com a aproximação de mais um pleito eletivo desenterrei uma crônica escrita em 2006, mas que espelha ainda meu fascínio pela figura de JK.
espero que gostem
JK PROCURAM-SE OUTROS
Sempre tive um fascínio por Brasília desde a infância, quando visitava familiares que moravam na capital. Tudo muito espaçado, planejado, harmônico, limpo e principalmente grande. Passava horas a fio observando os prédios, as avenidas, a torre de TV, a Catedral e o Congresso. Talvez esse fosse um dos motivos que me fazia perder em Brasília toda vez que ia dirigindo à cidade: ficava meio embriagado com a beleza. Nenhum compromisso com hora marcada tinha mais importância do que apreciar aquelas formas de Oscar. Ficava imaginando quantos homens, burros, máquinas, suor, lágrimas e sangue haviam sido despendidos para realizar tamanha façanha. Imaginava também quanto preconceito, hesitação, crítica, menosprezo, macumba e outros que não sofreu Juscelino Kubitschek e sua equipe ao transladar a capital federal da cidade maravilhosa para o árido Planalto Central. Vocês conseguem imaginar a cara dos funcionários públicos que moravam na beira da praia, aos pés do Cristo Redentor, ter que se mudar para “o meio do mato”? Imagino que os que não se demitiram e partiram para a jornada devem ter ficado emburrados por anos, senão estão até hoje. E por esses e por outros motivos que crescia minha admiração por Oscar Niemeyer, Lúcio Costa, Israel Pinheiro e principalmente por JK.
Tinha anos que não entrava no memorial JK. Para ser sincero desde criança quando a escola patrocinava excursões para conhecer cidades históricas. Voltei lá estes dias. Acho que motivado principalmente pela “JK mania” que toma conta do Brasil. Realmente foi emocionante. Realmente é emocionante. Quem dera se todo homem ou mulher que teve importância histórica para o Brasil tivesse um templo como aquele, para mostrar às gerações futuras o quão importante foi sua contribuição para a formação de nosso país. Quem dera se houvessem mais minisséries, novelas e filmes para retratar a vida e a realização de pessoas que só conhecemos nos livros de história como Assis Chateaubriant, Getúlio Vargas, Luiz Carlos Prestes, Rui Barbosa, Santos Dumont entre outros. Seria um passo fundamental para que o povo brasileiro entendesse seu passado e as lutas que foram travadas para que o país chegasse à atualidade melhor do que foi. Porque o povo que não conhece , valoriza e aprende com seu passado não tem direito a futuro. O cidadão que passa pela rua Princesa Isabel e não entende sua importância histórica não merece estar alforriado.
Uma crônica seria ínfima para dissertar sobre tudo que JK realizou, pensou, idealizou, amou, traiu e construiu. Por isso existem as inúmeras biografias espalhadas pelas livrarias, inclusive as que ele mesmo escreveu. Portanto não me preocupo em narrar nada de espetacular ou inédito sobre a vida do Presidente, preocupo-me apenas em colocar minhas impressões e sentimento sobre esta figura que antes de tudo foi um homem na acepção da palavra. Um homem virtuoso e falível como todos. Mas que valorizava suas qualidades, potencializando-as acima de seus defeitos. Nada desta versão “pasteurizada” que a TV apresenta, como um super-herói que não erra. Pelo contrário. Juscelino tinha defeitos de “carrada”. Mas tinha virtudes ainda maiores. Um conquistador nato. Tanto de mulheres como de homens. Amigo dos seus amigos e também dos seus inimigos. Logicamente que nada sem interesse. Carismático e sorridente. Perseverante e flexível. Mas não era insensível. Chorou quando viu a represa da Pampulha romper e foi o único governador a estar presente no enterro de Vargas. Teve muitos amores e amantes, sendo que o Brasil foi o principal deles. Mas acima de tudo tinha coragem, e sonhava com um Brasil próspero, e tinha coragem de contar seus sonhos e mais ainda de colocá-los em prática. Um presidente como poucos, um homem raro.
Tenho um amigo, que por coincidência ou não, é conterrâneo do Presidente: cidadão de Diamantina. Em seu escritório grudado à janela, dando para o nascer do sol, existe um adesivo que toda vez que leio não posso deixar de me sensibilizar e refletir profundamente. Os dizeres são: “JK procura-se outro”. Eu acrescentaria um “m” e um “s” à frase: procuram-se outros. Porque nós não precisamos somente de um governante grande como JK. Nós precisamos, sim, de um povo grande que se assemelhe a JK.
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, 10/02/2006