Pego pela boca
Abro mão do meu recesso cronístico
(forçado pela carga excessiva de trabalho) para lembrar aos caros leitores um
ditado popular muito falado pela minha querida mãe. Trata-se do: “quem fala
demais, dá bom dia a cavalo”. Além disso, digamos que cocei de vontade de
comentar o assunto da semana. Na verdade “o assunto” se divide em dois e que no
final das contas se fundem em um só. Entenderam? Não?! Explico melhor.
Um dos assuntos tem um caráter mais
regional, porém sua repercussão chegou a pular o Rio Paranaíba (os goianos
quando querem falar que a notícia deixou de ser regional, mencionam o rio de
fronteira estadual). O recém-empossado Diretor do PROCON de Goiânia, sob forte
tensão emocional, comentou no twitter que, fazendo reconhecimento de meliantes
que haviam assaltado sua casa, percebeu que a grande maioria dos “fichados” na
polícia tinha tatuagens. Ele poderia ter percebido uma série de outros fatores como
a cor da pele, a estatura, a quantidade de olhos e orelhas ou outras
características mais nos supostos meliantes. A questão foi tentar relacionar,
em tom de desabafo, o crime com o uso da tatuagem. Como se fosse matemático.
Estatístico. Chegou a citar Aristóteles para corroborar em sua teoria (o filósofo
grego deve ter se remexido no túmulo). Gosto sempre de pensar que a pessoa agiu
de boa fé. Que houve na verdade um mal entendido. E não vou agir diferente
nesse caso. Entendo que o Diretor não quis chamar todos os tatuados de bandidos
(muito menos os que têm uma cerejinha grafada nas nádegas). Nem acredito que
ele tenha esse nível de preconceito tão baixo e démodé. Prefiro acreditar que
foram palavras infelizes que tomaram uma repercussão maior que o próprio fato
em si. Reverberadas pelas famosas e eficazes (para espalhar declarações
equivocadas) redes sociais. Ai chegamos ao ponto que une os dois fatos.
Primeiro vamos ao segundo episódio.
Esse
foi de caráter bem nacional. Digamos que de caráter midiático. O então participante
goiano (só dá Goiás essa semana) do BBB 13, Dhomini, protagonizou uma
declaração aterrorizante. Parecendo não ver que as câmeras o estavam
acompanhando ou querendo causar algum tipo de sentimento visceral (prefiro a
segunda opção), o ex-campeão do reality show declarou que certa feita tinha
arrancado os dentes de um cachorro com um machado porque o mesmo o havia
mordido. Pois bem. Por conta dessas e de outras, o participante foi eliminado
(por votação popular) do programa e possivelmente responderá processo por maltratar
animais. Da mesma forma que dei a dúvida pró-réu no primeiro caso, o faço no
segundo. Não acredito que tenha acontecido realmente o relatado pelo moço, e
sim, acho que foi uma inoportuna tentativa de chamar a atenção. Digamos uma
mentirinha para ilustrar um caso ou tentar impressionar alguém. Acho que
encaixa mais no perfil do nosso ex-ex BBB. Porém o caso foi amplamente
divulgado e tivemos manifestações mil pelas redes sociais. Das sociedades
protetoras de animais, Ministério Público e fabricantes de machados. A notícia
correu a rede igual rastilho de pólvora. Aí entramos no cerne da questão.
Junta-se ao que ocorreu ao Diretor do Procon e temos uma conclusão.
Em tempos de internet, vale outro
ditado. “Escreveu, não leu, o pau comeu”. Inocente ou não, as palavras podem se
tornar navalhas cortantes e se voltarem contra quem as proferiu. Em tempos de
redes sociais um pingo não é mais letra. É uma sentença inteira. E aqui vai meu
puxão de orelha para os dois lados. Os que proferem pensamentos sem pensar nas consequências
e os que reverberam o assunto de maneira vil sem se inteirar do real
significado dos fatos. Inconsequência de ambas as partes. Precisamos fugir dos
extremos. Precisamos caminhar para o centro, pois a maioria de nós, em determinados
momentos da vida, já esteve dos dois lados. Do lado de quem disse o que não
devia e do lado de quem criticou o que não precisava. Pensemos.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, quarta feira 23 de janeiro de 2013
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