Bem
amigos
Bem
amigos da Rede Bobo, estamos aqui para mais uma decisão de campeonato
eletrizante. O jogo promete e a torcida, que lota o estádio, está eufórica. Mais
de 200 milhões de pagantes nesse que é o maior público de todo o campeonato. O
Supremo Futebol Clube está sem ganhar campeonato há vários anos e a expectativa
de uma conquista é eminente. Esperamos que as regras sejam cumpridas e o jogo
transcorra de acordo com o fair play.
Os times se alinham para entrar no campo e passam ao lado da tão cobiçada taça.
Imponente, majestosa, com letras douradas grafadas na base: HC Honor Championship. O campeonato da
honra. Os jogadores passam ao seu lado admirando sua imperiosidade. Quem a
levará para casa hoje? Só após os 90 minutos saberemos. Os times neste momento
escutam o hino nacional e iniciam os cumprimentos. Compridos cumprimentos. É
muito “vossa excelência” para pouca excelência. Finalmente cada time se posta
do seu lado do campo e o juiz zera o cronômetro. E... está valendo!
O
jogo começa quente com uma tentativa de questão de ordem na canela que é logo
barrada pelo capitão do Supremo Futebol Clube. Os jogadores se levantam do
campo e fingem que nada aconteceu. Afinal são todos colegas e não vai ser uma
questãozinha de ordem que vai melindrar o jogo. A bola é passada de pé em pé.
Os jogadores parecem estar numa letargia contagiante. Ficam excessivamente com
a bola no pé. É muita individualidade para pouco coletivo. Parece que nem
treinaram. Tocam para o lado e fingem que o cronômetro está parado. Vamos
gente! O tempo vai acabar! Bola para frente! Eis que numa dividida dois
jogadores do mesmo time se desentenderam. Ihhh o clima fechou. É um xingamento
só. Aqui do alto da cabine de transmissão escuto palavras de baixo calão.
Parece que escutei até “mau sentimento”, “mau secreto”. Que é isso minha
gente?! Nunca, em toda minha carreira, tinha ouvido tão fortes palavras em jogo
tão formal. A torcida vai ao delírio. Chamam o juiz de ladrão. Os juízes na
verdade. Mas o jogo se reinicia e a bola continua de pé em pé.
Quando é fé se aproximam da
área. Um jogador tocando para o outro. Está bonito. A torcida fica de pé. Os
gritos de “chuta para o gol” ensurdecem o estádio. Estão dentro da grande área.
Preparando para o chute. O goleiro adversário já está no chão. Não vai sair nem
na foto. É agora! Vai chutar. Opa. Parece que houve uma divergência entre os
jogadores. Pararam para discutir alguma coisa. Gente! O gol! Chuta! A torcida
parece não entender. Gritam. Mas nada comove os jogadores em campo. Numa
atitude inusitada resolvem não chutar. Acordaram que jogo seja adiado?! Que é
isso?! A torcida arranca as cadeiras do estádio e lança ao campo. “Bando de
comprados!!!” vociferam. Mas nada comove os jogadores. Neste momento presencio
algo inimaginável quando do início do jogo. A bola ali solitária na marca da
cal e os jogadores saindo de campo abraçados. O estádio vem abaixo. Uma
gritaria ensurdecedora. Mas nada muda. As luzes do estádio começam a se apagar
e a torcida visivelmente decepcionada começa a ir embora. Esperam o próximo
jogo. Esperam. E enquanto esperam entram nossos anunciantes porque precisamos
faturar. Mas não saiam daí porque a seguir teremos novela e o BBB! Hoje tem
paredão e eliminação. Eu não disse prisão. Disse e-l-i-m-i-n-a-ç-ã-o. Rede Bobo
e você! Tudo a haver!
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, quarta feira 23 de março de 2018