O furo do barco
Tenho acompanhado com certo receio
as últimas notícias sobre os negócios do empresário Eike Batista. Não por
investir em ações das famosas empresas “X” e muito menos ainda por parentesco
ou simpatia pessoal pelo mesmo. O que me preocupa é um sentimento de satisfação
de algumas pessoas pelo tremor nas estruturas de negócio do cidadão. Parece
assim que estão torcendo para dar errado. O que tenho escutado são comentários
do tipo “coitado, caiu na lista dos mais ricos do mundo” (em tom de deboche),
ou “bem feito” (em tom mais direto), ou ainda “tomara que quebre” (em tom de
praga mais que direta). Isso me preocupa. Não os negócios de Eike, que a meu
ver sofrem oscilações normais de mercado, mas essa cultura que paira sobre o
povo brasileiro. Muitos podem achar que exagero na análise, mas façamos um
teste. Pense em um empresário bem sucedido. Vamos lá não é difícil. Jorge
Gerdau, Norberto Odebrecht, Abílio Diniz, Antônio Ermírio de Moraes são alguns
exemplos. Qual o primeiro pensamento que vem a mente quando cito umas dessas
pessoas. Com certeza rico. Não bem sucedido. Com certeza sorte. Não
competência. Com certeza explorador. Não gerador de empregos. Com certeza
sonegador. Não pagador de impostos. Com certeza beneficiário das benesses do
governo. Nunca carregador da economia. Observaram? Esse é o pensamento geral. E
olha que estamos falando dos maiores empresários do país. Se você que está me
lendo agora é um empresário, deve ser vítima dos mesmos pensamentos. Vindo de
muitos dos seus funcionários, vizinhos e amigos. Porque carregamos a pecha de
ladrões e exploradores de mão de obra. Não entendo bem se esse comportamento
advém da apatia cultural herdada no nosso processo de formação como povo ou se
advém desse falso conceito de socialismo nos apresentado pós século XX. Só sei
que é um conceito errado. Eu pelo menos acho. Num país onde precisamos de
geradores de emprego, somos incentivados a sermos sustentados pelo Estado. De
geradores a consumidores. Uma sociedade voltada para o governo e não para seus
próprios cidadãos. Não estou querendo aqui dar um salvo conduto a todos os
empreendedores e empresários que temos, afinal em qualquer segmento da
sociedade temos joio e trigo. Assim também o temos entre a classe trabalhadora.
E nem, de forma alguma, desmerecendo quem optou ou foi optado por ser
trabalhador remunerado. Acho que a escolha depende de oportunidades,
capacitação e aptidão. Conheço muitos profissionais remunerados na iniciativa
privada ou no poder público que são competentes, aptos e felizes com o que
fazem. Exercem suas funções. Assim como conheço inúmeros empresários que amam
produzir e gerar emprego. E não estamos falando aqui de ganhos financeiros
também. Da mesma forma conheço vários trabalhadores assalariados que ganham
mais que muitos empresários. Mas não se tratando de importância e nem de
remuneração, do que tratamos então? Tratamos de uma noção retrógrada de que a
classe empresarial está lá por motivos vis. Por motivos alheios a sua
capacidade e competência. Até sorte imputam a eles. Preferem que venham se
juntar a mediocridade do que despontar e crescer. Isso me preocupa. Um país que
não valoriza seus empresários acaba matando sua economia de inanição. E no
final das contas estamos todos no mesmo barco. Não adianta cruzarmos os braços
e criticarmos quando o furo é do outro lado da embarcação, porque uma hora a
água vai chegar a nossos pés. E assim sendo, vamos todos afundar. Eu
sinceramente espero que Eike passe por essas turbulências e retome o caminho
que foi traçado por sua capacidade empreendedora. Assim como desejo a todos os
empresários que queiram se embrenhar por essas duras paragens. Porque com o
crescimento empresarial, cresce o país, cresce a renda, cresce o emprego e
crescemos todos nós.
* uma singela homenagem a todos os amigos
empresários, que assim como eu, seguem firmes e fortes nessa dura missão.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 14 de junho de 2013
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