sexta-feira, 19 de agosto de 2016

Olimpíadas e Harvard


Olimpíadas e Harvard

 

          Assim que começaram as derrotas brasileiras nas Olimpíadas, minha filha mais velha comentou, em tom decepcionado, que o Brasil só perdia, diferentemente de outros como China e Estados Unidos que arrebanhavam todas as medalhas. De certa forma ela expressava, no seu entendimento infantil, o que milhões de brasileiros sentiam ao ver escorrer entre os dedos os tão cobiçados louros olímpicos. O que tentei explicar a ela partiu de dois pontos. O primeiro ponto expresso na máxima do esporte em que somente um vence em detrimento de muitos outros que perdem. Faz parte do processo. Não significando que os que ficaram pelo caminho não possuam valor e não tenham dado o melhor de si na tentativa da conquista. O segundo ponto com o buraco um pouco mais embaixo. O histórico cultural brasileiro de não valorizar o esporte como formação do cidadão. Projetos de países bem-sucedidos que investem na base, aqui no Brasil arranham e por vezes morrem de inanição. Se não conseguimos ter nem uma educação de qualidade, quiçá uma integração escola-esporte gerando resultados positivos. Não que sejam as medalhas tão importantes para o nosso país. Não é isso. Essencial seriam os milhares de brasileiros socialmente incluídos por trás de cada medalha. Logicamente que tentei explicar todo esse equívoco histórico e cultural de maneira que aquela criança pudesse entender, apesar de não deixar de compartilhar com ela aquela sensação de decepção.

          Depois de alguns dias do fato narrado, conversávamos sobre educação quando a mesma filha expressou o sonho de estudar Direito em Harvard e se tornar uma juíza penal. Sonho recorrente. Não era a primeira vez que ela o expressava. Sim, ela só tem 10 anos. Não, o pai não enfartou. Passado a dor no peito que sempre acompanha esses momentos, lembrei-me da conversa sobre olimpíadas. Disse a ela sobre a dificuldade da seleção na universidade americana sem nunca desmerecer sua capacidade para tal. E disse também que uma das chaves de entrada em tal almejado sonho era a música. A princípio ela ficou sem entender a relação do direito com o piano, mas logo relembrei o assunto do histórico americano de valorização do esporte e da música. O piano poderia ajudá-la a realizar o sonho. Diferente aqui do Brasil que provavelmente não a faria caminhar muito longe. Nesse momento me bateu outra dor no peito como se estivesse abandonando meu país. Como se não estivesse fazendo nada pela mudança, incentivando minha filha a estudar fora. Mas de imediato veio o alento. Ela é a parte que me cabe dessa missão. Mudar a cultura de um país pela educação. Plantar na mente fértil de nossos filhos a árvore do conhecimento e do aperfeiçoamento. Só assim teremos seres melhores em um país melhor.   

           Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 19 de agosto de 2016