Desliga
e liga
Esses dias estava assistindo
alguns movimentos sociais pela volta do regime militar no Brasil, quando me
lembrei de imediato de um filme do Dwayne “The Rock” Johnson intitulado “arranha-céu”
que vi com meus filhos. Preciso antes esclarecer que não estou indicando que
assistam o filme. Estou citando-o só por uma questão de linha de raciocínio.
Pois bem. No final das contas (dando spoiler) o mundo é salvo de uma explosão com
um comando de resetar o sistema. Isso mesmo. O antigo “puxar o fio da tomada”.
Na época que assisti o filme recordei-me que essa máxima de desligar e ligar os
aparelhos eletrônicos me parecia muito simples, porém de extrema eficácia. Não
que isso pudesse ser usado para salvar a humanidade como aludia o filme, mas
para salvar grande parte de nossos problemas tecnológicos. Outra coisa que me
veio a recordação, era a grande felicidade que ficava quando o método dava certo,
e consequentemente não tinha que pesquisar soluções mais complexas ou levar o
equipamento ao técnico especializado. Mas aí não tarda a pergunta: O que isso
tem a ver com os movimentos pela volta do regime militar? Calma que vem a
explicação. Não é assim tão fácil.
Quando
vejo esses movimentos pelo retorno do governo militar e todas as consequências
que advêm dele, penso que os brasileiros acham que o país é um aparelho
eletrônico. Que basta resetar que volta a funcionar normalmente. Tipo assim. As
instituições não estão funcionando direito, o executivo quer julgar, o
judiciário quer legislar e o legislativo quer executar. Tudo errado. Solução? Desliga
da tomada e religa nossa democracia. Simples assim. Outra figurinha fácil. Nós
temos um problema crônico de corrupção no Brasil que está estampado em todos os
poderes, e com isso impede o país de avançar rumo as reformas estruturantes e
consequente progresso. Mais uma vez qual a solução? Reseta. Como se nesse
processo de derrubar e reerguer as instituições da democracia, pudéssemos
voltar às configurações de fábrica. Ou pior ainda, como se nesse processo de “desligar”
e “religar” pudéssemos resolver todos os problemas seculares do país. Seria
fácil se não fosse trágico.
Tudo
isso que foi descrito acima tem um nome: propensão ao fácil. Vejo isso como
parte da cultura brasileira. Essa ilusão de que as coisas vão se resolver de
uma hora para outra como num passe de mágica. Essa mania de simplificar
problemas complexos. Esse engano de achar que um messias descerá do céu e trará
a paz e o desenvolvimento que nós merecemos. E com essa propensão em curso as
faculdades mentais vão travando, fazendo com que percamos a capacidade de pensar
e buscar soluções para nossos problemas complexos. E com essa propensão
galopante a vontade do brasileiro vai se esvaindo, nos transformando num
exército de zumbis reclamantes à espera de uma solução milagrosa. Trágico esse
cenário né? Parece até o filme citado no começo da crônica. Porém, dessa forma
que estamos caminhando, não teremos final feliz para esse filme. Mas a solução
é fácil?
Sem
esforço não existe conquista. Esse é o resumo de tudo. Mas não é só o esforço
no dia a dia com nossos trabalhos e nossa capacidade produtiva, pois isso o
brasileiro tem de sobra. Precisamos de esforço para mudarmos conceitos errôneos.
Trocar entendimentos tortos que foram se arraigando em nossa cultura como
vermes sanguessugas. A propensão ao fácil é uma delas. Entender que temos
problemas crônicos em nossa democracia e que eles são complexos. São seculares.
Mas são passíveis de solução. Mas que tudo é um processo. Que as mudanças vêm
aos poucos através de um esforço coletivo constante. Ou entendemos isso ou
vamos ficar igual Sísifo e acabar queimando a nossa máquina de tanto desligar e
ligar.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 08 de maio de 2020