sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Mãe, não vou à casa da Tia Ernestina!

Como de costume, segue mais uma de sexta.
Podem comentar. Mata ninguém não. Mas se falarem mal da crônica lembrem-se da maldição do Coveiro.
bom fds a todos


Mãe, não vou à casa da Tia Ernestina!





Ao começar a ler essa crônica, talvez você imagine que o seu escritor não sabe o rumo que quer chegar. Nem se quer chegar. Mas não se preocupe. Na medida do possível tento fechar o raciocínio. Conta a história que por volta dos anos 1500, foi alçado a qualidade de Papa, o Cardeal Rodrigo Borgia, que estando empapado, passou a ser chamado Papa Alexandre VI. Para conseguir a eleição de pastor máximo da Santa Igreja Católica Apostólica Romana na época, Rodrigo lançou mão de todos os recursos, principalmente os mais sórdidos. Esse Papa tinha filhos (não me questionem esses dogmas). Um deles era a famosa Lucrécia Borgia que ficou famosa com a alcunha de pior mulher do mundo. E outro filho, Cesare Borgia, que foi a peça fundamental para que o pai conseguisse chegar a Papa, ficou imortalizado na obra “O Príncipe” de Nicolau Maquiavel. Aí chegamos ao ponto que eu queria abordar. Maquiavel e sua teoria. Muitas vezes utilizamos expressões e pensamentos sem saber ao certo de onde vieram e em que circunstâncias foram proferidas. Todos vocês já devem ter escutado a expressão: “fulano é maquiavélico”. Parecendo com isso que o fulano seria o diabo em pessoa. Estou certo? Pois bem. Diante disso alguém se considera maquiavélico? Senão vejamos.

Vamos partir de uma das frases que define o maquiavelismo: “os fins justificam os meios”. Daí podemos traçar um raciocínio lógico. Veja se você se encaixa em uma dessas cenas. Cena 1: eu preciso enforcar aquele feriado para viajar com a namorada e estou sem coragem de falar com meu chefe. Chego de mansinho olho o porta retrato em cima da mesa e pergunto sobre os filhos e a esposa. Digo a ele da importância que a família tem na vida de um homem. Digo também da necessidade das horas de lazer na produtividade de um funcionário. Digo que gostaria de ter uma família linda como a dele. Por fim elogio sua gravata (que está ridiculamente descombinante com a camisa) e numa tacada só, com cara de pessoa zelosa pela manutenção da família, solicito o enforcamento do feriado. Mas olha, foi por uma causa justa. Se eu não fosse, a namorada ia com outro. Cena 2: Você precisa comprar um presente de aniversário para um filho de um amigo. Entra no shopping correndo (porque só tem 20 minutos de estacionamento grátis), pega o primeiro brinquedo que vê na sua frente, paga em dinheiro (cartão pode enrolar), fala para a empacotadora agilizar, pois você deixou o forno de casa ligado e sai correndo do shopping aos 19:45 do segundo tempo. Aí para justificar a compra de um quebra cabeça de 200 peças para uma criança de 1 ano, porque não teve tempo de ao menos olhar a indicação etária, você pensa: “um dia ele vai usar”. Ou “criança nem repara nessas coisas”. Ou ainda “tem gente que nem presente vai levar”. Mas olha, foi por uma causa justa. Não tinha trocado para pagar estacionamento. Cena 3: Você está no caixa do supermercado e tem uma senhora da melhor idade na sua frente pagando meia dúzia de coisas. Ela tira a niqueira (artigo que só as senhoras da melhor idade possuem) e começa a contar as moedas lentamente. Você com carne e cerveja dentro do carrinho e o celular tocando o tempo todo porque todos os seus amigos já estão na piscina. Aí você vê que ela ainda não começou a embalar as compras e começa a auxiliá-la com os saquinhos. Muito rapidamente você termina o trabalho e ela lhe agradece como se você fosse o super prestativo. Menino bem criado né? Mas olha, foi por uma causa justa. A churrasqueira já estava acesa. Cena 4: Sua mãe te chama, no domingo, para visitar a Tia Ernestina que mora naquele bairro lá onde Judas perdeu as botas. Você se recorda que sua tia faz um doce de casca de laranja que fica quase uma década na prateleira a espera de um otário para consumi-lo. Lembra também que toda vez que você vai visitá-la, ela abre aquele álbum velho e mofado com as fotos da sua mãe quando pequena te fazendo espirrar o resto do dia. Aí num átimo de segundo, você faz uma voz anasalada ao telefone com sua mãe e fala que acha que está gripando e que vai ficar debaixo das cobertas. Sua mãe, como toda mãe, vai se compadecer e lhe recomendar que não pegue friagem e tome canja de galinha. Aí para matar de vez você pede a sua mãe que lhe traga um pedaço daquele doce de casca de laranja delicioso da Tia Ernestina na volta. Mas olha, foi por uma causa justa. Sabia que certos tipos de ácaros podem matar?

Resumindo? Penso que no fundo no fundo, todos nós somos um pouco maquiavélicos. Quer seja pensando em nós mesmos, na carreira, na família ou até nas deficiências. Os métodos e maneiras que alçamos mão para alcançar nossos objetivos muitas vezes são camuflados na égide de uma boa causa. Será que as causas são somente justas, ou justas somente para nós? Pensemos.        







Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 09/09/2011


@santanagui

santanagui.blogspot.com


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