sexta-feira, 24 de junho de 2016

Você é o administrador


Você é o administrador

 

          Esses dias fui adicionado a um grupo de WhatsApp sobre um determinado assunto específico. Daqueles que tem início e deveria ter um fim quando o assunto que o motivou cessasse. Coisa simples para entendedor parco. Mas as coisas não funcionam bem como são programadas não é mesmo? O assunto proposto logo se perdeu entre outros periféricos que se tornaram principais e ao final, todos esqueceram o real objeto do grupo. Manifestações tipo “pop up” sobre política, religião e intimidades que ninguém é obrigado a compartilhar. Mensagens prontas coladas de internet e rituais de emojis colados aos montes para tentar substituir o cara a cara. Aí, concomitantemente, começam os grupos paralelos que não concordam com os posicionamentos e precisam expor suas opiniões, mas não podem se dirigir aos “infratores” diretamente para não criar rusga. Ou simplesmente por que gostam de falar mal de outros de outros grupos. E os grupos vão crescendo e se embolando criando uma sociedade, com todas as suas cores e diversidades, no mundo digital. Muitos questionam que isso não existiria se não fosse a internet e eu discordo frontalmente. Sempre existiu. Porém a velocidade era infinitamente menor. Discussões e não concordâncias sempre permearam as relações humanas, mas nunca de maneira tão célere. Resumindo, as pessoas nunca tiveram tantos desacordos em tão pouco tempo. Ofensas, deselegâncias, descolocamentos, pedidos de desculpas num átimo de segundo. Quando não tem uma treta acontecendo em algum grupo do “Whats” parece que estamos vivendo em câmera lenta num mundo sem emoção. O vício da velocidade alimenta as deficiências dos seres humanos os tornando, erroneamente, bem inteirados dos acontecidos pelo mundo. Tive a curiosidade de contar quantos grupos eu fazia parte no aplicativo entre ativos e inativos e deram para lá de cinquenta. Fazendo uma média de dez pessoas por grupo, teríamos um total de quinhentos indivíduos trocando ideias certas ou erradas e correndo um imenso risco de se atritarem sem precisão. Ou não. E no fundo tenho que confessar meu gosto por isso. Vejo muito mais possibilidades que deméritos. Entendo os riscos às relações humanas, mas colocando na balança vejo mais ganhos que perdas. Ao final o WhatsApp e demais congêneres se tornam um BBB digital cheio de personalidades se digladiando por um prêmio. No caso dos grupos por um objetivo. Tudo muito rico em análise humana para quem gosta do assunto. Eu, por exemplo, que sou fã do aquário de personalidades, divirto-me e aprendo. E aprendi principalmente, que resta o bom senso. No meu caso optando por interferir e manifestar o mínimo possível nessas redes. Buscando sempre aproveitar as boas coisas que nos trazem a modernidade. Afinal, apesar de não o ser na maioria dos grupos, sou administrador da minha própria vida. E nela faço as minhas próprias escolhas.

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 24 de junho de 2016

sexta-feira, 10 de junho de 2016

só queria embalar meu filho


Só queria embalar meu filho

 

 

“Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar...”

Ontem quando abracei um pai que tinha o olhar marejado na porta do IML, escutei-o justificar a depressão. Da imensa judiação em se perder um ser pleno em função do traiçoeiro mal do século. Aquele que chega sorrateiro e mina as forças. Só o escutei. Ele queria. Ele precisava. Como justificando aquilo que não tem justificativa. Como que explicando a seu coração que aquela dor imensa tinha um porquê. Por que? E ficamos ali abraçados. Um pai tentando doar uma parte de seu coração, aquele outro pai que perdera parte do seu naquele dia triste de junho.   

“Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar...”

Ontem quando vi o sofrimento e as lágrimas dos seus, entendi o imenso vazio que sua ausência traria. Aquele menino que era exemplo em tudo quanto fazia. Educado e gentil como poucos. Um anjo errante que nos deixou muito cedo, levando junto com ele parte dos corações daqueles que por ele choravam naquele instante. E em uma tentativa de compensar a perda vieram os abraços. Como que numa esperança de doar uma parte de seu coração, aquele familiar que perdera parte do seu naquele dia choroso de junho.  

“Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar...”

Ontem quando cheguei em casa abracei meus filhos como se não os visse há muito. Precisava. Queria. Fiquei pensando naqueles pais que não tinham mais a oportunidade de abraçar o seu. Que iriam para casa sem uma parte de seus corações. Pensei nos abraços e lagrimas daqueles que procuravam um porquê. Pensei nas palavras não ditas ou ditas desnecessariamente. Pensei na efemeridade da vida e o quanto precisamos aproveitá-la. Com corações inteiros ou pela metade. E como que por reflexo fiquei agarrado aos meus filhos querendo eternizar aquele momento. Como que em um desejo do calor de nossos corações, aquecer aqueles que perderam parte do seus naquele dia frio de junho.  

 

 

* em memória de Pedro Torquato Ramos

 

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 10 de junho de 2016

sexta-feira, 3 de junho de 2016

sobre responsabilidade


Sobre responsabilidade

 

          Não quero aqui falar sobre a morte do gorila Harambe ocorrido no zoológico de Cicinnati nos Estados Unidos. Muitos já falaram por ele. Já prestaram sua homenagem e sua indignação pela morte de um animal cuja espécie se encontra em extinção. Mas independente do risco de desaparecer do mapa mundial, senti seu abatimento como sentiria em qualquer caso que visse uma situação semelhante. Um animal que certamente foi levado até aquele local contra a sua vontade e aparentemente não fazia nada mais do que seu instinto o ordenava. Diante de uma situação de risco eminente sua vida foi subtraída.

          Não quero aqui falar sobre a ética em se manterem zoológicos espalhados pelo mundo. Muitos já falaram e falam diariamente sobre essa causa. Argumentos são variados e tornam o assunto polêmico e de difícil conclusão. Independente do tratamento, na maioria das vezes salutar, que recebem em cativeiro, vêm à baila se não estariam melhores no local de origem. Isso tudo em prol do entretenimento humano ou do conhecimento humano? Esse é o pomo da discórdia sobre o assunto. Enquanto uns veem a futilidade da diversão humana, outros veem a luz da ciência do conhecimento. Eu diria que talvez um pouco dos dois, mas isso não alimenta causa e nem lado para se torcer.

          Não quero falar aqui sobre o descuido, ou como foi alardeado por parte, da irresponsabilidade dos pais da criança que deixaram com que o menino fosse parar no refúgio do gorila. Quem tem filhos sabe que são como leite que se coloca a ferver. No menor descuido ocorre o derramamento. Também não tiro essa responsabilidade deles visto que, impreterivelmente e indelevelmente, essa culpa é dos pais. Sempre. Mas não consigo ver julgamento atroz e ferino em imputar a morte do gorila a essa “irresponsabilidade”. Fatos que aconteceram. Culpa sem dolo. Afinal todo pai quer o bem de seu filho e nunca, em sã consciência, faria ato deliberado ou falha deliberada para prejudicar uma cria.

          Quero aqui falar, afinal, da responsabilidade de quem decide. De quem está à frente. Do líder. Aquele que em situações de risco toma as decisões em prol de seus liderados. São essas pessoas com quem me solidarizo nesse momento. Muito foi questionado sobre as decisões disponíveis no momento em que a criança corria risco fatal. Muitos questionaram o abatimento do gorila. Muitos questionaram a razão de termos zoológicos. Muitos questionaram a irresponsabilidade dos pais. E tenho certeza que tudo isso pesou sobre a cabeça de quem tinha o poder da decisão. Mas mesmo diante do risco de não acertar, ele ou eles tomaram a decisão. E é a essas pessoas que presto minha homenagem nesse momento. A eles e a todos que tomam decisões. Das menores as maiores. Das erradas as acertadas. Esse é o ônus de que as toma. Assim fizeram os administradores do zoo de Cicinnati e assim eu também o faria.    

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 03 de junho de 2016


 

“Um gorila do zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos, foi morto no sábado por tratadores após ter agarrado um menino de 4 anos que caiu em seu cercado de cativeiro. A criança ficou por cerca de 10 minutos com o gorila, de 17 anos, e a equipe de resposta contra riscos de animais considerou a situação como uma ameaça à vida do menino.” (G1 – 29/05/2016)