Olimpíadas
e Harvard
Assim
que começaram as derrotas brasileiras nas Olimpíadas, minha filha mais velha comentou,
em tom decepcionado, que o Brasil só perdia, diferentemente de outros como
China e Estados Unidos que arrebanhavam todas as medalhas. De certa forma ela
expressava, no seu entendimento infantil, o que milhões de brasileiros sentiam
ao ver escorrer entre os dedos os tão cobiçados louros olímpicos. O que tentei
explicar a ela partiu de dois pontos. O primeiro ponto expresso na máxima do
esporte em que somente um vence em detrimento de muitos outros que perdem. Faz
parte do processo. Não significando que os que ficaram pelo caminho não possuam
valor e não tenham dado o melhor de si na tentativa da conquista. O segundo
ponto com o buraco um pouco mais embaixo. O histórico cultural brasileiro de
não valorizar o esporte como formação do cidadão. Projetos de países bem-sucedidos
que investem na base, aqui no Brasil arranham e por vezes morrem de inanição. Se
não conseguimos ter nem uma educação de qualidade, quiçá uma integração
escola-esporte gerando resultados positivos. Não que sejam as medalhas tão
importantes para o nosso país. Não é isso. Essencial seriam os milhares de
brasileiros socialmente incluídos por trás de cada medalha. Logicamente que
tentei explicar todo esse equívoco histórico e cultural de maneira que aquela
criança pudesse entender, apesar de não deixar de compartilhar com ela aquela
sensação de decepção.
Depois
de alguns dias do fato narrado, conversávamos sobre educação quando a mesma filha
expressou o sonho de estudar Direito em Harvard e se tornar uma juíza penal.
Sonho recorrente. Não era a primeira vez que ela o expressava. Sim, ela só tem
10 anos. Não, o pai não enfartou. Passado a dor no peito que sempre acompanha
esses momentos, lembrei-me da conversa sobre olimpíadas. Disse a ela sobre a dificuldade
da seleção na universidade americana sem nunca desmerecer sua capacidade para
tal. E disse também que uma das chaves de entrada em tal almejado sonho era a
música. A princípio ela ficou sem entender a relação do direito com o piano,
mas logo relembrei o assunto do histórico americano de valorização do esporte e
da música. O piano poderia ajudá-la a realizar o sonho. Diferente aqui do
Brasil que provavelmente não a faria caminhar muito longe. Nesse momento me
bateu outra dor no peito como se estivesse abandonando meu país. Como se não
estivesse fazendo nada pela mudança, incentivando minha filha a estudar fora.
Mas de imediato veio o alento. Ela é a parte que me cabe dessa missão. Mudar a
cultura de um país pela educação. Plantar na mente fértil de nossos filhos a
árvore do conhecimento e do aperfeiçoamento. Só assim teremos seres melhores em
um país melhor.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 19 de agosto de 2016