Perdemos
É tanta coisa junta
misturada que chego a achar que estamos enlouquecendo. Se não bastassem os
rótulos pululando na frente de nossos olhos, ainda temos as redes sociais a
servir de caixa de eco para toda essa balburdia. Chego a acreditar que perdemos
a razão. E pior ainda: chego a achar que perdemos a sensibilidade. As duas
coisas que nos tornam seres racionais. Prelazia da Criação. Mas de instinto
estamos abarrotados. Saltam aos olhos. Escorrem pelas bocas. Saem pelos poros.
Exatamente aquilo que nos aproxima dos animais irracionais. Deixamos de ser
seres inteligentes e passamos a não ser. Não ser humanos.
Perde a razão quem classifica
seu interlocutor de burro. Somos frutos de conceitos e vivências que colhemos
na vida. Cada um no seu quadrado. E se quero convencer o outro a olhar o meu
quadrado, menosprezar o dele é burrice. Minha.
Perde a sensibilidade quem
usa a trágica morte para palanquear. Seja ideologicamente ou politicamente.
Perdeu. Arrancou do peito a razão de viver de quem se foi e de quem ficou. Puxou
junto o gatilho. Ficará sozinho na retórica vazia do palanque sem sentido.
Perde a razão quem
compara alhos com bugalhos. Pesa a vida humana na base da troca. Esse vale mais
que aquele e por isso aquele vale menos ainda. Visão míope de quem não enxerga
a individualidade e a coletividade. Uma coisa não exclui a outra. Todas têm
importância. Todos temos importância.
Perde a sensibilidade
quem menospreza a dor alheia. Motivo que deveria servir de abraço. Afago.
Porque suportar a perda sozinho é ver morrer qualquer esperança de vida. É
matar quem continua vivo.
Ao final, vendo esse
borbulhar de incoerências, gritos, intempestividades, disputas, vejo que perdemos
todos. Sinto e penso que perderam os que foram, e também os que ficaram. E
talvez seja isso que falte diante dessa cena dantesca. Utilizar o que ganhamos
de presente para nos distinguir. Que tal pensarmos sobre o assunto? Sinto que
pode funcionar.
Guilherme Augusto Santana
16/03/2018
santanagui@hotmail.com
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