A
oportunidade e a empada
Hoje
a missão era espinhosa. Comprar castanhas para a esposa no mercado do centro da
cidade. Quem já o fez sabe das dificuldades que estou falando. Desde movimento,
trânsito, estacionamento, correria, impaciência e todos os obstáculos presentes
nas idas aos centros das grandes cidades. Muitas vezes me perguntei porque ir
ao centro e não comprar nos supermercados mais próximos de casa. Confesso que já
refleti sobre mil justificativas como qualidade do produto, rotatividade,
preço, mas no fundo não conseguia entender bem a força motriz que me conduzia a
tal ato instintivo. Hoje acho que comecei a descobrir.
Após
passar pela corrida de obstáculos inerentes à missão e conseguir alcançar o
objetivo traçado, deparei-me retornando ao estacionamento por um caminho menos objetivo.
Algo me levava por caminhos mais tortuosos dentro do mercado. Foi quando,
espantosamente, dei de cara com as famosas empadas do Alberto. Quem é glutão
por natureza como esse que vos escreve, tem uma certa idade, e mora em Goiânia
com certeza já provou ou ouviu falar de tal acepipe. E olha que estão naquele
local desde 1947! Não podiam esperar mais para serem devoradas. Assim o
pensamento defendeu a causa. E assim a faculdade de julgar deu veredito
procedente e sentei-me no banco à beira do balcão. Olhei as variedades e
questionei a moça do atendimento: “elas são grandes demais”. Eis que ela me
responde: “bom que enche a barriga”. Convenci-me. Eu e meu pensamento. A moça
era boa de argumento (quase a convidei para se juntar a mim na venda de jazigos
mas achei melhor não entrar no assunto). Escolhi uma de frango com guariroba.
Quem não sabe o que significa essa palavra de origem indígena, nada mais é que um
palmito amargo. Pensa que foi pouco. Escolhi outra de frango com pequi. Pequi vocês
sabem o que é né? É o acompanhamento mágico para frango e guariroba. Para quem
achava que era grande uma empada, fiquei com duas. Enchi a barriga. Para
arrematar uma coca bem gelada. Dá pequena que é para vocês não torcerem o
nariz. Afinal hoje é sexta né? Para finalizar mandei embrulhar uma de cada
variedade para levar para a esposa. Se ela descobre que comi empada no mercado
e não levei p/ ela... ai, ai, ai.
Saí
todo “cururu teitei” do mercado com a encomenda e a não encomenda. Aí vocês
devem estar se perguntando: e qual o objetivo do cronista com essa cena além de
nos passar vontade com a empada? Pois calma que eu respondo: Não perder as
oportunidades que a vida lhe apresenta. E não estou falando de empada nesse momento.
Estou falando de um abraço apertado em um filho, de um colo de mãe, de um mimo
para o cônjuge sem ele esperar, de um sorriso para uma pessoa andando apressada
na rua, de uma palavra amiga a um amigo. Estou falando dessas pequenas coisas
que muitas vezes deixamos passar por entendermos que são muito pequenas, mas
que ao final somadas, representam a essência de uma vida. Pois como ia dizendo,
saí do mercado carregando as encomendas, um sorriso largo e a sensação de ter
aproveitado a oportunidade quando a vida me ofereceu. Vai que eu morro amanhã
sem ter comido a empada do Alberto de novo né?
Fantástico! Meu pai me lavava pqra comer a empada do Alberto desde quando eu nem alcançava o balcão , no antigo mercado da rua 4, no centro de Goiânia.
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