sexta-feira, 23 de setembro de 2011

papai 24 hs

Iniciando os trabalhos primaveris, nada como uma crônica light. Espero que gostem.


PAPAI 24 HS



Estou aqui nesse primeiro dia de primavera tentando achar um tema para escrever essa crônica sexta feiral. O calor está de matar, o que atrapalha em muito a escolha do dito cujo. Penso que meu cérebro está derretendo. Ainda por cima tenho dois pinhecos fazendo algazarra do meu lado. Aí nesse ponto vocês vão me perguntar: “onde diabos você está?””No inferno?” Eu respondo que estou em minha casa. E os pinhecos são os meus. Aula? Hoje não tem. Vai entender esses calendários escolares. Secretária do lar? Arrumou suas coisinhas e se pirulitou. Mãe? Foi trabalhar. Tinha assuntos urgentes a resolver. Pai? Uai! Está aqui! Os meus assuntos urgentes? Melhor não responder essa pergunta. Corro o risco de dizer um palavrão. Mas como diz minha querida mãezinha: “deixa ferver com a espuma”. Aí, como vocês perceberam, sobrou para mim a função de babá. O problema é que eu insisto em trabalhar. Ligo meu computador e com meia palavra digitada um grita para ligar a banheira. O outro quer que eu coloque um filme. O que estava na banheira agora quer lanchar e o que estava assistindo o filme quer ir ao banheiro. Aí eles começam a se estapear e aquele texto que você está tentando ler, parece estar escrito em grego. Concentração. Presta atenção no trabalho. Opa, um minuto de silêncio... O que você está fazendo menino!?!? Jogando o sabonete no vaso sanitário!?!? As vezes eu acho que criança deveria ficar amarrada ao pé da mesa. Quando eles vêem que você está trabalhando, fazem questão de brincar perto. Do lado. Em cima. Querem aquela caixa que está na última prateleira da estante. Porque não podem brincar com os brinquedos que estão embaixo? Fora a sujeira. Espalham todas as coisas em todos os lugares possíveis. Olha vou ser muito sincero. Se você ainda não tem crianças é melhor parar de ler essa crônica agora. Depois não diga que não avisei.

Aí como vocês estão acostumados ao contraponto positivo em minhas crônicas (estou tentando achá-los), não poderia de forma alguma decepcioná-los. Falei à Helena, a mais velha, que fizessem de conta que eu não estava aqui. Para que brincassem como se estivessem somente os dois. Ela me respondeu muito simplificadamente: “Mas você está aqui papai. E quando você está aqui, nós gostamos de brincar com você. Filhos devem ficar perto de seus pais.” Toma! Vai mais! Como não parar para pensar? Como não olhá-los com os olhos diferentes e imaginar que esses pequenos seres além de dependerem de você, gostam incondicionalmente da sua presença? Eles te amam. Te querem. Te veneram. Te enlouquecem. Como não associar a entrada da primavera com essas pequenas flores que dependem do seu carinho para sobreviver? Aí o “paimonha” se rende. Onde estão as Pollys e os Hot Wheels? Quem ainda não tem crianças e me desobedeceu no parágrafo anterior e seguiu com a leitura, saiba de uma coisa importante. Não trocaria esses pinhecos por nada nesse mundo. Não tem dinheiro, nem fama, nem realização capaz de suplantar um sorriso deles. É isso.

E vou terminando essa crônica por aqui porque eles estão aqui no meu pé pedindo para fazer o lanche. E depois tem passeio de bicicleta e depois ler história....    



Guilherme Augusto Santana

Início da primavera de 2011




ps. Para não acharem que estou faltando com a verdade, segue a prova cabal.



sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mãe, não vou à casa da Tia Ernestina!

Como de costume, segue mais uma de sexta.
Podem comentar. Mata ninguém não. Mas se falarem mal da crônica lembrem-se da maldição do Coveiro.
bom fds a todos


Mãe, não vou à casa da Tia Ernestina!





Ao começar a ler essa crônica, talvez você imagine que o seu escritor não sabe o rumo que quer chegar. Nem se quer chegar. Mas não se preocupe. Na medida do possível tento fechar o raciocínio. Conta a história que por volta dos anos 1500, foi alçado a qualidade de Papa, o Cardeal Rodrigo Borgia, que estando empapado, passou a ser chamado Papa Alexandre VI. Para conseguir a eleição de pastor máximo da Santa Igreja Católica Apostólica Romana na época, Rodrigo lançou mão de todos os recursos, principalmente os mais sórdidos. Esse Papa tinha filhos (não me questionem esses dogmas). Um deles era a famosa Lucrécia Borgia que ficou famosa com a alcunha de pior mulher do mundo. E outro filho, Cesare Borgia, que foi a peça fundamental para que o pai conseguisse chegar a Papa, ficou imortalizado na obra “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel. Aí chegamos ao ponto que eu queria abordar. Maquiavel e sua teoria. Muitas vezes utilizamos expressões e pensamentos sem saber ao certo de onde vieram e em que circunstâncias foram proferidas. Todos vocês já devem ter escutado a expressão: “fulano é maquiavélico”. Parecendo com isso que o fulano seria o diabo em pessoa. Estou certo? Pois bem. Diante disso alguém se considera maquiavélico? Senão vejamos.

Vamos partir de uma das frases que define o maquiavelismo: “os fins justificam os meios”. Daí podemos traçar um raciocínio lógico. Veja se você se encaixa em uma dessas cenas. Cena 1: eu preciso enforcar aquele feriado para viajar com a namorada e estou sem coragem de falar com meu chefe. Chego de mansinho olho o porta retrato em cima da mesa e pergunto sobre os filhos e a esposa. Digo a ele da importância que a família tem na vida de um homem. Digo também da necessidade das horas de lazer na produtividade de um funcionário. Digo que gostaria de ter uma família linda como a dele. Por fim elogio sua gravata (que está ridiculamente descombinante com a camisa) e numa tacada só, com cara de pessoa zelosa pela manutenção da família, solicito o enforcamento do feriado. Mas olha, foi por uma causa justa. Se eu não fosse, a namorada ia com outro. Cena 2: Você precisa comprar um presente de aniversário para um filho de um amigo. Entra no shopping correndo (porque só tem 20 minutos de estacionamento grátis), pega o primeiro brinquedo que vê na sua frente, paga em dinheiro (cartão pode enrolar), fala para a empacotadora agilizar, pois você deixou o forno de casa ligado e sai correndo do shopping aos 19:45 do segundo tempo. Aí para justificar a compra de um quebra cabeça de 200 peças para uma criança de 1 ano, porque não teve tempo de ao menos olhar a indicação etária, você pensa: “um dia ele vai usar”. Ou “criança nem repara nessas coisas”. Ou ainda “tem gente que nem presente vai levar”. Mas olha, foi por uma causa justa. Não tinha trocado para pagar estacionamento. Cena 3: Você está no caixa do supermercado e tem uma senhora da melhor idade na sua frente pagando meia dúzia de coisas. Ela tira a niqueira (artigo que só as senhoras da melhor idade possuem) e começa a contar as moedas lentamente. Você com carne e cerveja dentro do carrinho e o celular tocando o tempo todo porque todos os seus amigos já estão na piscina. Aí você vê que ela ainda não começou a embalar as compras e começa a auxiliá-la com os saquinhos. Muito rapidamente você termina o trabalho e ela lhe agradece como se você fosse o super prestativo. Menino bem criado né? Mas olha, foi por uma causa justa. A churrasqueira já estava acesa. Cena 4: Sua mãe te chama, no domingo, para visitar a Tia Ernestina que mora naquele bairro lá onde Judas perdeu as botas. Você se recorda que sua tia faz um doce de casca de laranja que fica quase uma década na prateleira a espera de um otário para consumi-lo. Lembra também que toda vez que você vai visitá-la, ela abre aquele álbum velho e mofado com as fotos da sua mãe quando pequena te fazendo espirrar o resto do dia. Aí num átimo de segundo, você faz uma voz anasalada ao telefone com sua mãe e fala que acha que está gripando e que vai ficar debaixo das cobertas. Sua mãe, como toda mãe, vai se compadecer e lhe recomendar que não pegue friagem e tome canja de galinha. Aí para matar de vez você pede a sua mãe que lhe traga um pedaço daquele doce de casca de laranja delicioso da Tia Ernestina na volta. Mas olha, foi por uma causa justa. Sabia que certos tipos de ácaros podem matar?

Resumindo? Penso que no fundo no fundo, todos nós somos um pouco maquiavélicos. Quer seja pensando em nós mesmos, na carreira, na família ou até nas deficiências. Os métodos e maneiras que alçamos mão para alcançar nossos objetivos muitas vezes são camuflados na égide de uma boa causa. Será que as causas são somente justas, ou justas somente para nós? Pensemos.        







Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 09/09/2011


@santanagui

santanagui.blogspot.com


sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Eu sou Coveiro

Meninos e meninas
Segue abaixo mais uma crônica fresquinha desta sexta escaldante. Bom proveito e bom fim de semana.


Eu sou Coveiro





Geralmente os assuntos que movem as crônicas são suscitados por pequenos detalhes que vejo na rua. Tipo uma notícia, um fato inusitado ou uma coisa engraçada. A de hoje não foge à regra. Estava eu dirigindo meu carro na ida para o almoço, quando me deparei com um adesivo fixado em um carro com o seguinte dizer: “minha filha faz UFG”. Antes de mais nada, para os não goianos, esclareço que UFG nada mais é do que Universidade Federal de Goiás. Esclareço ainda que é uma faculdade pública e consequentemente não paga. Terminados os esclarecimentos voltemos ao tema. Após ler tal escrito fiquei me perguntando: qual seria o complemento subliminar da frase ao qual tinha a intenção de dizer o autor, e não teve “coragem” de fazê-lo? Seria: “minha filha faz UFG e a sua filha faz faculdade paga, seu bocó!”? Ou ainda: “minha filha faz UFG e sua filha nem faculdade faz, seu idiota!”? Quem sabe seria: “minha filha faz UFG e a sua filha fuma crack na esquina, seu irresponsável!”? Poderia ser até: “minha filha faz UFG e a sua filha até poucos dias atrás era filho, seu Mané!”? Nos meus devaneios “cronísticos”, recordei-me dos diversos adesivos que tinha observado e que tinham uma certa ligação com esse tipo de orgulho ofensivo/excessivo. Quem nunca viu um: “Sou Católico graças a Deus”? Ou um “Eu amo meu marido”? Ou ainda um: “presente dado por Deus”? E até o: “Kattlyyn Victtórya a bordo”? Qual seria a raiz dessa tentativa de exprimir orgulho de forma agressiva e emblemática? Não seriam essas tentativas uma faca de dois gumes? Não estariam essas pessoas discriminando ao invés de incluindo?

Gostaria antes de continuar, fazer-lhes uma confissão bem íntima. Eu fiz UFG! Um dos cursos mais concorridos: Engenharia Civil! Eu amo minha esposa! Meu carro não foi presente, pois ainda devo um monte de parcelas do financiamento! Não sou Católico, nem Evangélico, nem Espírita, nem Muçulmano e nem Nada! E por fim, meus filhos não tem nomes compostos com várias dobras de letras e mesmo assim os amo de paixão! Ufa... Desculpem o desabafo. Precisava fazer isso para me sentir melhor. Voltemos. Qual seria o motivo pelo qual as pessoas estão escancarando a sua “felicidade” aos quatro ventos? Seria carência de reconhecimento de realização pessoal?  

O que vou dizer agora não é criação minha, mas entendo como a verdade mais verdadeira dita sobre o homem. “O objetivo do ser humano é ser feliz”. E nessa busca as pessoas estão esquecendo que a felicidade se basta, ou seja, não precisa de outdoor para sua divulgação. O orgulho de um pai que tem sua filha universitária não deveria ser esfregado na cara de outro que não teve o mesmo sucesso. A sua felicidade devia lhe bastar. Ser expressa para quem lhe causou felicidade. E quem disse que a filha que fez faculdade será uma pessoa melhor do que a que ficou só no ensino básico? Ou que a filha que nem ensino teve? O mundo está cansado de exemplos de pessoas que venceram na vida com pouca ou nenhuma formação. E vamos mais longe. Quem garante que a pessoa que teve sucesso na vida será uma pessoa feliz? Também estamos cheios de exemplos de pessoas bem sucedidas e completamente infelizes. Penso que não precisamos dizer que estamos felizes, pois as feições de uma pessoa feliz são percebidas de longe. Não há necessidade de a esposa dizer que ama seu marido, pois seus atos dirão por ela. Essas manifestações exageradas, ao meu ver, soam mais como um mantra em busca da felicidade do que como expressão fidedigna da mesma. E vou me arriscar mais ainda. Acho que a evocação excessivamente orgulhosa das coisas funciona como repelente para sua concretização. Já dizia minha avó que traz olho gordo.

Para finalizar e corroborar com a minha tese, vou mandar fazer um adesivo com dizeres que a maioria das pessoas não teria o mínimo orgulho, mas que demonstra cabalmente que a felicidade pode estar onde menos se espera: “Eu sou Coveiro”. Tese sustentada. Só espero não atrair olho gordo. Por via das dúvidas vou plantar um pé de arruda no meu quintal.          







Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 02/09/2011



twitter.com/santanagui