terça-feira, 25 de setembro de 2018

eles não


Eles não

 

          Na eminencia de uma nova eleição para presidente, e diante da situação periclitante da campanha, esse cronista resolveu, diferentemente de sua trajetória, opinar com maior veemência. Espero que o possa fazer de maneira democrática como é inerente ao nosso princípio constitucional, sem derramamento de sangue com facadas ou derramamento de ódio por represálias. Afinal é somente a opinião de um cidadão eleitor.

          Lembro-me da eleição de Fernando Collor. Recém egressos de períodos de chumbo, queríamos retomar as rédeas do nosso direito cívico depositando em urna a vontade de uma nação. Por isso tantos candidatos a esse protagonismo surgiram. Todos querendo ser esse que figuraria como o primeiro presidente pós regime de ditadura militar. E a eleição do então jovem político alagoano refletia isso. Um grito contido na garganta. O desenrolar da história mostraria que a decisão talvez não tenha sido acertada, mas era muita empolgação para um momento histórico. Talvez tenha faltado experiência, mas nunca juízo.

          E depois desse recomeço turbulento veio o sociólogo Fernando Henrique Cardoso. Nesse momento mais economista do que propriamente social. Era o que a população ansiava. A estabilidade econômica após malfadados planos Bresser, Verão, Cruzeiro, Cruzado Novo, congelamento de poupança, entre outras experimentações e aberrações. Era só isso que queríamos. Elegemos um presidente que representava essa estabilidade. Essa oportunidade de conseguirmos enxergar um futuro. Talvez tenha faltado opção, mas nunca juízo.

          Eis que surge o presidente mais popular do Brasil após JK. Não sem antes ter tomado um banho de loja, de bons modos e de ótimos marqueteiros. Era a esquerda, finalmente, assumindo as rédeas do país. O metalúrgico Luís Inácio Lula da Silva ascendia ao posto máximo da nação após várias tentativas. Era o triunfo da classe operária com aval do empresariado. Depois da estabilidade econômica viria o galopar rumo ao desenvolvimento e ao protagonismo mundial. Chegamos a sentir o gosto de sermos a bola da vez. Talvez tenha faltado clarividência, mas nunca juízo.

          A primeira presidente do Brasil foi festejada em verso e prosa. Passava da hora das mulheres assumirem esse papel principal. Mesmo que fosse uma mulher que batesse a mão na mesa como um homem. Para fugir da alcunha de fantoche, Dilma Rousseff bateu mais que a mesa podia suportar. Num presidencialismo de coalizão, a mesa precisa estar de pé, senão o presidente cai. E diante da sua falta de capacidade de articulação, característica primaz da natureza feminina, o seu mandato ruiu diante da crise financeira e institucional. Mais um impeachment no currículo do país. Talvez tenha faltado firmeza, mas nunca juízo.   

           E aí chegamos na encruzilhada da história brasileira. Literalmente em frangalhos. Só a capa do Batman e em pé de guerra. Os caminhos estão à nossa frente e precisamos decidir por onde ir. Direita de Bolsonaro ou esquerda de Haddad. Diametralmente opostos. Indubitavelmente incertos. Igualmente danosos. E diante do cenário pergunto: ainda temos tempo de optar por um caminho de centro mais equilibrado? Tenho medo da resposta e do resultado. Porque nesse momento não está faltando aos brasileiros experiência, opção, clarividência e nem firmeza, mas pelo visto está faltando juízo. 

         

   

           Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 27 de setembro de 2018