PAPAI 24 HS
Estou aqui nesse primeiro dia de primavera tentando achar um tema para escrever essa crônica sexta feiral. O calor está de matar, o que atrapalha em muito a escolha do dito cujo. Penso que meu cérebro está derretendo. Ainda por cima tenho dois pinhecos fazendo algazarra do meu lado. Aí nesse ponto vocês vão me perguntar: “onde diabos você está?””No inferno?” Eu respondo que estou em minha casa. E os pinhecos são os meus. Aula? Hoje não tem. Vai entender esses calendários escolares. Secretária do lar? Arrumou suas coisinhas e se pirulitou. Mãe? Foi trabalhar. Tinha assuntos urgentes a resolver. Pai? Uai! Está aqui! Os meus assuntos urgentes? Melhor não responder essa pergunta. Corro o risco de dizer um palavrão. Mas como diz minha querida mãezinha: “deixa ferver com a espuma”. Aí, como vocês perceberam, sobrou para mim a função de babá. O problema é que eu insisto em trabalhar. Ligo meu computador e com meia palavra digitada um grita para ligar a banheira. O outro quer que eu coloque um filme. O que estava na banheira agora quer lanchar e o que estava assistindo o filme quer ir ao banheiro. Aí eles começam a se estapear e aquele texto que você está tentando ler, parece estar escrito em grego. Concentração. Presta atenção no trabalho. Opa, um minuto de silêncio... O que você está fazendo menino!?!? Jogando o sabonete no vaso sanitário!?!? As vezes eu acho que criança deveria ficar amarrada ao pé da mesa. Quando eles vêem que você está trabalhando, fazem questão de brincar perto. Do lado. Em cima. Querem aquela caixa que está na última prateleira da estante. Porque não podem brincar com os brinquedos que estão embaixo? Fora a sujeira. Espalham todas as coisas em todos os lugares possíveis. Olha vou ser muito sincero. Se você ainda não tem crianças é melhor parar de ler essa crônica agora. Depois não diga que não avisei.
Aí como vocês estão acostumados ao contraponto positivo em minhas crônicas (estou tentando achá-los), não poderia de forma alguma decepcioná-los. Falei à Helena, a mais velha, que fizessem de conta que eu não estava aqui. Para que brincassem como se estivessem somente os dois. Ela me respondeu muito simplificadamente: “Mas você está aqui papai. E quando você está aqui, nós gostamos de brincar com você. Filhos devem ficar perto de seus pais.” Toma! Vai mais! Como não parar para pensar? Como não olhá-los com os olhos diferentes e imaginar que esses pequenos seres além de dependerem de você, gostam incondicionalmente da sua presença? Eles te amam. Te querem. Te veneram. Te enlouquecem. Como não associar a entrada da primavera com essas pequenas flores que dependem do seu carinho para sobreviver? Aí o “paimonha” se rende. Onde estão as Pollys e os Hot Wheels? Quem ainda não tem crianças e me desobedeceu no parágrafo anterior e seguiu com a leitura, saiba de uma coisa importante. Não trocaria esses pinhecos por nada nesse mundo. Não tem dinheiro, nem fama, nem realização capaz de suplantar um sorriso deles. É isso.
E vou terminando essa crônica por aqui porque eles estão aqui no meu pé pedindo para fazer o lanche. E depois tem passeio de bicicleta e depois ler história....
Guilherme Augusto Santana
Início da primavera de 2011
ps. Para não acharem que estou faltando com a verdade, segue a prova cabal.