Seriam
os deuses vingadores?
Esses
dias saí pensativo do cinema. Não concluam os caros leitores que estava assistindo
algum filme cabeça. Pelo contrário. Estávamos, eu e meu filho mais novo, saindo
de uma seção do último filme da série Vingadores. Pois é. Primeiro devo
confessar minha meia ignorância em relação aos personagens oriundos dos
quadrinhos. Nunca fui um aficionado leitor de Marvel e nem DC Comics. Por conta
disso, o filho mais novo, teve que fazer um release de metade dos personagens
que eram por mim desconhecidos. Não obstante isso, era para ser uma tarde de
convivência entre pai e filho com direito a seção de filme de ação e milk-shake
de Ovomaltine. Quão engano da minha parte. Daí vem a explicação do “pensativo”
ao fim do filme, que me compeliu a, chegar em casa, abrir uma garrafa de vinho
e concatenar as ideias para escrever essa crônica. Tudo por conta do vilão.
Pasmem.
Sem
me preocupar com spoiler, Thanos, o antagonista da película, é um show de
personagem. Um vilão completamente diferente dos sanguinários e dementes
personagens que povoam essas séries de aventura e ação. O carisma do sujeito,
travestido com feições brutas, chega a comover quem acompanha o filme. Sua
objetividade e argumentação matemática aliada a falta de truculência e quase
gentileza fizeram-no o coadjuvante que sobrepôs os principais. Nada de Homem de
Ferro, Thor, Hulk ou Homem Aranha. Thanos surfou na onda da popularidade. E a
pergunta básica é porque? Sempre né? Pois vamos lá.
A
ideia do aumento desmedido da população mundial em detrimento dos recursos
naturais, não é novidade no pensamento humano. Não o primeiro a levantar essa
lebre, mas o mais famoso deles foi Thomas Malthus, um economista britânico que no
final do século XVIII já previa as catástrofes oriundas da superpopulação. Baseado
na teoria malthusiana, vimos, durante o transcorrer da História mundial, vários
personagens defenderem o extermínio indiscriminado de parte da população em
detrimento da outra. Isso anexado a fatores de ordem econômica, racial e ideológica
que pautaram a limpeza populacional. Não vamos longe ao citar que a teoria do
economista britânico permeou os pensamentos de várias figuras históricas como
Hitler, a dupla Marx e Engels, Darwin, Keynes e mais recentemente expresso por Dan
Brown no Best Seller “O Inferno”. Baseados na ideia da sobrevivência humana, defendeu-se
uma teoria de eliminação de parte da população. Matemático e preciso.
Assim
se apresentou o vilão Thanos roubando a cena e o filme propriamente dito. Sem
truculência e diria até, com um cavalheirismo quixotesco, foi eliminando seus
oponentes e rumando para o objetivo traçado. Eu assistindo aquela epopeia, mas
já vacinado quanto as teorias de Malthus, incomodei-me quando o filho sussurrou
em determinado momento, se referindo ao vilão: “sabe que ele tem razão?!”. Daquele
momento em diante parei de prestar atenção no enredo e comecei a raciocinar
sobre o fato em si, buscando uma maneira de levar um conceito vacinado àquela
mente indefesa e a mercê das ideias simplistas e vilanescas. E olha que demorou
terminar o filme porque, para os nécios em Marvel, existe uma tal cena oculta
após os créditos. E pensa nuns créditos compridos... quase um filme inteiro. Terminada
a tal cena extra, e após o filho explicar toda a sua teoria sobre o final surpreendente,
pude puxar o assunto e entender o pensamento da criança. De imediato comecei a
fazer questionamentos sobre as decisões a serem tomadas. Se realmente resolvêssemos
eliminar metade da humanidade, como seria esse caráter de seleção? Teria um
critério justo? Conseguiria a sensibilidade permitir essa eliminação
indiscriminada? Não teria o homem recebido do Criador a inteligência para
utiliza-la de maneira correta e não em soluções simplistas? Seria essa a forma
correta de lidar com o problema? Não deveríamos procurar uma solução mais
equilibrada?
Ao
final penso que o filho conseguiu assimilar um pouco das indagações e
internaliza-las. Como uma vacina que requer tempo de resposta, espero que ele
obtenha bons resultados. Não esquecendo de sempre reforçar a dose de proteção.
Quanto ao pai, saiu melhor do que entrou no cinema. Sempre aprendemos muito
quando ensinamos algo de transcendente aos filhos. E fica sempre uma pontinha daquela
sensação de pai super-herói, mesmo sabendo que não existem. Só não sei se Thor
ou Tony Stark.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 11 de maio de 2018