quarta-feira, 7 de novembro de 2012

Família, família

Uma confissão de amor a minha família e ao bem que ela me faz.



Família, família

 

            Canta Titãs: “Família, família, papai, mamãe, titia. Família, família, almoça junto todo dia. Nunca perde essa mania.”. Porém temos visto que esse conceito tem mudado ao longo dos tempos. Quer seja pelas novas estruturas não ortodoxas das famílias modernas, quer seja pela ciranda da vida moderna que impede a continuidade de seus ritos tradicionais. Em resumo, a instituição “família” em seu significado original, está se perdendo. Diria melhor. Está em fase de mutação. Eu me considero uma pessoa de sorte. Ainda tenho uma família tradicional. Pode parecer pretensão ou conservadorismo, mas orgulho-me ainda mais disso. Que atire a primeira pedra quem passou dos 30 e não viu seus conceitos se despirem do liberalismo de adolescente. Mas não entremos em polêmica. Hoje quero falar de família. Da minha. Ontem parte dela se reuniu. Comemoração. Alias tenho notado que ultimamente as famílias tem se reunido somente por dois motivos: Comemorações e velórios (sendo que a segundo não é permitido falar mal de ninguém). Voltemos. Comemorávamos o aniversário de um tio que não mora na cidade. Um médico errante. De homens e de almas como São Lucas. Uma pessoa muito querida por toda família. Mas quem não é? Cada um o é, a sua maneira. Tios, primos, filhos, netos, bisnetos, noras, mães, agregados e crianças. Criança não tem classificação. Apesar de que nessas mudanças de conceitos, elas, as crianças, estão se tornado cada vez mais dominantes. Ah e ia esquecendo a figura primaz! A matriarca. Aquela que tudo vê apesar de todos acharem que os detalhes lhe são alheios. Engano. Lá está ela sempre a observar e sorrir como que dando uma benção para toda aquela algazarra de gerações que se mistura entre comidas, bebidas e conversas. Cada um fala de suas experiências, vivências, mágoas e percepções da vida e de como a novela está chata. Enquanto isso, as garrafas de vinho vão sendo abertas e estancadas numa profusão de aromas que estimula cada vez mais a elevação do volume da conversa. Todos gritam, riem, gargalham e se entendem. Como se nada mais importasse em suas vidas a não ser aquele momento. Talvez quem olhe de fora não entenda que dialeto aqueles seres proferem, mas podem ter certeza que o entendimento se faz presente. Nem sempre por palavras, mas por laços de afeição. A velada linguagem dos sentimentos, que naquela mesa transborda. As crianças quebram o ritmo da conversa enfiando suas mãos nos tira gostos sobre a mesa como se fossem batatas fritas e sempre recebem reprimendas como se valessem de alguma coisa. Ora ou outra se escutam choros e brigas que logo se desfazem com uma boa conversa ao pé do ouvido: “se você não parar de brigar com seu primo nós vamos embora”. E nesse momento o que menos as crianças querem é deixar a brincadeira. Paro por um momento para observar toda essa profusão. Vejo muitas coisas. Sinto muitas coisas. Olho para a matriarca. Ela me olha. Sorri. Não sou o único a observar. Não sou o único a sentir. E as conversas continuam. E de repente, não mais que de repente, todos acordam da hipnose familiar e percebem que as horas já avançaram e que é necessário voltar para suas casa. Despedem-se com o compromisso de voltarem a se encontrar. As vidas retomam seus caminhos.

 

Hoje acordei com uma ressaca danada. Não do vinho, mas da saudade. Essa não se cura com água ou analgésico. Ela só vai passar quando nos reunirmos de novo. A família. Espero que seja breve.

 

Guilherme Augusto Santana

07/11/2012

santanagui@hotmail.com

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