Sobre cores e opções
Hoje fui acometido de uma dúvida
atroz. Comentar ou me abster sobre a polêmica declaração da nossa nova Ministra
de Direitos Humanos e afins. Sabe aquela do “menino veste azul e menina veste
rosa”? Se não está ciente melhor pesquisar no youtube porque foi trend topics. A cena é no mínimo
hilária. Parece aquelas provocações de criança quando ganha no pique pega e
quer curtir com a outra. Tipo: “eu ganhei e você perdeu!! Ná, ná, ná, ná, ná!
Você é feio e bobo!! Ná, ná, ná, ná, ná!”. Mas, independente da cena cômica, a
minha dúvida em relação a escrever ou não sobre o assunto veio exatamente do
que dizer. Ou não dizer. Dizer da infantilidade da declaração? Falar sobre os
conceitos totalmente retrógrados? Que tal sobre a tolerância e respeito para
com a diversidade? Ou sobre o Estado laico? Talvez pudesse raciocinar no
sentido de coerência de discurso, afinal nada está sendo dito o contrario do
que foi prometido em campanha. Ou poderia dizer dos inimigos imaginários que o
governo se propõe a combater como a diversidade de gênero e o socialismo. Ou
poderia tentar explicar sobre definição de socialismo e de como estamos num
país capitalista selvagem. Ou mais ainda em como isso se torna uma cortina de
fumaça sobre o que realmente interessa para a população brasileira. Poderia dizer
que não esperava algo diferente? Ou seria pragmático demais? Será que poderia
dizer que tenho camisas rosas no meu armário e sou hetero? Ou isso causaria
mais desinteligência? Ou isso não tem nada de relevante? Poderia levantar a
fala de que o discurso de união confronta veementemente com esse tipo de
atitude revanchista? Afinal foi uma atitude revanchista ou infantil? Ou as
duas? Ou néscia? Ou inteligente? Podemos voltar à cortina de fumaça? Ela
encobre o que? O medo do governo de não “estar com essa bola toda” quando
tentar aprovar as reformas? De dar amplitude aos latidos dos cães enquanto a
caravana passa? Ou simplesmente porque estamos passando por uma fase “tentativa,
erro e acerto”? Poderia dizer que a isca foi lançada e nós mordemos? Que cada
enxadada será uma minhoca? Ou que teremos tempos bicudos pela frente? Poderia
dizer tanta coisa ao mesmo tempo para uma simples declaração? Ou não dizer nada
pela declaração irrelevante?
Ao final de toda essa algazarra de perguntas
e não respostas, resolvi perguntar a minha filha de treze anos o que ela tinha
achado da declaração. Talvez viesse daí uma luz. Sabe o que ela respondeu?
- Para uma Ministra de Direitos Humanos
ela está errada. Todos temos o direito de usar azul ou rosa. Eu uso o que eu
quiser. Até roupa transparente se quiser.
É isso. Na simplicidade a melhor
resposta. Voto com a relatora.
ps.
Papai não deixa sair de roupa transparente não. Foi só uma metáfora dela.
Espero.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, 04/01/2019