O
menino, a bola e o perdão
Nada
mais comentado essa semana que finda, que o pedido de desculpas gilettiano do
menino Ney. Olha que a metáfora vem bem a calhar já que o mesmo cortou dos dois
lados. Ou seja, provocou reações ambíguas nas pessoas. Não sendo unanimidade, resta-nos
a análise.
Eu estava lá no intervalo do
Fantástico. Eu vi. Não me contaram. Querem que lhes diga o que senti? Emocionei-me.
Fiquei tocado por aquela mensagem. Achei-a de uma coragem fora do comum.
Logicamente que após o enternecimento, veio a razão ponderar os fatos. Uma
propaganda em cadeia nacional, o patrocínio milionário, uma certa presunção de ídolo
do povo, uma estratégia de marketing. Todos os fatos pulularam em minha mente e
a conclusão do positivismo ou não do ato não ficou claro. Resumindo. Fiquei
como a grande maioria dos brasileiros. Dividido. Talvez o fiel da balança tenha
sido a emoção que senti quando assisti o comercial. Quando a razão não consegue
julgar o fato, entregue-o a sensibilidade. Ela quase nunca erra. Não o
sentimentalismo barato da comoção. Mas aquela sensibilidade que vem do fundo da
alma. Essa manda pagar o cheque. E eu acabei pagando.
Mereço
ser crucificado por ouvir meu coração? O menino Ney o merece? Essa pergunta
pontuou minha análise sobre todo o processo. Não só o polêmico pedido de
desculpas, mas todo o processo que o jogador vem passando ao longo de sua
carreira e a nossa última frustrada tentativa de conquista do hexa. E a
conclusão que já tinha chegado é que Neymar não merecia essa pecha de
responsável. E muito menos ser execrado em praça pública. Suas deficiências
como jogador já estavam gerando consequências a sua carreira. O exagero de suas
quedas resultou em um exagero de memes, piadas, escárnios. Mas esse não foi o
maior dano. O arranhão em sua credibilidade como jogador restou na maior das consequências.
Brincadeiras de internet passam, mas as cicatrizes na credibilidade demoram a
sarar. E no fundo, no fundo, o pedido de perdão em cadeia nacional veio para
tentar resgatar um pouco dessa credibilidade perdida. Mas as consequências estão
aí. Visíveis. E com certeza um pedido de perdão, por mais sincero que seja, não
fará com que as mesmas cessem. Aliás, no meu entendimento, não há necessidade
desse pedido. Inócuo. Não concordo com o perdão de outrem. Agora a própria
redenção de Neymar, o auto perdão, essa sim importante, ele só obterá com o
tempo. Pensando e melhorando suas atitudes em campo, evoluindo como ser humano
e fazendo o que sabe melhor. Jogando futebol. Então... bola para frente menino!
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 03 de agosto de 2018