sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Baianidade, um estado de espírito

amigos e amigas
Direto da única lan house de Cumuruxatiba-BA, envio a crönica de sexta. (desconsiderem os possíveis erros de portuguës)

Feliz ano novo a todos


Baianidade, um estado de espírito
Estou eu aqui sentado na varanda da casa de praia, o corpo quente pelo sol drenante, escutando o barulho das ondas do mar a lamber a areia branca. Somente sentado por obrigação da crônica de sexta. Em respeito aos meus fiéis leitores, porque a vontade tenta impedir-me. Repele-me do computador. As palavras entram num emaranhado estranho como se embaralhadas estivessem e embaralhadas quisessem continuar. Lembro-me que já senti isso outras vezes. Aliás, todas as vezes que venho à Bahia. Aí o pouco que resta de raciocínio me faz entender que só pode ser alguma coisa relacionada a essa terra. Alguma coisa que eles colocam na água, na comida, no ar... Algo como um estado de espírito. Baianidade. Uma entidade. Um orixá. Saravá!
Diz o ditado que baiano não nasce, estréia. Penso que quem escreveu isso era um sábio. O baiano é um artista por natureza. Na literatura, na política, na cozinha. Na arte de não se preocupar com o dia de amanhã. Aliás, nem de se preocupar com o dia de hoje. Quer alguma coisa rápida? Esquece. E o pior é que ele te convencerá da desnecessidade da urgência. Para que essa pressa, meu rei?! Vai tirar o pai da forca?! Melhor se sentar e trocar um dedo de prosa antes de fazer qualquer pedido. Uma conversa jogada fora. Coisa de amigos que recém se conhecem. Alias, nisso você verá um fenômeno. Aquele baiano se tornará seu amigo para o resto da vida. O melhor amigo. Contará seus maiores segredos. Suas aflições, que são poucas e suas pretensões que são poucas também. Depois de trocadas as confidëncias, peça aquilo que principiou a conversa. Se lembrar claro. Perceberá que terá qualquer coisa que pedir. Logicamente se não exigir muito esforço do cidadão.
A culinária aqui é um caso a parte. Uma paixão a parte. Nunca vi baiano falando que sua comida é ruim. Aliás, nem mais ou menos. Ela é sempre porreta. “Rapaz, você nunca comeu nada mais gostoso!”. E tudo numa simplicidade impar. Nada que de muito trabalho. Azeite de dendê, leite de cöco, tomate, cebola, cheiro verde (bastante coentro) e um peixe ou fruto do mar. Arrume tudo numa panela e coloque em fogo brando. Pronto. Simples. Vai tentar fazer você para ver. Não sai nem perto. Falta a mão do baiano. E falta a pimenta também. No máximo um arroz branco a e farinha amarela. Essa necessária em qualquer prato. Pronto. Não dispensa nunca uma bebida forte para guiar. Depois uma cerveja gelada. Se não tiver vai morna mesmo, porque gelada aqui é quase impossível. Prá que né meu rei?
Ainda sentado na mesma varanda, penso que o tempo passa mais devagar nessa terra. Ele quase se arrasta. Fico imaginando como foi o primeiro contato dos portugueses com as maravilhas do cenário do sul da Bahia. Devem ter ficados extasiados, não só pela beleza cênica, mas pelo tempo de isolamento em alto mar. É o que sinto toda vez que piso nessas areias. Hoje aqui funciona um parque nacional. Parque do Descobrimento. Próximo de onde estou escrevendo existe um rio. Rio Cahy. Esse foi o primeiro lugar onde as caravelas de Cabral aportaram no Brasil. Água doce era o objetivo. Erro fatal. Beberam da água da Bahia. Nunca mais conseguiram esquecer essa terra. Eu disse que tinha alguma coisa nessa água! Eu avisei!
Guilherme Santana
Cumuruxatiba(ex Ilha de Vera Cruz)
 30-12-11
santanagui@hotmail.com

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Então é Natal!

Papai Noel para Presidente!


Então é Natal!



         Acordei hoje sem tema para a crônica de sexta. Parece que estava na minha cara a pular e eu sem enxergar. Segui com meu dia a procurar. O jeito é almoçar. Almoço agradável entre amigos. Tudo de bom. Parecia que todos estavam envoltos em um clima agradável. Café para arrematar, e a tarde a esgotar sem um tema encontrar. Coloco minha aflição aos amigos: Qual tema abarcar? Eis que surge uma voz a me aliviar. Escreva sobre o Natal, ora bolas! Parecia óbvio. Era óbvio. Mas como não encampar? Escrevo sim, mas para emocionar.



         A princípio gostaria de propor um projeto de lei. “Clima Natalino” como patrimônio da Humanidade. Nada mais justo. Nada mais certo. Já observaram o quanto as pessoas ficam mais agradáveis nessa época do ano? E caridosas? E sorridentes? Porque não tornar essa época tombada pelo patrimônio? Imexível. Decreto: todos os cidadãos têm que ficar felizes no fim do ano. Revogam-se dispositivos em contrário. Eu, por exemplo, adoro. Desde criança. Essa era a época em que eu “trabalhava”. Como estava de férias, ia ajudar na loja de canetas pertencente à família. Caneta Dourada. Ali na Rua do Lazer. Perto do pastel e da garapa (uma outra história). Chovia de gente na loja. Todos querendo comprar seu presentinho de fim de ano. Eu me sentia o vendedor. Ganhava comissão. E no dia de Natal o salário pelo trabalho. Vinha num envelope. Sentia-me um barão. Comprar o que quiser. Quando não gastava tudo em pastel e garapa (a mesma história). Ou em presentes para a família. Tudo adquirido ali, no burburinho do Centro da cidade. Às vezes me perdia na porta das lojas a escutar a harpa entoar as músicas de Natal. Ali o clima era diferente. Muitas vezes saia do trabalho e ia ajudar meu avô a montar o presépio. Caixas e caixas retiradas dos armários. Luzes piscantes e estáticas. Bichos de todos os tamanhos. Cachorro maior que elefante. Tinha até bonequinho de Playmobil no meio. Uma festa. Ali eu escutava “dorme, dorme filhinho, Papai Noel já vem, trazer um brinquedinho, ai, pro sapatinho do meu bem” e ajudava a montar o sonho de infância. Muitas das vezes a casa cheirava a assado. Pernil, peru e leitoa. Cozendo lentamente e enchendo a casa de perfume de Natal. Cheirava do elevador. Farofas doces (não era muito a minha praia), frutas e castanhas. Quitutes que muitas vezes sentia só o cheiro. Só podia comer após a meia noite. Tem que esperar o nascimento. Nem uma provinha. E lá criança agüenta esperar o nascimento? Antes tinha que ir a missa. Coisa breve. Encenava-se toda a bíblia e cantava-se todo o repertório de músicas. Tipo 3 horas de cerimônia. A barriga roncando. Nunca entendi porque não se come no dia da véspera de Natal. Às vezes porque todo o fogão está ocupado com a ceia. Sei lá. Quando o padre entra para os avisos finais da missa já estava vendo estrelas. Roupa apertada. Traje de missa. Chegava na casa onde seria a comemoração. Mesa posta. Bonita. Parecia tudo de plástico. Naquela época não era comum nozes, ameixa, pêssego... tudo importado. Ficava admirando. Não pode tocar! Só depois da meia noite. Tem que esperar o nascimento. Enchia a barriga de empadinha e refrigerante. Tira gosto que vira janta. Quando é meia noite já está empanturrado. Aí é esperar a abertura dos presentes. Festa. Alegria. Papéis espalhados pela casa. Irmãos que brigaram o ano todo se abraçam. Presentes que agradam e outros nem tanto. Lágrimas e risos se misturam numa noite que deveria durar o ano inteiro. Reluta a dormir. Gostaria que essa noite durasse para sempre. Desejo de criança.

Por isso hoje, quando vai beirando o fim do ano, já preparo o meu espírito. Meu sorriso começa a afrouxar e minhas memórias de infância pulular. Já sinto o cheiro dos assados e as músicas de Natal tocando e penso com meus botões: Papai Noel para Presidente. Eu voto.



Feliz Natal      



 



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 23/12/11

sexta-feira, 16 de dezembro de 2011

Gula nunca é demais (com fotos)

Caros amigos

Resolvi inovar. Desta feita segue a gula com as provas cabais. Imagens. Espero que gostem.



Gula com uma pitada de Luxúria



         Talvez vocês estejam estranhando o tema dessa semana e pensando que seja repeteco do anterior. Pior que é. Mas só estou voltando ao tema, porque recebi inúmeros comentários da crônica anterior com questionamentos diversos. Tipo: “Porque você não falou daquela comida?”, “E daquela?”, “Quando estava ficando bom acabou.”, “Não falou sobre as comidas internacionais.”. E diversos comentários que muito engrandecem e envaidecem o escritor. Sinal de que está sendo lido. Por isso resolvi repetir. Logicamente que com tempero diferente. Um tempero digamos... picante. Uma pitada de luxúria. Nessa crônica pretendo narrar não só o pecado da gula, mas também sua associação etílica e turística. Nada mais justo. Nada mais gostoso. Nada mais pecaminoso. Peguem seus terços e comecemos pelos mistérios deliciosos.



         Vamos começar aqui por perto. Brasília. Capital Federal. O chamado prato de pessoa jurídica. O nome do Restaurante é Francisco (existem alguns espalhados pela cidade, mas o meu preferido é o da ASBAC que tem vista para o lago Paranoá). O prato é Bacalhau. Assim mesmo com letra maiúscula. Um Gadus Morhua de respeito assado na brasa. Pensa em quatro dedos de puro filé alto. Alvo. Aí você chama o garçom e pede um azeite grego Mikonos. Aproveita e pede um vinho português. Luis Pato ou Eugênio Almeida. Aí pronto. No máximo uma cebola assada e não precisa de mais nada. Só ajoelhar e rezar. Andando um pouco mais, aportamos na gastronômica São Paulo. Nada de restaurantes estrelados. Vá a Liberdade e encontre a Rua Thomas Gonzaga. Ao final à esquerda verá o Gombe. Restaurante Japonês tradicional. Mas bota tradicional nisso. Você vai se sentir literalmente na terra do sol nascente. Encontre uma garçonete brasileira, de preferência, e peça um prato que tenha um pouco de cada coisa. Anchovas, missôs, sushis, sashimis... ah sashimis! Um dedo de espessura. Nada desses transparentes que comemos em rodízio não. Peixes que você não consegue pronunciar os nomes. Peixes que não tem nome em português. Peça junto um sakê. Necessário. Depois que sair do restaurante, dobre a Rua Galvão Bueno e vá conhecer a Adega do Sakê, do amigo Adegão. Figura. Se você sair de lá sem dar ao menos uma risada eu pago a conta. Aproveite para aprender um pouco mais sobre a famosa bebida de arroz japonesa. Kampai. Atravessando as fronteiras do Mercosul, siga para Buenos Aires, a charmosa capital portenha. Lá tem um restaurante chamado Cabernet. Um charme. Sente-se na varanda sombreada e deixe chegar o pão da casa. Vá petiscando com a manteiga e logo peça o vinho. Apesar do nome, indico um Malbec (uva tradicional Argentina). Se valer a dica e o bolso suportar, um do famoso Nicolas Catena. Depois de meia garrafa de vinho peça o Bife de Chorizo. O que acompanha deixo a cargo de vocês. Na verdade é desnecessário o acompanhamento. A carne vem ao estilo portenho. Sangrando. Macia. Pouco temperada. Própria para sugarmos todo sabor de sua essência. Basta. Dulce de leche pode ajudar a finalizar. Pecado em Espanhol. Aí atravessamos a Cordilheira dos Andes e aportamos na moderna Santiago do Chile. A jóia dos Andes. Diferentemente de sua co-irmã, Buenos Aires, aqui se come pescado. E que pescado. Prepare-se e vá ao Astrid e Gastón. Restaurante estreladíssimo de comida internacional com acento Peruano. Uma história de amor que virou restaurante. E como você está na terra dos pescados, peça o famoso ceviche. Eles vêm variados. Todos os tipos. O de ouriço do mar é de comer ajoelhado. Pecado mortal. Outro pecado mortal é não pedir uma garrafa de vinho chileno. Se puder e o dinheiro der peça uma Almaviva ou Montes Alpha. Melhor ainda? Escolha a uva Carmenère. Não gosto nem de imaginar. Chega de América do Sul? Suba mais um pouco (bem mais um pouco) e aporte na Big Apple. New York. Vou tentar me conter em dois lugares para não virar um livro. Primeiro vá a Brasserie Les Halles. Antiga casa do Polêmico chefe Anthony Bourdain. Por ocasião de minha ida a esse lugar, resolvi mandar um twitter para o chefe em questão solicitando uma sugestão de prato. Quando não muito chega a resposta. Cote Du Boeuf for two. Não podia deixar de provar o prato recomendado pelo Chef. Quando chegou à mesa, era quase o quarto traseiro inteiro de uma vaca. Divino. Macio. Vermelho. Acompanhado do vinho então... ficou imperdoável. Dez aves marias e quinze pais nossos. Passado o sobressalto do Boeuf, siga para o Eataly, do famoso Chef Mario Batali. Uma cidade gastronômica. Carnes, legumes, frutas, massas, temperos... entremeados com vários restaurantes de comidas diversas. Sente-se no Manzo do Chef Michael Toscano. Peça uma garrafa de Pio Césare Barbera D´Alba e em seguida um Raven e Boar Whey Fed Pig. Gravem esse nome. Vocês podem precisar. É um porco alimentado somente com produtos de primeira (dão até cerveja para o porco) e depois cozido lentamente. Quando digo lentamente é por horas a fio. Derrete na boca. Derrete a alma. Depois da refastelação, dê uma passeada pelo Eataly e aproveite para tomar um espresso (do italiano mesmo). Nesse ponto pulamos para a outra costa americana. A Oeste. Los Angeles. Afaste-se do centro e vá para Santa Mônica. A memória falha no nome do restaurante, mas fica na esquina da Santa Mônica Boulevard com a Arizona Avenue. Peça uma bela garrafa de vinho da uva Zinfandel, de preferência com a assinatura de Robert Mondavi e procure ao garçom pelo Boeuf Bourguignon. O melhor que já comi na vida. Repito. Na vida. Estonteante. Se conseguir, depois de pecar bastante, pode andar pela Santa Mônica Boulevard. Lá encontrará as maiores lojas de grifes mundiais. Outro tipo de pecado. Saindo da agitada Los Angeles, siga para a romântica San Francisco. Posso indicar uma pérola? Centro da cidade. Se enfiem em qualquer beco. Entrem em qualquer bistrô. Peçam uma garrafa do vinho branco Sauvignon Blanc. Uma entrada de escargot e uma salada de frutos do mar com salmão defumado. Sente-se em uma das mesas de rua, e escute jazz ao vivo. Garanto que passará a tarde inteira lá. Juro que não tem coisa melhor. Inesquecível.



         Depois de tanto pecado, nada como uma virtude para aliviar nossa consciência. Tudo o que está descrito acima, ou seja, as sensações e prazeres adquiridos com a comida, bebida e turismo, não valem de nada se não estiver em boa companhia. Aliás, de que vale viver a vida se não em companhia dos que você quer bem? Para mim não vale de nada. Por isso, quando for viajar e pensar em desfrutar ao máximo sua estada, lembre-se que pouco importa o destino. Pense primeiro na companhia. Essa vale uma viagem. Uma boa viagem.

        





 



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 16/12/11


legenda
1) Sashimi do Gombe
2) Bife de Chorizo do Cabernet
3) Ceviche do Astrid e Gaston
4) Cote du Boeuf do Les Halles
5) Raven e Boar Whey Fed Pig do Manzo (Eataly)
6) Boeuf Bourguignon em Santa Mônica
7) Escargot em San Francisco  
8) Salada de frutos do mar com salmão defumado em San Francisco









sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Gula

Se é para pecar, que seja com estilo.


Gula (êita pecado bom!)



Que me desculpem os que estão de regime, mas hoje o assunto vai ser engordativo. Nada de pão integral ou carne de soja. Hoje vai ser de 10.000 calorias para cima. Caso você não queira passar tentação é melhor não ler o que se segue. Desde que adentrei as mídias sociais (twitter, orkut, facebook, instagram), tenho postado acepipes de maior ou menor grandeza gastronômica acompanhado dos bebes (esses deixarei para uma outra crônica). Confesso ser um dos meus vícios. Comer e beber. Às vezes sofro retaliações pelas postagens, mas na maioria das vezes, os amigos parecem gostar e se identificam com a loucura culinária da minha vida. Primeiramente quero esclarecer que não me empanturro com tudo que posto. Principalmente com os doces. Os que convivem comigo mais de perto sabem que sou de comer pouco. Aliás, um hábito que adquiri por gostar em demasia de comer. Comendo pouco eu consigo desfrutar uma maior variedade de guloseimas. Por isso resolvi escrever essa crônica de hoje. Despretensiosamente. Pretendo listar algumas comidas que de uma forma ou outra marcam por um detalhe, localidade ou mesmo apego sentimental. Por isso não busquem nexo nos dizeres abaixo. Sugiro que fechem os olhos e tentem imaginar o sabor. E vamos logo com isso que já estou ficando com fome.



         Estava eu indo para Anápolis esses dias quando um amigo me falou que comprasse um requeijão na barraca da Vovó Onízia. A princípio pode parecer comum, mas ele usou as palavras mágicas: “o melhor requeijão do Brasil”. Isso para um glutão soa como sino. Apressei todo o meu compromisso para conseguir passar na tal barraca. E querem saber? O melhor requeijão que já comi na vida. Quando passarem por Teresópolis de Goiás, não excitem. Derrete na boca. E para massacrar, acrescentem um colherzinha de açúcar. Nem cachorro come. Nessa toada, digo e afirmo que o melhor pastel que já comi na vida, foi o de palmito da feira do Ipê. Coisa de estudante de engenharia que aos sábados tem que curar a ressaca. Divino. Daqueles que se come em pé colocando aquela salada de repolho dentro. Mas chegue cedo. Os de palmito são os primeiros a acabar. Continuando nos fritos, tem um que é impagável. Disco de carne apimentado da Tia Joana. Onde? Claudinápolis de Goiás (antigo Ruibarbo). A gordura chega escove pelos dedos. Coma com uma coca gelada do lado. De vez em quando eles erram na pimenta. Falar em pimenta... se você ainda não comeu o bolinho de bacalhau do Obelisque, não sei não. Algo de errado há com sua pessoa. O bar fica no Setor Coimbra tem umas décadas. E não venha me dizer que não gosta de bacalhau. Para comer o bolinho preparado pela mãe (portuguesa com certeza) do Adolfinho, não precisa ser fã do peixe salgado. Basta mergulhá-lo no molho que acompanha e mandar ver. Onde está a pimenta? Tabasco básico. Completa que é uma beleza. Não se esqueça da cerveja gelada no copo de boteco. Necessária. Um pouco mais longe, encontramos a melhor lingüiça do mundo. Onde? Porangatú! É em Goiás mesmo. Na beira da BR-153. A barraquinha é modesta, mas você identificará de longe pela quantidade de carros e caminhões parados na porta. Pensa nuns embutidos gostosos! Ficam ali dependurados na cara do freguês. É só escolher o preferido e o atendente corta um naco e serve com pão. Se valer a dica, experimente o seu pedaço de lingüiça com queijo derretido e dentro de um pão de queijo. Rapaz... ah! Não se esqueça de levar uns para casa. Depois você vai sonhar com os embutidos e não terá como satisfazer sua vontade. E fechando os gordurosos, não poderia me esquecer da esfirra de carne do Esfirra Quente. Ali no mesmo lugar de sempre. Rua 4 quase esquina com a Goiás. Difícil estacionar. Difícil se sentar. Difícil comer somente uma. Difícil não levar meia dúzia para casa. Se o buchinho agüentar, acompanhe com uma vitamina à moda da casa (daquela vermelha de beterraba). Para não dizer que não falei dos doces, sugiro passar ali no Doce Café na Rua 9 em frente à praça do sol. O lugar é um charme. Parece aquelas coisas bem mineirinhas mesmo. Compre uma broa de fubá. Leve para casa. Abra a mesma e coloque uma porção generosa de doce de leite (pode ser Zebu mesmo). Salpique com canela em pó e leve ao forno para gratinar. Sirva acompanhada de uma bola de sorvete de creme. Não divida com ninguém que dá azar. Matei uma meia dúzia de mulheres agora não foi não?!? Melhor parar por aqui. 



         Logicamente que não falei de todos os acepipes que gostaria (isso provavelmente daria um livro), mas creio que servem para que possamos trocar idéias de como a vida pode ser gostosa com coisas simples. Basta que tenhamos o olhar apurado para enxergarmos as qualidades onde elas menos aparentam estar. Muitas vezes não conseguimos juntar todas as qualidades em uma coisa só, mas podemos ressaltar aquilo que nos foi precioso. Seja o atendimento cortês, a qualidade do produto, a memória afetiva ou um estado de espírito. Ser feliz com pequenas porções de felicidade. Penso que seja um segredo.



         E a sua comidinha perfeita? Qual é? Larga de ser amarrado! Conta aê!   





 



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 09/12/11

sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

verde, anil, amarelo, cor de rosa e carvão

Qual o seu rótulo?


Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão





Certa ocasião estava eu em uma reunião de negócios com um sargento da Rotam (para os que não são de Goiás, corresponde a Rota de SP). Um profissional de alto gabarito, que apesar do cargo aparentemente rude que ocupava, de uma gentileza impar. Devido aos anos de trabalho em conjunto, o sargento se viu na liberdade de comentar o tom da camisa que eu usava no dia. Cor de Rosa. O comentário foi o seguinte: “uai Comandante, não sabia que você era afeito a essas cores de camisa!?”. Eu, como num reflexo, olhei a cor da camisa que ele usava. Preto. E puxei pela memória as vezes que estivemos juntos, tentando lembrar as cores das vestimentas que ele estivera usando. Sempre Preto. Na mesma hora devolvi, de maneira amistosa a brincadeira: “De vez em quando eu uso rosa Comandante. E você? Não usa?”. Eis que ele em tom sério me respondeu: “Não Comandante!!! Já imaginou bandido ver Rotam de rosa?!?! Perde o respeito!”. A conversa continuou em tom de brincadeira e o assunto morreu ali. Durante muito tempo fiquei com essa conversa na mente esperando os fatos do universo se juntarem para entender que ela não tinha sido em vão.



         Semana passada, os principais formadores de opinião do Estado de Goiás estavam às voltas com uma notícia bombástica. A Rotam, depois de 8 meses de uniforme cáqui, iria voltar a usar a cor preta. Palavras do Comandante da Polícia Militar. Enfáticas. Talvez se tivessem sido proferidas corriqueiramente, não teriam causado tanto impacto quanto provocaram. O que não fazem alguns pontos de exclamação a mais. Foi a deixa para suscitar rodas de discussões em todo o Estado. A cor preta intimida mais? Não deveria a Rotam se preocupar com coisas mais importantes? Não deveriam os formadores de opinião se preocupar com coisas mais importantes? O fato é que a discussão tomou conta dos jornais, rádios e rodas de botecos. Todo mundo tinha uma opinião a dar. Lembrei-me da conversa com o amigo Sargento da Rotam de uns anos atrás. Os fatos estavam se juntando.



         Ontem, estava eu levando as crianças na escola quando meu filho mais novo me fez uma pergunta. Do nada. Assim de supetão como fazem as crianças. “Papai, porque você está usando uma camisa cor de rosa?”. Mais que de repente, sem que eu pudesse responder, minha filha mais velha, muito diplomaticamente, emendou: “Sabe o que é papai? O Otávio não gosta de cor de rosa!”. Vendo que estava na berlinda, e tudo que eu dissesse naquele momento poderia ser usado contra mim no tribunal, puxei o fôlego e esclareci. Expliquei que cada pessoa tinha um gosto por cor. Uns gostavam do preto, outros do amarelo e outros de cor de rosa. Expliquei também que o gosto é uma questão muito particular. Fiz com que eles recordassem que no meu armário haviam camisas de cores surtidas. Enquanto tentava convencê-los a não rotular um ser humano pela cor da sua vestimenta, lembrei que no fundo os grandes culpados por esses rótulos, somos nós pais. Desde pequenos impomos a nossos filhos alguns padrões que nos foram impostos em nossa infância e juventude. Menino usa azul. Menina Rosa. Mulher é que usa brinco. Homem não chora. Será que nossos padrões atuais correspondem ao que tentamos ensinar a nossos filhos? Educamos nossos filhos para o que está no mundo ou para o que gostaríamos que estivesse no mundo? Nesse momento, os fatos narrados acima fizeram sentido e entendi que os acontecimentos nos ocorrem para serem juntados e aprendidos. E se possível, ensinados.



         Diante de tudo isso segue uma declaração. Eu uso cor de rosa. E minha esposa diz que fica bem em mim (espero que ela não esteja mentindo). E vou dizer mais ainda. Isso não afeta em nada minha opção sexual. Hetero convicto. Posso ter sido criado para usar azul, mas entendi ao longo do tempo que isso é bobagem. Não conta nada sobre ninguém. São somente rótulos. E muitas vezes oprimem as pessoas e lhes tira o direito de se expressar e de ser feliz. Se a Rotam usa preto ou branco, não me interessa. O que importa é que eles façam o seu trabalho com dignidade e eficiência. Se o cidadão tem tatuagens, piercings ou usa brincos não me interessa. Importa que ele cumpra seus deveres como cidadão. Eis a essência do pensamento. Preocupemos mais com o que somos do que o que aparentamos ser. Espero que meus filhos façam na vida o que lhes fizer bem. Esse é um dos segredos da felicidade. Penso eu.

 



Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 02/12/11