De volta ao planeta dos
macacos
Desde a famosa expressão cunhada pelo
contista americano O. Henry, “República das Bananas” que não se fala tanto do
fruto tropical com tanta frequência como no último mês. Isso tudo graças à
atitude pitoresca do lateral da Seleção Brasileira e do Barcelona Daniel Alves.
Seu gesto de pegar uma banana atirada no campo, provavelmente com referência
racista, e comê-la foi no mínimo um estalo de genialidade. O que veio depois de
sua atitude foi uma avalanche de manifestações acertadas e erradas que colocam
a mostra um problema que a humanidade enfrenta desde sua existência. As
diferenças. Mas não quero e não devo aqui analisar pontualmente nenhuma destas
manifestações. Gostaria de falar sobre dois aspectos pouco explorados do evento,
quais sejam:
Enquanto a maioria aplaudia de pé a
atitude do jogador, uma reação foi destoante. A do pai de Daniel. Deixando de
lado o simbolismo do ato e a repercussão causada, o pensamento paterno acusou
para outra vertente do fato. E se a banana estivesse envenenada? Como você faz
isso menino travesso? Papai não te ensinou que não se deve aceitar doces de
estranhos? Vejam que outra atitude genuína. Que pai não se preocuparia? Que pai
quer ter um filho herói e morto? Penso que poucos ou nenhum. Quando li a
declaração do pai do jogador, fiquei em parte aliviado. Quando vi a cena pela
primeira vez tive o mesmo pensamento. Esse menino é doido? Pegar uma coisa do
chão e comer?! Quem é o pai dessa criança?! Por isso aplaudo de pé a atitude de
Seu Domingos. Se fosse meu filho daria a mesma bronca.
Outra faceta que me impressiona no
ocorrido é a velocidade com que as pessoas se manifestam sobre as coisas
ultimamente. Até quem não comia banana postou fotos com a mesma. De comuns a
artistas. Logo associaram aos macacos. Logo todo mundo era macaco. Logo muita
gente não gostou de ser macaco. Logo os religiosos não queriam estar associados
aos macacos. Logo os macacos disseram não serem humanos. Olha que miscelânea incrível.
Acho que nunca na História mundial se misturou tantos elementos como futebol,
bananas, macacos, religião, evolucionismo e internet. Fico extasiado como a
globalização nos dá oportunidade de discutir um assunto tão recorrente da
condição humana. Aí vem uma pergunta inevitável. Cenas como essa resolverão a
questão da discriminação racial? Com certeza não. Mas de qualquer forma estamos
falando e opinando sobre ela. E quando tivermos enfim resolvido essa parte,
virão outras discriminações como de gênero, sexo, ideologia, religião, cultura,
poder econômico e tantas outras. Mas uma coisa é certa. Não temos que tentar
acabar com nossas diferenças. Temos que tentar conviver e ser tolerantes com
elas. Imaginem o quão seria chato o mundo se todos fossem iguais?! E outra
coisa certa é que essa tolerância não se fará em sete dias, afinal não somos Deus.
E nem macacos.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 02 de maio de 2014