, principalmente as dras. Luíza e Elisa, que dispensaram todos os esforços para que seu final fosse o mais suave possível.
Liz Baby
11/04/1996 – 01/09/2009
Quando levava a caixa em que jazia o corpo da pequena para seu destino final, começou a tocar a música de Beto Guedes que fala da chegada da primavera. Percebi que realmente tínhamos entrado em setembro e que o início da estação das flores se aproximava. Lembrei-me de outra crônica que havia escrito por ocasião do nascimento de Helena, e me preocupei em como daria a notícia do óbito para essa pequena. Foi nesse momento que me dei conta de que realmente não estamos preparados para a morte e que, muito menos ainda, não estamos preparados para contar a nossos pequenos sobre a morte. Tentei imaginar como funcionaria seus pensamentos quando desse a notícia e de como deveria ser minha conduta diante de sua reação. Deveria estar preparado para todas as atitudes possíveis, desde um desdenho até uma comoção histérica. A questão era exatamente essa. Será que eu estava preparado? Será que alguém está preparado para dizer a uma criança de 4 anos que seu bichinho de estimação morreu? E como dar a notícia sem estar preparado para as inevitáveis perguntas: O que é morrer? Ela não vai mais voltar? Para onde ela vai depois que morre? Foi nesse momento que realmente cheguei à trágica conclusão de que a nossa cultura ocidental bloqueia completamente a capacidade de entender a morte como algo natural. Como não passar esse temor para a pequena? Poderia dizer que ela (a cadela) estava velha e que já estava na hora de morrer, mas conseguiria depois conter suas lágrimas ao imaginar que sua bisavó também estava velhinha e que iria morrer também? E como explicar que as pessoas novas também morrem? Poderia simplesmente ignorar o fato e ir levando “de barriga” o assunto até que ela esquecesse. Agindo assim eu não estaria fugindo da responsabilidade de educador e colocando minha filha em uma redoma de vidro isolada dos fatos da vida? E quando ela descobrisse poderia me acusar de omissão. Ela estava realmente preparada para passar por essa situação de privação? Será que alguém está? Será que a vida espera as pessoas se prepararem para as intempéries para poder mandá-las? No fundo, bem no fundo a vontade que tive naquele momento foi de esconder-me. Senti-me um impotente sem a capacitação necessária para poder dar uma notícia a minha filha. Alguém tem a resposta?
Nesse momento, ainda redigindo essa crônica, penso não ter a solução imediata para o problema. O que me resta é o afeto. Lançarei mão desse recurso. Um abraço apertado. Sinceridade nas palavras e ausência delas quando não forem necessárias. Se as lágrimas teimarem em rolar, que rolem. Afinal a vida é feita de momentos. Alguns alegres, outros tristes. Penso que o segredo é recordar sempre dos alegres. Espero que ela entenda a minha fraqueza de ser humano e minha limitação como pai.
Guilherme Augusto Santana
01/09/2009