quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

pego pela boca

saindo um pouco da rotina e coçando de vontade de comentar os assuntos da semana
 
 
 
 
Pego pela boca

 

            Abro mão do meu recesso cronístico (forçado pela carga excessiva de trabalho) para lembrar aos caros leitores um ditado popular muito falado pela minha querida mãe. Trata-se do: “quem fala demais, dá bom dia a cavalo”. Além disso, digamos que cocei de vontade de comentar o assunto da semana. Na verdade “o assunto” se divide em dois e que no final das contas se fundem em um só. Entenderam? Não?! Explico melhor.

            Um dos assuntos tem um caráter mais regional, porém sua repercussão chegou a pular o Rio Paranaíba (os goianos quando querem falar que a notícia deixou de ser regional, mencionam o rio de fronteira estadual). O recém-empossado Diretor do PROCON de Goiânia, sob forte tensão emocional, comentou no twitter que, fazendo reconhecimento de meliantes que haviam assaltado sua casa, percebeu que a grande maioria dos “fichados” na polícia tinha tatuagens. Ele poderia ter percebido uma série de outros fatores como a cor da pele, a estatura, a quantidade de olhos e orelhas ou outras características mais nos supostos meliantes. A questão foi tentar relacionar, em tom de desabafo, o crime com o uso da tatuagem. Como se fosse matemático. Estatístico. Chegou a citar Aristóteles para corroborar em sua teoria (o filósofo grego deve ter se remexido no túmulo). Gosto sempre de pensar que a pessoa agiu de boa fé. Que houve na verdade um mal entendido. E não vou agir diferente nesse caso. Entendo que o Diretor não quis chamar todos os tatuados de bandidos (muito menos os que têm uma cerejinha grafada nas nádegas). Nem acredito que ele tenha esse nível de preconceito tão baixo e démodé. Prefiro acreditar que foram palavras infelizes que tomaram uma repercussão maior que o próprio fato em si. Reverberadas pelas famosas e eficazes (para espalhar declarações equivocadas) redes sociais. Ai chegamos ao ponto que une os dois fatos. Primeiro vamos ao segundo episódio.

              Esse foi de caráter bem nacional. Digamos que de caráter midiático. O então participante goiano (só dá Goiás essa semana) do BBB 13, Dhomini, protagonizou uma declaração aterrorizante. Parecendo não ver que as câmeras o estavam acompanhando ou querendo causar algum tipo de sentimento visceral (prefiro a segunda opção), o ex-campeão do reality show declarou que certa feita tinha arrancado os dentes de um cachorro com um machado porque o mesmo o havia mordido. Pois bem. Por conta dessas e de outras, o participante foi eliminado (por votação popular) do programa e possivelmente responderá processo por maltratar animais. Da mesma forma que dei a dúvida pró-réu no primeiro caso, o faço no segundo. Não acredito que tenha acontecido realmente o relatado pelo moço, e sim, acho que foi uma inoportuna tentativa de chamar a atenção. Digamos uma mentirinha para ilustrar um caso ou tentar impressionar alguém. Acho que encaixa mais no perfil do nosso ex-ex BBB. Porém o caso foi amplamente divulgado e tivemos manifestações mil pelas redes sociais. Das sociedades protetoras de animais, Ministério Público e fabricantes de machados. A notícia correu a rede igual rastilho de pólvora. Aí entramos no cerne da questão. Junta-se ao que ocorreu ao Diretor do Procon e temos uma conclusão.

            Em tempos de internet, vale outro ditado. “Escreveu, não leu, o pau comeu”. Inocente ou não, as palavras podem se tornar navalhas cortantes e se voltarem contra quem as proferiu. Em tempos de redes sociais um pingo não é mais letra. É uma sentença inteira. E aqui vai meu puxão de orelha para os dois lados. Os que proferem pensamentos sem pensar nas consequências e os que reverberam o assunto de maneira vil sem se inteirar do real significado dos fatos. Inconsequência de ambas as partes. Precisamos fugir dos extremos. Precisamos caminhar para o centro, pois a maioria de nós, em determinados momentos da vida, já esteve dos dois lados. Do lado de quem disse o que não devia e do lado de quem criticou o que não precisava. Pensemos.

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, quarta feira 23 de janeiro de 2013