sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Baianidade, um estado de espírito

amigos e amigas
Direto da única lan house de Cumuruxatiba-BA, envio a crönica de sexta. (desconsiderem os possíveis erros de portuguës)

Feliz ano novo a todos


Baianidade, um estado de espírito
Estou eu aqui sentado na varanda da casa de praia, o corpo quente pelo sol drenante, escutando o barulho das ondas do mar a lamber a areia branca. Somente sentado por obrigação da crônica de sexta. Em respeito aos meus fiéis leitores, porque a vontade tenta impedir-me. Repele-me do computador. As palavras entram num emaranhado estranho como se embaralhadas estivessem e embaralhadas quisessem continuar. Lembro-me que já senti isso outras vezes. Aliás, todas as vezes que venho à Bahia. Aí o pouco que resta de raciocínio me faz entender que só pode ser alguma coisa relacionada a essa terra. Alguma coisa que eles colocam na água, na comida, no ar... Algo como um estado de espírito. Baianidade. Uma entidade. Um orixá. Saravá!
Diz o ditado que baiano não nasce, estréia. Penso que quem escreveu isso era um sábio. O baiano é um artista por natureza. Na literatura, na política, na cozinha. Na arte de não se preocupar com o dia de amanhã. Aliás, nem de se preocupar com o dia de hoje. Quer alguma coisa rápida? Esquece. E o pior é que ele te convencerá da desnecessidade da urgência. Para que essa pressa, meu rei?! Vai tirar o pai da forca?! Melhor se sentar e trocar um dedo de prosa antes de fazer qualquer pedido. Uma conversa jogada fora. Coisa de amigos que recém se conhecem. Alias, nisso você verá um fenômeno. Aquele baiano se tornará seu amigo para o resto da vida. O melhor amigo. Contará seus maiores segredos. Suas aflições, que são poucas e suas pretensões que são poucas também. Depois de trocadas as confidëncias, peça aquilo que principiou a conversa. Se lembrar claro. Perceberá que terá qualquer coisa que pedir. Logicamente se não exigir muito esforço do cidadão.
A culinária aqui é um caso a parte. Uma paixão a parte. Nunca vi baiano falando que sua comida é ruim. Aliás, nem mais ou menos. Ela é sempre porreta. “Rapaz, você nunca comeu nada mais gostoso!”. E tudo numa simplicidade impar. Nada que de muito trabalho. Azeite de dendê, leite de cöco, tomate, cebola, cheiro verde (bastante coentro) e um peixe ou fruto do mar. Arrume tudo numa panela e coloque em fogo brando. Pronto. Simples. Vai tentar fazer você para ver. Não sai nem perto. Falta a mão do baiano. E falta a pimenta também. No máximo um arroz branco a e farinha amarela. Essa necessária em qualquer prato. Pronto. Não dispensa nunca uma bebida forte para guiar. Depois uma cerveja gelada. Se não tiver vai morna mesmo, porque gelada aqui é quase impossível. Prá que né meu rei?
Ainda sentado na mesma varanda, penso que o tempo passa mais devagar nessa terra. Ele quase se arrasta. Fico imaginando como foi o primeiro contato dos portugueses com as maravilhas do cenário do sul da Bahia. Devem ter ficados extasiados, não só pela beleza cênica, mas pelo tempo de isolamento em alto mar. É o que sinto toda vez que piso nessas areias. Hoje aqui funciona um parque nacional. Parque do Descobrimento. Próximo de onde estou escrevendo existe um rio. Rio Cahy. Esse foi o primeiro lugar onde as caravelas de Cabral aportaram no Brasil. Água doce era o objetivo. Erro fatal. Beberam da água da Bahia. Nunca mais conseguiram esquecer essa terra. Eu disse que tinha alguma coisa nessa água! Eu avisei!
Guilherme Santana
Cumuruxatiba(ex Ilha de Vera Cruz)
 30-12-11
santanagui@hotmail.com

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Então é Natal!

Papai Noel para Presidente!


Então é Natal!



         Acordei hoje sem tema para a crônica de sexta. Parece que estava na minha cara a pular e eu sem enxergar. Segui com meu dia a procurar. O jeito é almoçar. Almoço agradável entre amigos. Tudo de bom. Parecia que todos estavam envoltos em um clima agradável. Café para arrematar, e a tarde a esgotar sem um tema encontrar. Coloco minha aflição aos amigos: Qual tema abarcar? Eis que surge uma voz a me aliviar. Escreva sobre o Natal, ora bolas! Parecia óbvio. Era óbvio. Mas como não encampar? Escrevo sim, mas para emocionar.



         A princípio gostaria de propor um projeto de lei. “Clima Natalino” como patrimônio da Humanidade. Nada mais justo. Nada mais certo. Já observaram o quanto as pessoas ficam mais agradáveis nessa época do ano? E caridosas? E sorridentes? Porque não tornar essa época tombada pelo patrimônio? Imexível. Decreto: todos os cidadãos têm que ficar felizes no fim do ano. Revogam-se dispositivos em contrário. Eu, por exemplo, adoro. Desde criança. Essa era a época em que eu “trabalhava”. Como estava de férias, ia ajudar na loja de canetas pertencente à família. Caneta Dourada. Ali na Rua do Lazer. Perto do pastel e da garapa (uma outra história). Chovia de gente na loja. Todos querendo comprar seu presentinho de fim de ano. Eu me sentia o vendedor. Ganhava comissão. E no dia de Natal o salário pelo trabalho. Vinha num envelope. Sentia-me um barão. Comprar o que quiser. Quando não gastava tudo em pastel e garapa (a mesma história). Ou em presentes para a família. Tudo adquirido ali, no burburinho do Centro da cidade. Às vezes me perdia na porta das lojas a escutar a harpa entoar as músicas de Natal. Ali o clima era diferente. Muitas vezes saia do trabalho e ia ajudar meu avô a montar o presépio. Caixas e caixas retiradas dos armários. Luzes piscantes e estáticas. Bichos de todos os tamanhos. Cachorro maior que elefante. Tinha até bonequinho de Playmobil no meio. Uma festa. Ali eu escutava “dorme, dorme filhinho, Papai Noel já vem, trazer um brinquedinho, ai, pro sapatinho do meu bem” e ajudava a montar o sonho de infância. Muitas das vezes a casa cheirava a assado. Pernil, peru e leitoa. Cozendo lentamente e enchendo a casa de perfume de Natal. Cheirava do elevador. Farofas doces (não era muito a minha praia), frutas e castanhas. Quitutes que muitas vezes sentia só o cheiro. Só podia comer após a meia noite. Tem que esperar o nascimento. Nem uma provinha. E lá criança agüenta esperar o nascimento? Antes tinha que ir a missa. Coisa breve. Encenava-se toda a bíblia e cantava-se todo o repertório de músicas. Tipo 3 horas de cerimônia. A barriga roncando. Nunca entendi porque não se come no dia da véspera de Natal. Às vezes porque todo o fogão está ocupado com a ceia. Sei lá. Quando o padre entra para os avisos finais da missa já estava vendo estrelas. Roupa apertada. Traje de missa. Chegava na casa onde seria a comemoração. Mesa posta. Bonita. Parecia tudo de plástico. Naquela época não era comum nozes, ameixa, pêssego... tudo importado. Ficava admirando. Não pode tocar! Só depois da meia noite. Tem que esperar o nascimento. Enchia a barriga de empadinha e refrigerante. Tira gosto que vira janta. Quando é meia noite já está empanturrado. Aí é esperar a abertura dos presentes. Festa. Alegria. Papéis espalhados pela casa. Irmãos que brigaram o ano todo se abraçam. Presentes que agradam e outros nem tanto. Lágrimas e risos se misturam numa noite que deveria durar o ano inteiro. Reluta a dormir. Gostaria que essa noite durasse para sempre. Desejo de criança.

Por isso hoje, quando vai beirando o fim do ano, já preparo o meu espírito. Meu sorriso começa a afrouxar e minhas memórias de infância pulular. Já sinto o cheiro dos assados e as músicas de Natal tocando e penso com meus botões: Papai Noel para Presidente. Eu voto.



Feliz Natal      



 



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 23/12/11

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Gula nunca é demais (com fotos)

Caros amigos

Resolvi inovar. Desta feita segue a gula com as provas cabais. Imagens. Espero que gostem.



Gula com uma pitada de Luxúria



         Talvez vocês estejam estranhando o tema dessa semana e pensando que seja repeteco do anterior. Pior que é. Mas só estou voltando ao tema, porque recebi inúmeros comentários da crônica anterior com questionamentos diversos. Tipo: “Porque você não falou daquela comida?”, “E daquela?”, “Quando estava ficando bom acabou.”, “Não falou sobre as comidas internacionais.”. E diversos comentários que muito engrandecem e envaidecem o escritor. Sinal de que está sendo lido. Por isso resolvi repetir. Logicamente que com tempero diferente. Um tempero digamos... picante. Uma pitada de luxúria. Nessa crônica pretendo narrar não só o pecado da gula, mas também sua associação etílica e turística. Nada mais justo. Nada mais gostoso. Nada mais pecaminoso. Peguem seus terços e comecemos pelos mistérios deliciosos.



         Vamos começar aqui por perto. Brasília. Capital Federal. O chamado prato de pessoa jurídica. O nome do Restaurante é Francisco (existem alguns espalhados pela cidade, mas o meu preferido é o da ASBAC que tem vista para o lago Paranoá). O prato é Bacalhau. Assim mesmo com letra maiúscula. Um Gadus Morhua de respeito assado na brasa. Pensa em quatro dedos de puro filé alto. Alvo. Aí você chama o garçom e pede um azeite grego Mikonos. Aproveita e pede um vinho português. Luis Pato ou Eugênio Almeida. Aí pronto. No máximo uma cebola assada e não precisa de mais nada. Só ajoelhar e rezar. Andando um pouco mais, aportamos na gastronômica São Paulo. Nada de restaurantes estrelados. Vá a Liberdade e encontre a Rua Thomas Gonzaga. Ao final à esquerda verá o Gombe. Restaurante Japonês tradicional. Mas bota tradicional nisso. Você vai se sentir literalmente na terra do sol nascente. Encontre uma garçonete brasileira, de preferência, e peça um prato que tenha um pouco de cada coisa. Anchovas, missôs, sushis, sashimis... ah sashimis! Um dedo de espessura. Nada desses transparentes que comemos em rodízio não. Peixes que você não consegue pronunciar os nomes. Peixes que não tem nome em português. Peça junto um sakê. Necessário. Depois que sair do restaurante, dobre a Rua Galvão Bueno e vá conhecer a Adega do Sakê, do amigo Adegão. Figura. Se você sair de lá sem dar ao menos uma risada eu pago a conta. Aproveite para aprender um pouco mais sobre a famosa bebida de arroz japonesa. Kampai. Atravessando as fronteiras do Mercosul, siga para Buenos Aires, a charmosa capital portenha. Lá tem um restaurante chamado Cabernet. Um charme. Sente-se na varanda sombreada e deixe chegar o pão da casa. Vá petiscando com a manteiga e logo peça o vinho. Apesar do nome, indico um Malbec (uva tradicional Argentina). Se valer a dica e o bolso suportar, um do famoso Nicolas Catena. Depois de meia garrafa de vinho peça o Bife de Chorizo. O que acompanha deixo a cargo de vocês. Na verdade é desnecessário o acompanhamento. A carne vem ao estilo portenho. Sangrando. Macia. Pouco temperada. Própria para sugarmos todo sabor de sua essência. Basta. Dulce de leche pode ajudar a finalizar. Pecado em Espanhol. Aí atravessamos a Cordilheira dos Andes e aportamos na moderna Santiago do Chile. A jóia dos Andes. Diferentemente de sua co-irmã, Buenos Aires, aqui se come pescado. E que pescado. Prepare-se e vá ao Astrid e Gastón. Restaurante estreladíssimo de comida internacional com acento Peruano. Uma história de amor que virou restaurante. E como você está na terra dos pescados, peça o famoso ceviche. Eles vêm variados. Todos os tipos. O de ouriço do mar é de comer ajoelhado. Pecado mortal. Outro pecado mortal é não pedir uma garrafa de vinho chileno. Se puder e o dinheiro der peça uma Almaviva ou Montes Alpha. Melhor ainda? Escolha a uva Carmenère. Não gosto nem de imaginar. Chega de América do Sul? Suba mais um pouco (bem mais um pouco) e aporte na Big Apple. New York. Vou tentar me conter em dois lugares para não virar um livro. Primeiro vá a Brasserie Les Halles. Antiga casa do Polêmico chefe Anthony Bourdain. Por ocasião de minha ida a esse lugar, resolvi mandar um twitter para o chefe em questão solicitando uma sugestão de prato. Quando não muito chega a resposta. Cote Du Boeuf for two. Não podia deixar de provar o prato recomendado pelo Chef. Quando chegou à mesa, era quase o quarto traseiro inteiro de uma vaca. Divino. Macio. Vermelho. Acompanhado do vinho então... ficou imperdoável. Dez aves marias e quinze pais nossos. Passado o sobressalto do Boeuf, siga para o Eataly, do famoso Chef Mario Batali. Uma cidade gastronômica. Carnes, legumes, frutas, massas, temperos... entremeados com vários restaurantes de comidas diversas. Sente-se no Manzo do Chef Michael Toscano. Peça uma garrafa de Pio Césare Barbera D´Alba e em seguida um Raven e Boar Whey Fed Pig. Gravem esse nome. Vocês podem precisar. É um porco alimentado somente com produtos de primeira (dão até cerveja para o porco) e depois cozido lentamente. Quando digo lentamente é por horas a fio. Derrete na boca. Derrete a alma. Depois da refastelação, dê uma passeada pelo Eataly e aproveite para tomar um espresso (do italiano mesmo). Nesse ponto pulamos para a outra costa americana. A Oeste. Los Angeles. Afaste-se do centro e vá para Santa Mônica. A memória falha no nome do restaurante, mas fica na esquina da Santa Mônica Boulevard com a Arizona Avenue. Peça uma bela garrafa de vinho da uva Zinfandel, de preferência com a assinatura de Robert Mondavi e procure ao garçom pelo Boeuf Bourguignon. O melhor que já comi na vida. Repito. Na vida. Estonteante. Se conseguir, depois de pecar bastante, pode andar pela Santa Mônica Boulevard. Lá encontrará as maiores lojas de grifes mundiais. Outro tipo de pecado. Saindo da agitada Los Angeles, siga para a romântica San Francisco. Posso indicar uma pérola? Centro da cidade. Se enfiem em qualquer beco. Entrem em qualquer bistrô. Peçam uma garrafa do vinho branco Sauvignon Blanc. Uma entrada de escargot e uma salada de frutos do mar com salmão defumado. Sente-se em uma das mesas de rua, e escute jazz ao vivo. Garanto que passará a tarde inteira lá. Juro que não tem coisa melhor. Inesquecível.



         Depois de tanto pecado, nada como uma virtude para aliviar nossa consciência. Tudo o que está descrito acima, ou seja, as sensações e prazeres adquiridos com a comida, bebida e turismo, não valem de nada se não estiver em boa companhia. Aliás, de que vale viver a vida se não em companhia dos que você quer bem? Para mim não vale de nada. Por isso, quando for viajar e pensar em desfrutar ao máximo sua estada, lembre-se que pouco importa o destino. Pense primeiro na companhia. Essa vale uma viagem. Uma boa viagem.

        





 



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 16/12/11


legenda
1) Sashimi do Gombe
2) Bife de Chorizo do Cabernet
3) Ceviche do Astrid e Gaston
4) Cote du Boeuf do Les Halles
5) Raven e Boar Whey Fed Pig do Manzo (Eataly)
6) Boeuf Bourguignon em Santa Mônica
7) Escargot em San Francisco  
8) Salada de frutos do mar com salmão defumado em San Francisco









sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Gula

Se é para pecar, que seja com estilo.


Gula (êita pecado bom!)



Que me desculpem os que estão de regime, mas hoje o assunto vai ser engordativo. Nada de pão integral ou carne de soja. Hoje vai ser de 10.000 calorias para cima. Caso você não queira passar tentação é melhor não ler o que se segue. Desde que adentrei as mídias sociais (twitter, orkut, facebook, instagram), tenho postado acepipes de maior ou menor grandeza gastronômica acompanhado dos bebes (esses deixarei para uma outra crônica). Confesso ser um dos meus vícios. Comer e beber. Às vezes sofro retaliações pelas postagens, mas na maioria das vezes, os amigos parecem gostar e se identificam com a loucura culinária da minha vida. Primeiramente quero esclarecer que não me empanturro com tudo que posto. Principalmente com os doces. Os que convivem comigo mais de perto sabem que sou de comer pouco. Aliás, um hábito que adquiri por gostar em demasia de comer. Comendo pouco eu consigo desfrutar uma maior variedade de guloseimas. Por isso resolvi escrever essa crônica de hoje. Despretensiosamente. Pretendo listar algumas comidas que de uma forma ou outra marcam por um detalhe, localidade ou mesmo apego sentimental. Por isso não busquem nexo nos dizeres abaixo. Sugiro que fechem os olhos e tentem imaginar o sabor. E vamos logo com isso que já estou ficando com fome.



         Estava eu indo para Anápolis esses dias quando um amigo me falou que comprasse um requeijão na barraca da Vovó Onízia. A princípio pode parecer comum, mas ele usou as palavras mágicas: “o melhor requeijão do Brasil”. Isso para um glutão soa como sino. Apressei todo o meu compromisso para conseguir passar na tal barraca. E querem saber? O melhor requeijão que já comi na vida. Quando passarem por Teresópolis de Goiás, não excitem. Derrete na boca. E para massacrar, acrescentem um colherzinha de açúcar. Nem cachorro come. Nessa toada, digo e afirmo que o melhor pastel que já comi na vida, foi o de palmito da feira do Ipê. Coisa de estudante de engenharia que aos sábados tem que curar a ressaca. Divino. Daqueles que se come em pé colocando aquela salada de repolho dentro. Mas chegue cedo. Os de palmito são os primeiros a acabar. Continuando nos fritos, tem um que é impagável. Disco de carne apimentado da Tia Joana. Onde? Claudinápolis de Goiás (antigo Ruibarbo). A gordura chega escove pelos dedos. Coma com uma coca gelada do lado. De vez em quando eles erram na pimenta. Falar em pimenta... se você ainda não comeu o bolinho de bacalhau do Obelisque, não sei não. Algo de errado há com sua pessoa. O bar fica no Setor Coimbra tem umas décadas. E não venha me dizer que não gosta de bacalhau. Para comer o bolinho preparado pela mãe (portuguesa com certeza) do Adolfinho, não precisa ser fã do peixe salgado. Basta mergulhá-lo no molho que acompanha e mandar ver. Onde está a pimenta? Tabasco básico. Completa que é uma beleza. Não se esqueça da cerveja gelada no copo de boteco. Necessária. Um pouco mais longe, encontramos a melhor lingüiça do mundo. Onde? Porangatú! É em Goiás mesmo. Na beira da BR-153. A barraquinha é modesta, mas você identificará de longe pela quantidade de carros e caminhões parados na porta. Pensa nuns embutidos gostosos! Ficam ali dependurados na cara do freguês. É só escolher o preferido e o atendente corta um naco e serve com pão. Se valer a dica, experimente o seu pedaço de lingüiça com queijo derretido e dentro de um pão de queijo. Rapaz... ah! Não se esqueça de levar uns para casa. Depois você vai sonhar com os embutidos e não terá como satisfazer sua vontade. E fechando os gordurosos, não poderia me esquecer da esfirra de carne do Esfirra Quente. Ali no mesmo lugar de sempre. Rua 4 quase esquina com a Goiás. Difícil estacionar. Difícil se sentar. Difícil comer somente uma. Difícil não levar meia dúzia para casa. Se o buchinho agüentar, acompanhe com uma vitamina à moda da casa (daquela vermelha de beterraba). Para não dizer que não falei dos doces, sugiro passar ali no Doce Café na Rua 9 em frente à praça do sol. O lugar é um charme. Parece aquelas coisas bem mineirinhas mesmo. Compre uma broa de fubá. Leve para casa. Abra a mesma e coloque uma porção generosa de doce de leite (pode ser Zebu mesmo). Salpique com canela em pó e leve ao forno para gratinar. Sirva acompanhada de uma bola de sorvete de creme. Não divida com ninguém que dá azar. Matei uma meia dúzia de mulheres agora não foi não?!? Melhor parar por aqui. 



         Logicamente que não falei de todos os acepipes que gostaria (isso provavelmente daria um livro), mas creio que servem para que possamos trocar idéias de como a vida pode ser gostosa com coisas simples. Basta que tenhamos o olhar apurado para enxergarmos as qualidades onde elas menos aparentam estar. Muitas vezes não conseguimos juntar todas as qualidades em uma coisa só, mas podemos ressaltar aquilo que nos foi precioso. Seja o atendimento cortês, a qualidade do produto, a memória afetiva ou um estado de espírito. Ser feliz com pequenas porções de felicidade. Penso que seja um segredo.



         E a sua comidinha perfeita? Qual é? Larga de ser amarrado! Conta aê!   





 



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 09/12/11

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

verde, anil, amarelo, cor de rosa e carvão

Qual o seu rótulo?


Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão





Certa ocasião estava eu em uma reunião de negócios com um sargento da Rotam (para os que não são de Goiás, corresponde a Rota de SP). Um profissional de alto gabarito, que apesar do cargo aparentemente rude que ocupava, de uma gentileza impar. Devido aos anos de trabalho em conjunto, o sargento se viu na liberdade de comentar o tom da camisa que eu usava no dia. Cor de Rosa. O comentário foi o seguinte: “uai Comandante, não sabia que você era afeito a essas cores de camisa!?”. Eu, como num reflexo, olhei a cor da camisa que ele usava. Preto. E puxei pela memória as vezes que estivemos juntos, tentando lembrar as cores das vestimentas que ele estivera usando. Sempre Preto. Na mesma hora devolvi, de maneira amistosa a brincadeira: “De vez em quando eu uso rosa Comandante. E você? Não usa?”. Eis que ele em tom sério me respondeu: “Não Comandante!!! Já imaginou bandido ver Rotam de rosa?!?! Perde o respeito!”. A conversa continuou em tom de brincadeira e o assunto morreu ali. Durante muito tempo fiquei com essa conversa na mente esperando os fatos do universo se juntarem para entender que ela não tinha sido em vão.



         Semana passada, os principais formadores de opinião do Estado de Goiás estavam às voltas com uma notícia bombástica. A Rotam, depois de 8 meses de uniforme cáqui, iria voltar a usar a cor preta. Palavras do Comandante da Polícia Militar. Enfáticas. Talvez se tivessem sido proferidas corriqueiramente, não teriam causado tanto impacto quanto provocaram. O que não fazem alguns pontos de exclamação a mais. Foi a deixa para suscitar rodas de discussões em todo o Estado. A cor preta intimida mais? Não deveria a Rotam se preocupar com coisas mais importantes? Não deveriam os formadores de opinião se preocupar com coisas mais importantes? O fato é que a discussão tomou conta dos jornais, rádios e rodas de botecos. Todo mundo tinha uma opinião a dar. Lembrei-me da conversa com o amigo Sargento da Rotam de uns anos atrás. Os fatos estavam se juntando.



         Ontem, estava eu levando as crianças na escola quando meu filho mais novo me fez uma pergunta. Do nada. Assim de supetão como fazem as crianças. “Papai, porque você está usando uma camisa cor de rosa?”. Mais que de repente, sem que eu pudesse responder, minha filha mais velha, muito diplomaticamente, emendou: “Sabe o que é papai? O Otávio não gosta de cor de rosa!”. Vendo que estava na berlinda, e tudo que eu dissesse naquele momento poderia ser usado contra mim no tribunal, puxei o fôlego e esclareci. Expliquei que cada pessoa tinha um gosto por cor. Uns gostavam do preto, outros do amarelo e outros de cor de rosa. Expliquei também que o gosto é uma questão muito particular. Fiz com que eles recordassem que no meu armário haviam camisas de cores surtidas. Enquanto tentava convencê-los a não rotular um ser humano pela cor da sua vestimenta, lembrei que no fundo os grandes culpados por esses rótulos, somos nós pais. Desde pequenos impomos a nossos filhos alguns padrões que nos foram impostos em nossa infância e juventude. Menino usa azul. Menina Rosa. Mulher é que usa brinco. Homem não chora. Será que nossos padrões atuais correspondem ao que tentamos ensinar a nossos filhos? Educamos nossos filhos para o que está no mundo ou para o que gostaríamos que estivesse no mundo? Nesse momento, os fatos narrados acima fizeram sentido e entendi que os acontecimentos nos ocorrem para serem juntados e aprendidos. E se possível, ensinados.



         Diante de tudo isso segue uma declaração. Eu uso cor de rosa. E minha esposa diz que fica bem em mim (espero que ela não esteja mentindo). E vou dizer mais ainda. Isso não afeta em nada minha opção sexual. Hetero convicto. Posso ter sido criado para usar azul, mas entendi ao longo do tempo que isso é bobagem. Não conta nada sobre ninguém. São somente rótulos. E muitas vezes oprimem as pessoas e lhes tira o direito de se expressar e de ser feliz. Se a Rotam usa preto ou branco, não me interessa. O que importa é que eles façam o seu trabalho com dignidade e eficiência. Se o cidadão tem tatuagens, piercings ou usa brincos não me interessa. Importa que ele cumpra seus deveres como cidadão. Eis a essência do pensamento. Preocupemos mais com o que somos do que o que aparentamos ser. Espero que meus filhos façam na vida o que lhes fizer bem. Esse é um dos segredos da felicidade. Penso eu.

 



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 02/12/11

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Nelsons, Mários e Agenores

Saudades Caros Leitores... saudades



Nelsons, Mários e Agenores



“ Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre o que é viver melhor. Naquela mesa ele contava histórias que hoje na memória eu guardo de cor”. Coisa que faço as sextas é escutar música ao invés de jornalismo. Esta sexta passei o dia ouvindo Nelson Gonçalves. Aí muitos vão se perguntar: “ou o Coveiro está ficando doido ou ele mentiu sua idade”. E eu confesso. Escuto Nelson Gonçalves! E gosto! Escuto também Ataulfo Alves, Adoniram Barbosa e Francisco Alves. Pronto falei! Passei o dia também com os olhos marejados. Amanhã, se estivesse entre nós, meu avô Agenor faria 100 anos. E foi ele que me ensinou a gostar das vozes melódicas dos cantores de serenata. Por isso passei o dia escutando Nelson. Para tentar matar um pouco da saudade.



         Lembro-me com clareza de chegar a sua casa e correr direto para a estante de madeira da sala. Madeira de verdade, escura, encerada. Não essas porcarias de compensado que temos hoje em dia. Abria logo as portas pesadas e ficava namorando os discos de carvão com rotação diferente. Olhava as capas e ficava imaginando quem eram as pessoas que estavam estampadas nelas. Impreterivelmente estava tocando alguma coisa e o som, na maioria das vezes, chiado. Mas para mim soava como límpido. Soava como música de casa de avô. Coisas de cabeça de menino. Escutava aqueles vozeirões e sentia o cheiro da madeira e das coisas guardadas que só casas de avós têm. Tinha também café e biscoito de queijo. Esses por alcunha de minha avó Natália. Sentava a comer e a observar o relógio cuco que se misturava a voz de Nelson, Ataulfo, Adoniram e Chico Alves. Para quem visse de fora poderia parecer uma cena Dantesca, mas para mim era cena da minha infância. Passava tardes inteiras. E assim seguiram os anos até o dia da perda de meu avô. Já tinha me tornado um adulto, mas marcado indelevelmente pelo gosto musical de épocas passadas.



         No mesmo dia 26 de novembro de 1911 em que nascia meu avô, nascia também o compositor, poeta e ator Mário Lago. Autor de músicas inesquecíveis como Aurora e Amélia e de frases de efeito que marcaram a história do nosso país. Aí muitos podem estar se perguntando: “além da coincidência das datas de nascimento, o que mais havia de comum entre as duas pessoas citadas?”. E eu respondo mais uma vez. De uma certa maneira essas duas pessoas, Mário e Agenor, deixaram um legado que influenciou o gosto musical de alguns. No caso de Mário, sua produção cultural formou toda uma geração de brasileiros e suas frases são citadas como exemplos de vida e de otimismo. No caso de Agenor, seu gosto musical marcou esse que vos fala. Sem me preocupar com a quantidade de seres atingidos, pensemos que o sentido da vida seja esse. Deixar um legado. Influenciar de alguma maneira aqueles que virão após. Logicamente que pensando sempre em uma herança positiva. Bons exemplos deixam bons frutos. Eis aqui uma prova disso. Por isso nesse dia passei com os olhos marejados. E quando Nelson cantou: “Eu não sabia que doía tanto, uma mesa num canto, uma casa e um jardim. Se eu soubesse o quanto dói a vida, essa dor tão doída, não doía assim. Agora resta uma mesa na sala, e hoje ninguém mais fala do seu bandolim. Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim.”, não consegui segurar as lágrimas que marejavam meus olhos. Saudades. De Nelson de Mário e principalmente de Agenor.


Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 25/11/11

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Gil que estava certo

Alô leitores, aquele abraço!


Gil que estava certo


Voltando para casa hoje na hora do almoço, ou seja, àquela hora em que você pensa pouco e observa menos ainda, escutei um comentário de um amigo ao rádio que me chamou a atenção. O assunto que estava em pauta era o movimento de bandas do rock nacional que surgiram em Brasília na década de 80. Entre vários comentários surgiu o sentimento de saudosismo, pois alguns dos integrantes da discussão haviam vivido essa fase do surgimento das bandas de Bsb. Inclusive essa pessoa que vos escreve, que apesar de ser bem novo (reservo-me o direito de não revelar a minha idade), acompanhou o auge “contra revolucionário” de Legião Urbana, Paralamas e Capital Inicial. E realmente, quando penso nessa fase de minha vida, sinto uma saudade imensa e sempre imagino que esses fatos não voltarão a acontecer. Sinto também uma pena dessa nova geração que não viveu isso. Sinto mais pena ainda quando sei que eles viveram Britney, Justin, etc... E no meio da discussão nostálgica, surgiu uma frase célebre de Gilberto Gil que transcrevo agora: “O melhor lugar do mundo é aqui e agora. Aqui, onde indefinido, agora que é quase quando.”. Essas palavras me chamaram a atenção. Muito a atenção. Vamos nos ater a primeira parte da frase, visto que a segunda é um misto de liberdade poética com “Gilbertez”. Puxemos a análise. Quais foram os melhores anos da humanidade? Foram as décadas de 40 e 50 com seu charme quase inocente? Ou foi a de 60 com o estouro do Rock? Foi, por acaso, a de 70 com seu movimento Hippie? Ou foi a de 80, chamada de a década perdida? Discutir esse assunto talvez seja como discutir futebol. Cada um tem a sua razão. E se forçar a barra acaba em briga. Mas será que ter achado os anos 80 inesquecíveis nos impede de curtir o presente? Ou nos impede de ter desejado estar em Woodstock para um show de Hendrix? Aí entra a sabedoria do bom baiano Gil que nos mostra o contrário. O melhor lugar é onde você está e o melhor momento é o agora. Talvez, até transcendendo um pouco mais, o motivo se deva ao fato de você estar vivo. Imagina se você tivesse morrido na década de 80?!? Não estaria podendo curtir todo o desenvolver de uma geração. O fato de comemorarmos cada momento vivido é uma prova cabal de que estamos vivos. Morto é quem fica parado em um ano no passado. Quer seja porque não está realmente mais presente entre os vivos, quer seja porque deixou sua alma no passado. Além dessa análise “espiritual”, entendo que a capacidade de se atualizar é o maior desafio do mundo e do ser humano. Aquele que para no tempo, de certa forma morre. Isso não impede que eu cultive gostos de outras fases da vida, e nem tampouco impede que eu viva o momento presente com intensidade. As coisas podem ser feitas de maneira simbiótica e com isso enriquecer nossa vida. Há alguns dias atrás estava no carro com meus filhos quando começou a tocar uma regravação de “Boys don´t cry” do The Cure. Música gravada pela primeira vez em 1979 e depois regravada em 1986 pela mesma banda inglesa. Hit certo nas festinhas que estive presente quando adolescente (que não foram poucas). Minha filha imediatamente começou a cantar e eu questionei se ela sabia que aquela música era do tempo do papai. Ela disse que sabia, mas mesmo assim continuou cantando. Percebi então que aquela música já não era só do tempo do papai. Era também do tempo dela. As boas coisas da vida não têm limitação de tempo e nem de geração. Logo depois começou a tocar Beyoncé. Ela também cantou. Eu escutei. Vai ser difícil aquela música se tornar do meu tempo. Prometo me esforçar. Quem sabe ainda cumpro as palavras de Mestre Gil.      


 

Guilherme Augusto Santana
Goiânia, 18/11/11

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Eu voltei, voltei para ficar

Caros amigos

Segue uma fresquinha de sexta pós NYC.


Eu voltei, voltei para ficar



Viajar é bom não é? Eu também gosto. Aliás, conheço poucos que não gostam. Conhecer novas culturas ou mesmo reencontrar aquelas que te fascinaram é um convite a excitação. Experimentar comidas, bebidas, climas, línguas e costumes diferentes. Tudo de bom. Essa por exemplo que fizemos (eu, esposa e um casal de amigos) a New York foi fascinante. Talvez porque essa cidade, especificamente, seja a mais americana de todas. Ou talvez a menos americana de todas. Como assim? Lá vêm as confusões! Calma que explico. Se conseguir, claro!

De americana a cidade tem o funcionamento. Tudo funciona como um relógio. Sabe aquele passeio no Brasil que se chegar 15 minutos atrasado e passar uma babinha no atendente ainda consegue participar? Esqueça. Lá você perdeu, meu amigo. Isso privilegia os pontuais. E para isso você acaba tendo que se programar com antecedência. Em tudo. No domingo passado aconteceu a Maratona de New York. Foram mais de 40.000 atletas correndo. Pensa?! Agora imagina a quantidade de pessoas que vão só para acompanhar os atletas?! E a quantidade de gente que vai só para assistir?! Era literalmente uma cidade de pessoas envolvida no evento. E tudo com a maior organização. Nunca vi tanto policial na minha vida. Ruas fechadas. Voluntários a postos. Impecável. Ai você pode pensar: Vai ficar resquício de maratona na cidade por uma semana. Aí você se engana. Menos de 24 horas depois do evento não havia nada mais para contar a história. E o orgulho que a cidade tem do evento?! Desfilam pela cidade com suas medalhas de participação e são aplaudidos. Lojas concedem descontos. Nós fomos agraciados com um prato extra em um restaurante porque o amigo de viagem estava com a medalha da maratona. Os atletas não pagam o uso do metrô no dia da prova e tem seu transporte ao local da largada facilitado. Aí entramos num ponto bem americano da cidade: Os meios de transportes. Quer andar por NYC? Vá a pé ou de metrô. Nunca tinha me deparado com um sistema de metrô tão eficiente e rápido. De uma ponta da cidade a outra com um ticket. Complementa-se a facilidade de se situar dentro da cidade. Tudo correto. Ruas em sistema de xadrez. A Rua 57 é logo depois da Rua 56 (bem diferente de Goiânia). E também a prioridade é do pedestre. Os veículos esperam pacientemente que o transeunte atravesse a rua. Coisa de primeiro mundo. Só pegamos carro em duas ocasiões. Na chegada do aeroporto e na saída para o aeroporto. Um desastre. Trânsito caótico. Como em qualquer metrópole. Outra coisa marcante de americanismo é a paranóia com a segurança. Chega a ser irritante. Para ir aos principais museus e atrações da cidade é preciso passar por uma via crucis sem tamanho. Mostra o ticket de entrada dez vezes. Detector de metais. Revista a sacolas e mochilas. Tudo na mais perfeita rigidez. Fruto de uma cultura dominante que têm muitos a querer puxar seu tapete. Sem entrar em julgamento de mérito, mas pagam pelo imperialismo. Coisa de americano.

Agora de não americano temos a população. O motorista que nos trouxe do aeroporto era russo, e o que nos levou era indiano. Pronuncia do inglês de ambos? Péssima. Aliás, uma constante na cidade. Sabe aquele curso que você fez de inglês britânico? Vale de nada aqui. Quem domina os taxis são os indianos e paquistaneses. Os restaurantes são os mexicanos e demais latinos. O comercio de eletrônicos é judeu e chinês. Os fast foods de rua são dos iranianos e afegãos. E os brasileiros? Ah os brasileiros! Estão comprando tudo o que vêem pela frente. Coisas de moeda forte. Forante isso se encontram muitos Italianos e suas belas vestimentas, os franceses com sua praticidade, os alemães com sua imponência e por aí vai. Uma cidade cosmopolita. Quase uma torre de babel pós moderna. Todas as línguas se confundem. Todos os costumes se misturam. Em uma mesma barraca de fast food na rua você encontra falafel, tacos, pretzel e hot dog. É como se fosse um caldeirão prestes a explodir. Tudo regado a muita organização, diga-se de passagem. Todos se respeitando. Tanto os nativos quanto os turistas. Como se fossem uma população só. Coisas de primeiro mundo.

Como havia dito no começo da crônica, viajar é muito bom. Adquire-se uma bagagem imensa de conhecimentos e vivências que poderão ser utilizados em sua vida em diversas oportunidades, além do descanso do cotidiano diário. Depois da volta cansativa fomos recebidos no aeroporto com sorrisos e abraços. Palavras de carinho e saudade. E principalmente olhinhos infantis a espera de seus presentes. Abrimos as malas e distribuímos presentes. Mostramos as fotos e guardamos as memórias. Comemos uma comidinha caseira e contamos sobre as aventuras. Fomos dormir em nossa cama macia e aconchegante. A conclusão sempre é a mesma. Viajar é bom, mas voltar para casa é melhor ainda.         



 



Guilherme Augusto Santana

Terrinha, 11/11/11

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

coveiro internacional

caros leitores
Mando direto de New York.



COVEIRO INTERNACIONAL
Hoje, como muitos sabem, a crônica será escrita direto de New York. Sim caros leitores, o coveiro que vos fala está em terras de Tio Sam. Coveiro Internacional. Arrumei um tempinho entre uma batida de perna e outra para falar aos meus cativos leitores sobre as impressões que estou tendo da Big Apple. O que não são poucas. A começar pelo local onde estou instalado. Acreditem ou não, estou hospedado no apartamento que pertencia ao empresário musical Guilherme Araújo, que dentre muitos, esteve ligado diretamente a turma da Tropicália e ao garoto rebelde Cazuza. Só isso já seria, para mim, um motivo de muito orgulho. Os quadros e móveis foram conservados da época em que Guilherme ainda morava em New York. Se não bastasse isso, o edifício é vizinho de… adivinha?! Do Dakota Building!! Para puxarmos um pouco a memória, era onde John Lennon morava e foi assassinado em dezembro de 1980. É ou não é de arrepiar. É história na veia. Fugindo um pouquinho da parte histórica, gostaria de comentar algumas coisas que depois daremos um jeito de amarrar em nosso desfecho. Existem grandes colônias de estrangeiros na cidade, aliás, estamos dentro de um caldeirão de raças, cores e credos impressionante. São chineses, coreanos, indianos, palestinos, judeus, latinos, russos entre outros. Observa-se claramente isso nas ruas, metrô, restaurantes, museus e principalmente no marco zero do Memorial 9/11 do World Trade Center. Entre os mais de 2.000 nomes grafados nas piscinas onde ficava o WTC encontram-se nomes de todas as grafias possíveis, inclusive brasileiros. Outro lugar que o arrepio é inevitável. E inevitável também é não olhar para cima e vigiar os aviões sobrevoando o local, imaginando o dia da tragédia. Aí, caros leitores, entrarei no assunto principal da nossa crônica. Nota-se uma solidariedade muito grande com a tragédia passada pela cidade, por seus habitantes e pelas milhares de famílias que perderam os seus. E isso é extremamente natural. A solidariedade advém de uma comoção dolorida diante de uma tragédia tão amplamente divulgada. A pergunta que me fiz é: Será que os habitantes da cidade ficaram mais próximos dinte disso? Ou será que foi um ato isolado de solidariedade? Respondo pelas impressões que tive nesses poucos dias de observação. As pessoas ficaram mais desconfiadas. Cada um no seu mundinho e com seu fone de ouvido, vão transitando uns sobre os outros sem dar tempo para uma conversa furtiva. Não se conhecem e nem fazem questão. Cada um com sua desconfiança pessoal a imaginar o que o outro pode vir a ser ou fazer de mal a ela. A cidade onde as pessoas falam sozinhas. Cada um a sua língua. Aí entram nossos personagens de começo de crônica, Guilherme Araújo, John Lennon, as vítimas do WTC, os transeuntes no metrô… pessoas tão diferentes que escolhem a Big Apple para viver. Pessoas tão próximas e ao mesmo tempo tão distantes. Como se a cidade tivesse várias cidades. Uma para cada habitante. E como o tempo não para, corro a me arrumar para jantar. Qualquer restaurante magnífico, dessa esplendorosa cidade. Ainda bem que estou em boa companhia. Gosto muito de conversar. 

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Cuidareis de sua casa

Cuidareis de sua casa





Aproveitando o dia morno e parado pelo feriado do dia dos funcionários públicos, apesar de não o ser, fui beber direto da fonte da sabedoria. Coisas de sexta. Conversa sem pretensões e sem responsabilidades com uma das maiores cabeças pensantes do nosso país. Daquelas conversas que poderiam perfeitamente acontecer em um boteco ou mesmo em um restaurante caro na capital federal, logicamente diferindo o valor da conta a ser paga no final. Junto comigo no bate papo, encontrava-se meu pai, que tinha a mesma faixa etária de nosso interlocutor. Como sempre, começa-se a conversa com as amenidades e as perguntas do tipo “onde está fulano?”, “você tem visto sicrano?”, “bons tempos aqueles!”. E o cidadão que vos fala já na impaciência para adentrar logo ao assunto. Espera a deixa para introduzir o real motivo da conversa. E conversa vai. E conversa vem. Quando não obstante, entram no assunto de meio ambiente e progresso. O cidadão que vos fala, mudo. Lembra-se do ditado de que se tem duas orelhas e somente uma boca para escutar mais e falar menos. Vamos escutar. É nessas horas que percebo que a sabedoria está nas entrelinhas. Na frase dita com convicção que provoca uma reação em outrem. Mas não aquela reação cega de gado sendo espetado, mas sim aquela reação que te faz pensar. Aquela que te mostra um cenário diferente do que você considera o modelo perfeito. Aquela que harmoniza conceito e vivência. Mesmo que não seja o seu conceito e nem a sua vivência. Mas qual ponto de vista está correto? O seu ou o deles? A resposta é nenhum. Nem o do seu pai, nem o seu e nem o do seu filho. Ficou confuso? Imagina eu que tentava entender isso no meio da conversa?!?!



    

Cresci escutando sobre a fase de ouro de crescimento do país e de como demos um salto de desenvolvimento rumo ao progresso. Tudo em nome da natureza, afinal o homem também faz parte da natureza. Também escutei muito que as gerações de hoje se preocupam mais com os animais e as árvores do que com o ser humano e suas necessidades. Escutei também que o progresso do país está travado pelos ambientalistas ecochatos e suas ONG´s patrocinadas pelos países de primeiro mundo que não querem ver nosso país crescer. Discursos e discursos. Também cresci vendo os efeitos dos desmazelos com o meio ambiente. Esses eu tenho notado. Climas endoidecendo. População mundial crescendo. Miséria aumentando. Recursos naturais diminuindo. Talvez a minha geração seja a primeira a perceber isso. E não venhamos com idealismo de dizer que o fizemos por consciência. Não foi. Foi por necessidade. Por estarmos sofrendo na pele os primeiros efeitos da chamada deteriorização global. A minha geração não era sustentável, ela está tentando se tornar sustentável. As duras penas, diga-se de passagem. Então às vezes quando escuto as gerações anteriores dizerem que estamos exagerando e que estamos de certa forma impedindo o progresso do país, sinto um certo choque. Mas aí reside o ponto nevrálgico do parágrafo anterior. Quem será que está certo? Será que a geração anterior a de meus pais é que estava certa ou será a dos meus filhos? A resposta é a mesma. Nenhuma. E me reservo o direito de complicar mais um pouquinho. Todos estão certos. Aí que bagunçou mesmo né? Pois tento esclarecer. Cada geração agiu baseada no momento que estava vivendo. Reagiu às necessidades que se apresentavam para o instante. Coube a nossa geração enxergar que sem sustentabilidade, não chegaríamos a lugar nenhum. Aliás, essa geração chegaria ao fim, mas as próximas não teriam início. E como temos dois instintos muito fortes gravados em nosso DNA: Sobrevivência e perpetuidade, estamos tentando, volto a negritar, as duras penas, deixar um planeta mais consciente para os próximos. Isso é fácil? É rápido? Infelizmente não. A evolução é lenta e gradual. Mas tenho certeza que ela se refletirá nas futuras gerações. Vejo nos meus filhos a mudança. Isso é meu maior alento. Tenho certeza que um dia estaremos nos mesmos papéis que hoje me encontro com meu pai. E ficarei extremamente orgulhoso se eles pensarem que seu pai está ultrapassado e saudosista, como penso muitas vezes do meu. Sinal de que a evolução está acontecendo.     





 



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 28de outubro de 2011

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

sexo, drogas, rock and roll e smartphone

Se tem sexta, tem crônica. Parece engraçada mas não é.




Sexo, Drogas, Rock and Roll e Smartphone





Quinta feira como outra qualquer. Um amigo manda uma DM: vamos jogar squash? DM volta: 18hs? DM reretorna: combinado. Tudo certo. Essa modernidade é dez né? Agora achar alguém para buscar as crianças na escola. De duas uma eu acho. Ou a mãe das crianças ou a minha mãe. Liga para a minha. “Posso não meu filho!”. Peço p/ outra mãe. “Posso não marido!”. Das duas, nenhuma. Pensa rápido. Se sair mais cedo e correr, consigo buscá-los e ainda chego para o jogo. Tudo planejado vamos à ação. Veste a roupa de jogar para não perder tempo e sai em disparada para a escola. Manda DM para o amigo: atraso 15 minutos. DM volta: ok. Estaciona e desce correndo. Carteira fica no porta luvas porque a roupa de jogo não tem bolso. O celular tem que ir. Chega na sala dos meninos. Corre meninada! Sai menino com mochila e uma infinidade de badulaques. Vale salientar que o dia que você está com pressa e o dia que eles fizeram oficina artesanal e tem um caminhão de coisinhas para carregar. O pai sai em disparada parecendo uma mula de carga. Vale salientar também que o dia que você esta com pressa é o dia que seu filho não está com pressa. Chega no carro. Coloca os badulaques no chão e o celular no teto do carro para colocar cinto de segurança nos meninos. Amarra cinto, enfia mochilas no porta malas e os badulaques joga por cima dos meninos. Entra no carro. Vamos embora. “Papai estou com fome!”. “Não vou agüentar chegar em casa de tanta fome!”. “Quando chegar em casa sua mãe resolve isso.” No meio do caminho escuto um barulho seco na lataria do carro. Olho para trás. “O que foi isso?”. “Isso o que papai?”. “Esse barulho!”. “Não fomos nós.”. Então tá então. Segue o cortejo. Aí, do além, manifesta-se uma mania dos maníacos por internet. Leva a mão no celular. Cadê o celular? CADÊ O CELULAR?!?!?! Para o carro. Olha em todos os cantos. Nada. Aí vem aquele capetinha e sussurra ao seu ouvido: “sabe aquele barulho seco que você escutou? Era seu celular rolando pelo teto do carro e se esborrachando no chão, Mané!”. Volta o carro. Anda a pé. Procura. Nada. Volta ao carro. Meninos chorando de fome. Deixa os meninos em casa. Pega o celular da esposa. Volta ao local do crime. Liga no celular. Está chamando! Ninguém atende. Liga de novo. Ninguém! Liga e anda pela rua. Nada. Depois da décima ligada não toca mais. Sabe aquele toquezinho de que a pessoa do outro lado está fazendo uma ligação? Pois é. Oh meu Deus a pessoa que achou o celular já está fazendo ligação para as Bahamas! (isso foi o capetinha que sussurrou). Andei mais de hora procurando o celular. Nada. Olhava para as pessoas paradas na calçada e no ponto de ônibus e todas tinham cara de que estavam com meu celular no bolso e que tinham ligado para as Bahamas. Desisto. Volto para casa desconsolado. Não quero falar com ninguém. Desolado. Estalo. Entro no iCloud e localizo o celular! Você é um gênio!!!. Ligo o PC. Localizar celular. Localizando... celular desconectado. Ou acabou a bateria (improvável), ou alguém achou o celular e desligou, ou ainda pior, um carro o matou! Hora do óbito: 19:50 do dia 20/10/2011. Morreu.





Confesso que me senti órfão. É uma sensação esquisita. Praticamente toda sua vida está ali. Seus contatos, seus email, suas músicas, suas fotos, seu twitter, seu facebook, seu tudo! A sensação de invasão de privacidade é irremediável. Diria que é quase um estupro moral. Quando começa a bater a síndrome de abstinência eletrônica, você se dá conta do pior. Sou viciado nisso. Não consigo viver sem meu smartphone. Aí é o fundo do poço. Senti-me o pior dos seres humanos. Dependente de uma máquina. Mas como tudo na vida, temos que achar o lado positivo. O bom das fatalidades é saber analisá-las e absorver ensinamentos. Até que ponto as relações humanas estão ficando distantes com a tecnologia? O que era para estreitar distâncias por muitas vezes coloca barreiras. Será que somos seres humanos melhores com esse excesso de informações que não se consolidam em conceitos? Será que temos conceitos ou somente um amontoado de pensamentos alheios? Pensava nisso tudo enquanto via o carregador de baterias do celular abandonado no canto sem ninguém para repor a vida. Quantos órfãos de pais vivos teremos que consolar por conta da tecnologia?





      De manhã ainda tive o reflexo de olhar o carregador na tomada com esperanças de vê-lo lá pronto para o uso. Vazio. A mesma iniciativa das pessoas que vão ao cemitério no dia após o sepultamento para ver se é verdade. É verdade. Segue o cortejo. Resolvi. Não vou me apressar em comprar outro. Passei a manhã toda sem celular. Que tranqüilidade. Ninguém me ligando, nem passando mensagens, nem twitter, nem face. Nada. Nunca me senti tão liberto. Alforriado. Isso que é vida. Pouco antes do almoço passei na porta da loja da operadora de celular. Síndrome de abstinência. Parei. Só para olhar. Tremi. Comprei. Afinal é um vício pequeno perto de alguns que vejo por aí. Até me orgulho um pouco desse vício. Só um pouquinho. Prometo usar com moderação.  





Guilherme Augusto Santana
Goiânia, 21de outubro de 2011

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

A escolha de Sofia

aos que acompanham as vivências de um coveiro, segue uma do fundo da alma.

boa e chuvosa sexta a todos.


A ESCOLHA DE SOFIA





Depois que comecei a trabalhar no setor funerário, adquiri um hábito que tem deixado minha vida mais saudável e por conseqüência, mais feliz. Procuro não sair de casa de manhã antes que meus filhos acordem. Abraço-os sempre com muito entusiasmo. Pergunto como dormiram, apesar da resposta ser sempre a mesma. Pergunto se querem uma mamadeira, apesar de também saber que a resposta é certa. Depois disso me despeço e os deixo com suas atividades infantis. O sorriso estampado na face. No caso o meu sorriso. Pode parecer fato cotidiano, mas faz uma grande diferença. Recarrego minhas baterias afetivas e aproveito cada sentimento puro que emana deles. A relação do hábito adquirido com meu trabalho é obvia e entendo que não preciso discorrer muito sobre o assunto. Limito-me a dizer que já presenciei muitas separações definitivas e a dor que isso causa nas pessoas. Já que não podemos escolher como morreremos, podemos ao menos escolher como viveremos. E é exatamente esse o assunto que tratarei hoje: escolhas.

Essa semana me senti a própria Sofia do filme estrelado por Meryl Streep. Diante de uma escolha crucial e dilacerante. Aquela escolha que pai ou mãe nenhum gostaria de fazer. Aquela que causa arrepio a qualquer ser vivente. Qual filho abandonar? Qual dos filhos é o mais apto a sobrevivência? Quais as conseqüências permanentes dessa separação? Vou conseguir viver com essa dor? Calma a quem está achando que precisarei separar-me de Helena e Otávio. Não é isso. Estou me reportando à esfera profissional. Deixar um filho empresarial em detrimento de outro. Guardadas as devidas proporções, entendo que a sensação de perda e dor é profunda. Imaginem descobrir, planejar, gerir, dar a luz, embalar, alimentar, ensinar, amparar, dedicar e amar um empreendimento como um filho. Imaginaram? Agora imaginem ter que abandoná-lo em detrimento de outro filho que nasce, porque os dois juntos geram conflitos de interesses. Imaginaram? É essa a sensação. É essa a perda. E agora Sofia?

Essa semana, mais do que as outras, retardei minha saída de casa pelas manhãs. Curti cada sorriso e cada dengo. Medo. Medo de um dia ter que fazer uma escolha. Medo de um dia ter que abandonar um dos meus. Reflexo natural de pai que quer manter as crias debaixo da asa. Mas sei que escolhas estão por vir. São inevitáveis. E que ma maioria das vezes não dependem dos pais. Eles, os filhos, farão as escolhas. E cabe aos pais aconselhar e apoiar. E principalmente cabe a adaptabilidade de enfrentar as escolhas de peito aberto, porque um dia nos também as fizemos e de certa forma nos separamos de nossos pais. Temos que estar disposto a seguir vivendo. Mas enquanto as escolhas dependem de mim, opto por abraçá-los a cada manhã como se fosse a última vez. E torcendo sempre para que não seja.    





    



Guilherme Augusto Santana

14/10/ 2011

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Jobs por O Coveiro

Em primeira mão o obituário de Jobs por O Coveiro.
Segue o cortejo.


Poucos dias atrás, eu conversava com uma amiga sobre a arte da escrita dos obituários. Ela me recomendou um livro sobre o assunto e eu prontamente adquiri e comecei a desfrutá-lo. “O livro das Vidas” é uma compilação de obituários publicados no The New York Times e que demonstram com peculiaridades, um traço pitoresco da cultura americana. Confesso que como sou da área funerária, bateu-me a vontade de experimentar a arte e aproveito o falecimento de tão nobre figura do cenário mundial para fazer meu intróito. Espero que ele, o falecido, não leia.



Jobs por O Coveiro



Steve Paul Jobs nasceu em São Francisco, uma cidade sem preconceitos na ensolarada Califórnia, onde se toma um belíssimo vinho escutando jazz da mais alta qualidade, nos idos do ano de 1955. Esse fato parece até ironia, pois nesse mesmo ano morreria outro grande gênio da humanidade. Albert Einstein. Há de se imaginar que nada nesse mundo é por acaso. Filho de uma americana e um imigrante sírio, estava fadado ao insucesso quando seus pais o deram para adoção por não conseguirem pagar sua faculdade. Outra ironia do destino, pois ao que me consta, após a adoção, os altos custos da Faculdade do Oregon o fizeram abandonar os estudos. Talvez fosse seu destino vencer na vida sem o embasamento estudantil de uma faculdade americana. Talvez fosse melhor assim.

Nos idos dos anos 70, enquanto os hippies estavam pregando a paz e o amor livre, o pequeno Jobs criou a Apple, junto com o amigo Wozniak. Isso também não quer dizer que ele não tenha tomado LSD e participado de Woodstock, mas com certeza isso não queimou seus neurônios e nem o fez andarilho vendedor de pulseiras de fibra na praia. Menos mal. Se bem que algumas de suas criações pareciam estar sobre o efeito de alucinógenos. Deixemos de lado. A escolha da maça mordida como símbolo também não pareceu obra do acaso, visto que representa o pecado em forma de fruta. Deixemos de lado também. Entre encontros e desencontros, Jobs idealizou vários conceitos que iriam revolucionar o conceito do homem moderno sobre comunicação. E talvez essa rapidez e facilidade de comunicação o tenham colocado na berlinda da exposição mundial quando da sua doença. Convenhamos que Jobs era um quase desconhecido para a maioria da população mundial no começo dos anos 2000. Os seus inventos o fizeram ser personagem de um BBB de agonia. E talvez para sustentar esse sistema bilionário de tecnologia, ele tenha negligenciado sua saúde e apressado o seu encontro com a morte. Vai saber né?

Eu confesso que não gostava de Jobs até pouco tempo atrás, pois tive que carregar um Macintosh dentro da mochila, vindo dos Estados Unidos e quando cheguei no Brasil a porcaria não funcionava direito. Tudo bem que estávamos nos idos de 1994, mas não aplacou minha decepção com a Apple e com seu criador. Mas hoje vejo que o erro não estava em Jobs. O erro estava em nós, brasileiros, que não estávamos preparados para essa tecnologia. Hoje, com conceito mudado, nutro uma relação de amor com meus produtos Apple e consequentemente, nutro um respeito profundo por quem os criou. Logicamente se valer o meu testemunho pessoal.

Jobs faleceu em Palo Alto, na mesma Califórnia onde nasceu. Foi considerado o Rei do Vale do Silício. Deixa 8,3 bilhões de dólares de patrimônio. Um arqui-rival, Bill Gates. A esposa Laurene e quatro filhos. Além disso, deixa milhões de órfãos usuários de suas traquitranas que lutaram junto com ele para tentar vencer sua doença. Foi vencido pela morte física, mas deixa um patrimônio intelectual inapagável.

    



Guilherme Augusto Santana

07/10/ 2011