Sininho e a síndrome de
Peter Pan
Não tem como deixar de escrever
sobre a morte do cinegrafista atingido por um rojão essa semana. Top dez nos
meios de comunicação do país e fora dele. Mas não se preocupem os leitores que
não farei apologia à liberdade de imprensa e nem ao absurdo do vandalismo black
blocs. Quero abordar um lado diferente.
Sem sombra de dúvidas os protestos
ocorridos no ano de 2013 e que se estendem por 2014 são representação fidedigna
da insatisfação da população para com seus governantes. E diria até com mais
profundidade, uma insatisfação consigo mesma, visto que os governantes
representam e são oriundos da mesma população. Mas esse é um tema que pode ser
tratado em outra ocasião com mais propriedade. Sem sombra de dúvidas também, os
protestos denotam a reação que há muito estava adormecida. Anestesiada.
Hibernada. E ai com toda certeza sabemos que sempre na História desse país, os
partidos, agremiações e movimentos ditos de esquerda, se aproveitaram dos
protestos para empunhar sua bandeira e gritar suas palavras de ordem contra o
capitalismo e coisas afins. Sempre vimos isso. E na maioria das vezes essas
infiltrações acabaram em confusão e pancadaria. Quando não ocorreram fatos mais
graves como sequestros, assaltos e assassinatos. Mas sempre em nome da
liberdade e com o manual de guerrilha de Che debaixo do braço. Quando da época
da ditadura militar, esses movimentos eram vistos com mais simpatia pelos mais
jovens. As teorias esquerdistas estavam se espalhando pelo mundo e tinham casos
de “sucesso” como Cuba, China e a ex U.R.S.S. para embasar a luta. Ainda
tínhamos o malvado Tio Sam a ajudar na alimentação do monstro capitalista
devorando a pobre classe proletária. Teorias e teorias que foram caindo por
terra. Naquela época existia um orgulho velado de ser revolucionário. Mas essa
juventude amadureceu. Hoje é a bola da vez do cenário político do país.
Guerrilheira que virou Presidente. Sequestrador que virou Ministro. E tantos
outros mais que brandiram as bandeiras vermelhas nos tempos de exceção. E como
essas pessoas chegaram até o poder? Como conquistaram a aceitação popular?
Explodindo bombas em protestos? Sequestrando e matando pessoas em nome da
liberdade? Não. Essas pessoas chegaram ao poder se aproximando do centro.
Tornando-se mais moderados. Notem que estou defendendo uma tese social e não
fazendo juízo de valores sobre a correção dessas pessoas. E a sociedade
amadureceu junto com esse processo. Hoje as pessoas querem ter o direito a
protestar sem interferência partidária política. E condenam a violência
infiltrada nesse direito de protesto. Todos percebemos isso. Não cabe mais em
nossa sociedade as barbáries cometidas por ambos os lados nos anos de chumbo.
Nós não aceitamos mais isso. Essas atitudes não nos representam. Então quando
vejo a atuação dos black blocs tenho a certeza que não são cabeças pensantes.
São buchas de canhão insufladas pelos velhos militantes da superada “esquerda
revolucionária”. E aí quando vejo essa cidadã apelidada de Sininho e quem
supostamente está por trás dela, só consigo pensar que existem pessoas que não
conseguem amadurecer. Vivem de passado. Querem continuar a brincar de Peter Pan
numa história onde o Capitão Gancho já morreu faz tempo.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 14 de fevereiro de 2014