quinta-feira, 26 de maio de 2011

Paixão: Otávio

Mais uma das antigas:

Carta de pai para filho


Meu querido filho,

Hoje o dia nasceu como de costume. Frio e seco. Começamos com o sol e com certeza terminaremos com as estrelas. Ou vice versa. Sábado. Ultimo dia da semana. Julho. Cinco. Dois mil e oito. Você não irá se lembrar do calor dos raios do sol desse dia, mas com certeza seu pai irá se lembrar. Você também não irá se lembrar do sorriso de sua mãe ao te ver pela primeira vez, mas seu pai irá se lembrar. E com certeza você não irá se lembrar do sabor das lágrimas que escorrerão pelo rosto, mas seu pai irá se lembrar. Seu pai irá se lembrar, meu filho, a partir desse dia, de cada gesto seu. De cada sorriso seu. De cada queda sua. De cada lágrima que for derramada, quer seja de tristeza ou de alegria.

Hoje o dia nasceu como de costume. Cheio de lições. Se valer o conselho, aproveite-as. Cada lição aprendida é um tombo que se evita. Primeira delas. O dia sempre amanhece mesmo que a noite tenha sido de trevas. E se algum dia você perder a esperança de que o sol virá, feche os olhos que seu pai encontrará sua mão para lhe guiar. Sempre. Como seu avô um dia o fez por seu pai e você irá fazer por seus filhos.

Hoje o dia nasceu como de costume. Repleto de gratidões. E a melhor coisa a se fazer é expressá-las. Não se esqueça um dia sequer de beijar sua mãe. Ela se transformou para te conceber. Ela abdicou para te ver nascer. Ela se dividiu para te ver crescer. E se algum dia você duvidar que ela te ame, abrace-a bem forte. O cordão umbilical que um dia levou vida à sua vida te lembrará que esse amor é incondicional. Sempre. Como sua avó um dia o fez por sua mãe e você verá sua esposa fazer por seus filhos.

Hoje o dia nasceu como de costume. Transbordando de missões. Pequenas e grandes. Possíveis e impossíveis. Reais ou simplesmente frutos da imaginação. Mas todas elas convergindo para o mesmo ponto. Ser feliz. Se alguma for em sentido contrário, duvide. E se em algum momento de sua vida você duvidar que seja capaz de alcançar a felicidade, lembre-se de Deus. Ele que acendeu em cada ser humano a centelha da felicidade e cabe a cada um de nós soprá-la.

Hoje o dia nasceu como de costume. Para a maioria das pessoas. Para seu pai não. Hoje o dia me pareceu mais claro. Mais colorido. Mais bonito. Talvez até chova. E você definitivamente não se lembrará dele. Mas não se preocupe. Seu pai se lembrará. Definitivamente se lembrará, porque nesse dia, a centelha da felicidade foi soprada mais uma vez. E o calor provocado por ela aquecerá o coração de seu pai por todos os dias de sua vida.

Bem vindo meu filho.





Guilherme Augusto Santana
Goiânia, 05/07/2008

<------------------------ esse é o responsável

quarta-feira, 25 de maio de 2011

Paixão: Helena


Segue uma das antigas:

Helena de Papai


                Conta a mitologia Grega que Helena era filha de Zeus, o deus supremo, e esposa de Menelau, irmão do rei de Micenas: Agamenon. Conta também que ela adquiriu a alcunha Helena de Tróia após ter sido raptada pelo príncipe de Tróia, Páris, o que provocou a famosa guerra dos 10 anos. Depois de sangrentas batalhas com vítimas famosas como Heitor, irmão de Páris, e de Aquiles, famoso por seu frágil calcanhar, a guerra teve fim com o não menos famoso episódio do cavalo de Tróia e a destruição total da cidade grega. Helena voltou para Micenas com seu marido e depois foi assassinada por uma serva, o que não vem ao caso neste instante. O que sempre me impressionou nesta lenda toda é que uma mulher possa ter provocado a maior guerra da Antiguidade, sendo contada em verso e prosa pelo poeta Homero em a Ilíada e a Odisséia. Tudo bem que ela era considerada a mais bela das mulheres e que no fundo o que os senhores da guerra pretendiam era dominar a cidade de Tróia e unificar o reino grego. Mas fica sempre esse lado lúdico e romântico de que o amor de um homem por uma mulher pudesse ter provocado uma guerra. E assim ela ficou conhecida.

       Como sempre vocês devem estar se perguntando onde quero chegar com toda essa história. Pois vou dizer. Hoje de manhã levantei em meu horário de costume e deixei dormindo em minha cama mãe e filha que tinham travado uma batalha a noite inteira para saber qual das duas dormia menos, ou qual sentia mais falta uma da outra. Fiz o café da manhã caprichado, como de costume às sextas-feiras, e comecei a me aprontar para sair. Foi quando me recordei de que naquele dia 25 de agosto era o primeiro aniversário de Helena, não a de Tróia, mas a de papai, que dormia profundamente após sangrenta batalha. Não resisti e com a ajuda de minha esposa fizemos uma tentativa de acordá-la para tentarmos cantar parabéns, mesmo sabendo que ela não entenderia o porquê dos ânimos exaltados. Foi quando aquela criança, ainda sonolenta, abriu um lindo sorriso de cinco dentes, e começou a fazer manha pedindo agrado, o que eu prontamente satisfiz. Naquele momento entendi que aquele sorriso de Helena realmente poderia levar qualquer homem à guerra, quer durasse 1 dia, 10 anos ou toda uma vida.  Entendi que o amor de pai para filha é algo incomensurável e incontrolável e que se ela estava completando um ano e eu já estava rendido, o que seria de mim quando ela fizesse 20 anos? Estaria morto e seco de amor. Seco a observá-la acordar toda manhã e sorrir recebendo mil beijos de seu pai que a ama profundamente. Tirei uma foto dela e de sua mãe de recordação com seus cabelos bagunçados. Uma foto que vai entrar para a história, não da mitologia grega, mas a história de um homem, seu pai, que nunca mais será o mesmo depois daquele sorriso.


Feliz primeiro aniversário minha filha.    


Goiânia, 25/08/2006

<-------- essa é a responsável

o coveiro metido a escritor

Se não bastasse um coveiro, ainda metido a escritor?! Só me faltava essa! É o fim do mundo mesmo. Mas quem me conhece sabe que a caneta entrou primeiro que a pá. As crônicas e a poesia sempre fizeram parte da minha vida. Para manifestar uma indignação ou para exprimir um sentimento contido. Para homenagear uma pessoa querida ou simplesmente para salientar uma notícia interessante. Tudo sempre foi motivo para escrever. Chorei muito escrevendo. Corei também. Sorri também. Engasguei também. Aliás, engasgar é o que acontece caso não plasme para o papel o que fica contido. A crônica sempre foi minha companheira fiel, mas não deixei de ter a poesia como amante e o twitter como paixão efêmera. No fim vale o que está escrito. Não importa o meio. Prometo nessa nova paixão (blog) relembrar coisas antigas e postar coisas novas. Espero que gostem. E se não gostarem lembrem-se dos sete palmos. Segue o cortejo.