sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Nelsons, Mários e Agenores

Saudades Caros Leitores... saudades



Nelsons, Mários e Agenores



“ Naquela mesa ele sentava sempre e me dizia sempre o que é viver melhor. Naquela mesa ele contava histórias que hoje na memória eu guardo de cor”. Coisa que faço as sextas é escutar música ao invés de jornalismo. Esta sexta passei o dia ouvindo Nelson Gonçalves. Aí muitos vão se perguntar: “ou o Coveiro está ficando doido ou ele mentiu sua idade”. E eu confesso. Escuto Nelson Gonçalves! E gosto! Escuto também Ataulfo Alves, Adoniram Barbosa e Francisco Alves. Pronto falei! Passei o dia também com os olhos marejados. Amanhã, se estivesse entre nós, meu avô Agenor faria 100 anos. E foi ele que me ensinou a gostar das vozes melódicas dos cantores de serenata. Por isso passei o dia escutando Nelson. Para tentar matar um pouco da saudade.



         Lembro-me com clareza de chegar a sua casa e correr direto para a estante de madeira da sala. Madeira de verdade, escura, encerada. Não essas porcarias de compensado que temos hoje em dia. Abria logo as portas pesadas e ficava namorando os discos de carvão com rotação diferente. Olhava as capas e ficava imaginando quem eram as pessoas que estavam estampadas nelas. Impreterivelmente estava tocando alguma coisa e o som, na maioria das vezes, chiado. Mas para mim soava como límpido. Soava como música de casa de avô. Coisas de cabeça de menino. Escutava aqueles vozeirões e sentia o cheiro da madeira e das coisas guardadas que só casas de avós têm. Tinha também café e biscoito de queijo. Esses por alcunha de minha avó Natália. Sentava a comer e a observar o relógio cuco que se misturava a voz de Nelson, Ataulfo, Adoniram e Chico Alves. Para quem visse de fora poderia parecer uma cena Dantesca, mas para mim era cena da minha infância. Passava tardes inteiras. E assim seguiram os anos até o dia da perda de meu avô. Já tinha me tornado um adulto, mas marcado indelevelmente pelo gosto musical de épocas passadas.



         No mesmo dia 26 de novembro de 1911 em que nascia meu avô, nascia também o compositor, poeta e ator Mário Lago. Autor de músicas inesquecíveis como Aurora e Amélia e de frases de efeito que marcaram a história do nosso país. Aí muitos podem estar se perguntando: “além da coincidência das datas de nascimento, o que mais havia de comum entre as duas pessoas citadas?”. E eu respondo mais uma vez. De uma certa maneira essas duas pessoas, Mário e Agenor, deixaram um legado que influenciou o gosto musical de alguns. No caso de Mário, sua produção cultural formou toda uma geração de brasileiros e suas frases são citadas como exemplos de vida e de otimismo. No caso de Agenor, seu gosto musical marcou esse que vos fala. Sem me preocupar com a quantidade de seres atingidos, pensemos que o sentido da vida seja esse. Deixar um legado. Influenciar de alguma maneira aqueles que virão após. Logicamente que pensando sempre em uma herança positiva. Bons exemplos deixam bons frutos. Eis aqui uma prova disso. Por isso nesse dia passei com os olhos marejados. E quando Nelson cantou: “Eu não sabia que doía tanto, uma mesa num canto, uma casa e um jardim. Se eu soubesse o quanto dói a vida, essa dor tão doída, não doía assim. Agora resta uma mesa na sala, e hoje ninguém mais fala do seu bandolim. Naquela mesa tá faltando ele e a saudade dele tá doendo em mim.”, não consegui segurar as lágrimas que marejavam meus olhos. Saudades. De Nelson de Mário e principalmente de Agenor.


Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 25/11/11

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Gil que estava certo

Alô leitores, aquele abraço!


Gil que estava certo


Voltando para casa hoje na hora do almoço, ou seja, àquela hora em que você pensa pouco e observa menos ainda, escutei um comentário de um amigo ao rádio que me chamou a atenção. O assunto que estava em pauta era o movimento de bandas do rock nacional que surgiram em Brasília na década de 80. Entre vários comentários surgiu o sentimento de saudosismo, pois alguns dos integrantes da discussão haviam vivido essa fase do surgimento das bandas de Bsb. Inclusive essa pessoa que vos escreve, que apesar de ser bem novo (reservo-me o direito de não revelar a minha idade), acompanhou o auge “contra revolucionário” de Legião Urbana, Paralamas e Capital Inicial. E realmente, quando penso nessa fase de minha vida, sinto uma saudade imensa e sempre imagino que esses fatos não voltarão a acontecer. Sinto também uma pena dessa nova geração que não viveu isso. Sinto mais pena ainda quando sei que eles viveram Britney, Justin, etc... E no meio da discussão nostálgica, surgiu uma frase célebre de Gilberto Gil que transcrevo agora: “O melhor lugar do mundo é aqui e agora. Aqui, onde indefinido, agora que é quase quando.”. Essas palavras me chamaram a atenção. Muito a atenção. Vamos nos ater a primeira parte da frase, visto que a segunda é um misto de liberdade poética com “Gilbertez”. Puxemos a análise. Quais foram os melhores anos da humanidade? Foram as décadas de 40 e 50 com seu charme quase inocente? Ou foi a de 60 com o estouro do Rock? Foi, por acaso, a de 70 com seu movimento Hippie? Ou foi a de 80, chamada de a década perdida? Discutir esse assunto talvez seja como discutir futebol. Cada um tem a sua razão. E se forçar a barra acaba em briga. Mas será que ter achado os anos 80 inesquecíveis nos impede de curtir o presente? Ou nos impede de ter desejado estar em Woodstock para um show de Hendrix? Aí entra a sabedoria do bom baiano Gil que nos mostra o contrário. O melhor lugar é onde você está e o melhor momento é o agora. Talvez, até transcendendo um pouco mais, o motivo se deva ao fato de você estar vivo. Imagina se você tivesse morrido na década de 80?!? Não estaria podendo curtir todo o desenvolver de uma geração. O fato de comemorarmos cada momento vivido é uma prova cabal de que estamos vivos. Morto é quem fica parado em um ano no passado. Quer seja porque não está realmente mais presente entre os vivos, quer seja porque deixou sua alma no passado. Além dessa análise “espiritual”, entendo que a capacidade de se atualizar é o maior desafio do mundo e do ser humano. Aquele que para no tempo, de certa forma morre. Isso não impede que eu cultive gostos de outras fases da vida, e nem tampouco impede que eu viva o momento presente com intensidade. As coisas podem ser feitas de maneira simbiótica e com isso enriquecer nossa vida. Há alguns dias atrás estava no carro com meus filhos quando começou a tocar uma regravação de “Boys don´t cry” do The Cure. Música gravada pela primeira vez em 1979 e depois regravada em 1986 pela mesma banda inglesa. Hit certo nas festinhas que estive presente quando adolescente (que não foram poucas). Minha filha imediatamente começou a cantar e eu questionei se ela sabia que aquela música era do tempo do papai. Ela disse que sabia, mas mesmo assim continuou cantando. Percebi então que aquela música já não era só do tempo do papai. Era também do tempo dela. As boas coisas da vida não têm limitação de tempo e nem de geração. Logo depois começou a tocar Beyoncé. Ela também cantou. Eu escutei. Vai ser difícil aquela música se tornar do meu tempo. Prometo me esforçar. Quem sabe ainda cumpro as palavras de Mestre Gil.      


 

Guilherme Augusto Santana
Goiânia, 18/11/11

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Eu voltei, voltei para ficar

Caros amigos

Segue uma fresquinha de sexta pós NYC.


Eu voltei, voltei para ficar



Viajar é bom não é? Eu também gosto. Aliás, conheço poucos que não gostam. Conhecer novas culturas ou mesmo reencontrar aquelas que te fascinaram é um convite a excitação. Experimentar comidas, bebidas, climas, línguas e costumes diferentes. Tudo de bom. Essa por exemplo que fizemos (eu, esposa e um casal de amigos) a New York foi fascinante. Talvez porque essa cidade, especificamente, seja a mais americana de todas. Ou talvez a menos americana de todas. Como assim? Lá vêm as confusões! Calma que explico. Se conseguir, claro!

De americana a cidade tem o funcionamento. Tudo funciona como um relógio. Sabe aquele passeio no Brasil que se chegar 15 minutos atrasado e passar uma babinha no atendente ainda consegue participar? Esqueça. Lá você perdeu, meu amigo. Isso privilegia os pontuais. E para isso você acaba tendo que se programar com antecedência. Em tudo. No domingo passado aconteceu a Maratona de New York. Foram mais de 40.000 atletas correndo. Pensa?! Agora imagina a quantidade de pessoas que vão só para acompanhar os atletas?! E a quantidade de gente que vai só para assistir?! Era literalmente uma cidade de pessoas envolvida no evento. E tudo com a maior organização. Nunca vi tanto policial na minha vida. Ruas fechadas. Voluntários a postos. Impecável. Ai você pode pensar: Vai ficar resquício de maratona na cidade por uma semana. Aí você se engana. Menos de 24 horas depois do evento não havia nada mais para contar a história. E o orgulho que a cidade tem do evento?! Desfilam pela cidade com suas medalhas de participação e são aplaudidos. Lojas concedem descontos. Nós fomos agraciados com um prato extra em um restaurante porque o amigo de viagem estava com a medalha da maratona. Os atletas não pagam o uso do metrô no dia da prova e tem seu transporte ao local da largada facilitado. Aí entramos num ponto bem americano da cidade: Os meios de transportes. Quer andar por NYC? Vá a pé ou de metrô. Nunca tinha me deparado com um sistema de metrô tão eficiente e rápido. De uma ponta da cidade a outra com um ticket. Complementa-se a facilidade de se situar dentro da cidade. Tudo correto. Ruas em sistema de xadrez. A Rua 57 é logo depois da Rua 56 (bem diferente de Goiânia). E também a prioridade é do pedestre. Os veículos esperam pacientemente que o transeunte atravesse a rua. Coisa de primeiro mundo. Só pegamos carro em duas ocasiões. Na chegada do aeroporto e na saída para o aeroporto. Um desastre. Trânsito caótico. Como em qualquer metrópole. Outra coisa marcante de americanismo é a paranóia com a segurança. Chega a ser irritante. Para ir aos principais museus e atrações da cidade é preciso passar por uma via crucis sem tamanho. Mostra o ticket de entrada dez vezes. Detector de metais. Revista a sacolas e mochilas. Tudo na mais perfeita rigidez. Fruto de uma cultura dominante que têm muitos a querer puxar seu tapete. Sem entrar em julgamento de mérito, mas pagam pelo imperialismo. Coisa de americano.

Agora de não americano temos a população. O motorista que nos trouxe do aeroporto era russo, e o que nos levou era indiano. Pronuncia do inglês de ambos? Péssima. Aliás, uma constante na cidade. Sabe aquele curso que você fez de inglês britânico? Vale de nada aqui. Quem domina os taxis são os indianos e paquistaneses. Os restaurantes são os mexicanos e demais latinos. O comercio de eletrônicos é judeu e chinês. Os fast foods de rua são dos iranianos e afegãos. E os brasileiros? Ah os brasileiros! Estão comprando tudo o que vêem pela frente. Coisas de moeda forte. Forante isso se encontram muitos Italianos e suas belas vestimentas, os franceses com sua praticidade, os alemães com sua imponência e por aí vai. Uma cidade cosmopolita. Quase uma torre de babel pós moderna. Todas as línguas se confundem. Todos os costumes se misturam. Em uma mesma barraca de fast food na rua você encontra falafel, tacos, pretzel e hot dog. É como se fosse um caldeirão prestes a explodir. Tudo regado a muita organização, diga-se de passagem. Todos se respeitando. Tanto os nativos quanto os turistas. Como se fossem uma população só. Coisas de primeiro mundo.

Como havia dito no começo da crônica, viajar é muito bom. Adquire-se uma bagagem imensa de conhecimentos e vivências que poderão ser utilizados em sua vida em diversas oportunidades, além do descanso do cotidiano diário. Depois da volta cansativa fomos recebidos no aeroporto com sorrisos e abraços. Palavras de carinho e saudade. E principalmente olhinhos infantis a espera de seus presentes. Abrimos as malas e distribuímos presentes. Mostramos as fotos e guardamos as memórias. Comemos uma comidinha caseira e contamos sobre as aventuras. Fomos dormir em nossa cama macia e aconchegante. A conclusão sempre é a mesma. Viajar é bom, mas voltar para casa é melhor ainda.         



 



Guilherme Augusto Santana

Terrinha, 11/11/11

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

coveiro internacional

caros leitores
Mando direto de New York.



COVEIRO INTERNACIONAL
Hoje, como muitos sabem, a crônica será escrita direto de New York. Sim caros leitores, o coveiro que vos fala está em terras de Tio Sam. Coveiro Internacional. Arrumei um tempinho entre uma batida de perna e outra para falar aos meus cativos leitores sobre as impressões que estou tendo da Big Apple. O que não são poucas. A começar pelo local onde estou instalado. Acreditem ou não, estou hospedado no apartamento que pertencia ao empresário musical Guilherme Araújo, que dentre muitos, esteve ligado diretamente a turma da Tropicália e ao garoto rebelde Cazuza. Só isso já seria, para mim, um motivo de muito orgulho. Os quadros e móveis foram conservados da época em que Guilherme ainda morava em New York. Se não bastasse isso, o edifício é vizinho de… adivinha?! Do Dakota Building!! Para puxarmos um pouco a memória, era onde John Lennon morava e foi assassinado em dezembro de 1980. É ou não é de arrepiar. É história na veia. Fugindo um pouquinho da parte histórica, gostaria de comentar algumas coisas que depois daremos um jeito de amarrar em nosso desfecho. Existem grandes colônias de estrangeiros na cidade, aliás, estamos dentro de um caldeirão de raças, cores e credos impressionante. São chineses, coreanos, indianos, palestinos, judeus, latinos, russos entre outros. Observa-se claramente isso nas ruas, metrô, restaurantes, museus e principalmente no marco zero do Memorial 9/11 do World Trade Center. Entre os mais de 2.000 nomes grafados nas piscinas onde ficava o WTC encontram-se nomes de todas as grafias possíveis, inclusive brasileiros. Outro lugar que o arrepio é inevitável. E inevitável também é não olhar para cima e vigiar os aviões sobrevoando o local, imaginando o dia da tragédia. Aí, caros leitores, entrarei no assunto principal da nossa crônica. Nota-se uma solidariedade muito grande com a tragédia passada pela cidade, por seus habitantes e pelas milhares de famílias que perderam os seus. E isso é extremamente natural. A solidariedade advém de uma comoção dolorida diante de uma tragédia tão amplamente divulgada. A pergunta que me fiz é: Será que os habitantes da cidade ficaram mais próximos dinte disso? Ou será que foi um ato isolado de solidariedade? Respondo pelas impressões que tive nesses poucos dias de observação. As pessoas ficaram mais desconfiadas. Cada um no seu mundinho e com seu fone de ouvido, vão transitando uns sobre os outros sem dar tempo para uma conversa furtiva. Não se conhecem e nem fazem questão. Cada um com sua desconfiança pessoal a imaginar o que o outro pode vir a ser ou fazer de mal a ela. A cidade onde as pessoas falam sozinhas. Cada um a sua língua. Aí entram nossos personagens de começo de crônica, Guilherme Araújo, John Lennon, as vítimas do WTC, os transeuntes no metrô… pessoas tão diferentes que escolhem a Big Apple para viver. Pessoas tão próximas e ao mesmo tempo tão distantes. Como se a cidade tivesse várias cidades. Uma para cada habitante. E como o tempo não para, corro a me arrumar para jantar. Qualquer restaurante magnífico, dessa esplendorosa cidade. Ainda bem que estou em boa companhia. Gosto muito de conversar.