Macunaíma e Joaquim
No ano de 1928 um dos mais importantes
escritores brasileiros, Mario de Andrade, escrevia o romance modernista “Macunaíma”
que é considerado um dos marcos da literatura nacional. O personagem tema era
um índio nascido na floresta amazônica e que tinha uma fraqueza de caráter
inigualável. Traição, preguiça e mentira eram características desse, que foi
considerado o primeiro anti-herói nacional. Na verdade, como sugere a frase
inicial do livro: “no fundo do mato virgem nasceu Macunaíma, herói de nossa
gente. Era preto retinto e filho do medo da noite.”, ironicamente, o autor pretendia
sustentar que aquele representava o ideal de herói brasileiro. No fundo uma
velada crítica a miscigenação de raças e religiões que adornavam a sociedade
brasileira naquele início de século. A falta de caráter e principalmente a
preguiça escancarada de Macunaíma aqueceu o imaginário popular e em muito
contribuiu para o que Nelson Rodrigues chamaria mais tarde de “complexo de vira
lata”, no qual o brasileiro se considerava raça miscigenada e por isso menos
capaz que outros povos ditos puros. Mas não estamos aqui para analisar questões
literárias e sim para capturar esse personagem, Macunaíma, para compararmos com
outro que vem logo a seguir. Senão vejamos.
O assunto da semana que passou, foi a
posse do Ministro Joaquim Barbosa como Presidente do impoluto Supremo Tribunal
Federal, ou como carinhosamente chamam os brasileiros: “Supremo”. O primeiro
Presidente negro do STF. E o mais empolgante de tudo: por méritos próprios.
Joaquim se tornou pop. Capa de revista, jornal, blog, veículos nacionais e
internacionais. Assunto de mesa de boteco. Comparam-no com Batman (sem
conotação de homossexualidade). Cotaram-no para Presidente da República.
Pensaram-no para ajudar o Palmeiras a não cair para a segundona. Chamaram-no de
herói. Aí o ponto onde quero chegar. HERÓI. Um país que tem um histórico
recente de democracia e encontra poucas pessoas na vida pública que possam
encarnar essa tão importante veste. Seria Joaquim a antítese de Macunaíma?
Seria ele o anti anti-herói? Um homem de reputação ilibada e caráter reto? Será
esse o ideal de salvador da pátria que tanto ansiamos? Senão pensemos.
Isso tudo mereceria uma tese de
doutorado. Assunto vasto que merece dissecação acurada. Logicamente que seria
quase insano comparar um personagem plasmado em páginas de livro com uma pessoa
real de carne, osso e humanidade. Macunaíma foi criado para extremar a falta de
caráter a que pode chegar um ser. E por isso acho temeroso tentar fazer de
Joaquim o extremo oposto. O homem caráter. Reto e indefectível. Já observamos alias,
algumas manifestações de sua personalidade que não consideramos de todo
qualidades. Mas também não estamos aqui para analisar essa ou aquela atitude do
Presidente do STF, e sim para tentar entender o efeito que isso causa no
brasileiro. Aos poucos vai caindo por terra a tese de Nelson do cachorro vira
lata. Talvez até por conta de nossa miscigenação concentrada (Isso também
mereceria outra tese). Talvez porque a mistura de raças e culturas nos tenha
dado algo muito importante nos dias atuais de globalização. A famosa “adaptabilidade”.
E para quem nos chama constantemente de “República de bananas”, digo o
seguinte: Yes, nós temos bananas! E temos também Joaquim! Vai encarar?
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 23 de novembro de 2012