Verde, Anil, Amarelo, Cor de Rosa e Carvão
Certa ocasião estava eu em uma reunião de negócios com um sargento da Rotam (para os que não são de Goiás, corresponde a Rota de SP). Um profissional de alto gabarito, que apesar do cargo aparentemente rude que ocupava, de uma gentileza impar. Devido aos anos de trabalho em conjunto, o sargento se viu na liberdade de comentar o tom da camisa que eu usava no dia. Cor de Rosa. O comentário foi o seguinte: “uai Comandante, não sabia que você era afeito a essas cores de camisa!?”. Eu, como num reflexo, olhei a cor da camisa que ele usava. Preto. E puxei pela memória as vezes que estivemos juntos, tentando lembrar as cores das vestimentas que ele estivera usando. Sempre Preto. Na mesma hora devolvi, de maneira amistosa a brincadeira: “De vez em quando eu uso rosa Comandante. E você? Não usa?”. Eis que ele em tom sério me respondeu: “Não Comandante!!! Já imaginou bandido ver Rotam de rosa?!?! Perde o respeito!”. A conversa continuou em tom de brincadeira e o assunto morreu ali. Durante muito tempo fiquei com essa conversa na mente esperando os fatos do universo se juntarem para entender que ela não tinha sido em vão.
Semana passada, os principais formadores de opinião do Estado de Goiás estavam às voltas com uma notícia bombástica. A Rotam, depois de 8 meses de uniforme cáqui, iria voltar a usar a cor preta. Palavras do Comandante da Polícia Militar. Enfáticas. Talvez se tivessem sido proferidas corriqueiramente, não teriam causado tanto impacto quanto provocaram. O que não fazem alguns pontos de exclamação a mais. Foi a deixa para suscitar rodas de discussões em todo o Estado. A cor preta intimida mais? Não deveria a Rotam se preocupar com coisas mais importantes? Não deveriam os formadores de opinião se preocupar com coisas mais importantes? O fato é que a discussão tomou conta dos jornais, rádios e rodas de botecos. Todo mundo tinha uma opinião a dar. Lembrei-me da conversa com o amigo Sargento da Rotam de uns anos atrás. Os fatos estavam se juntando.
Ontem, estava eu levando as crianças na escola quando meu filho mais novo me fez uma pergunta. Do nada. Assim de supetão como fazem as crianças. “Papai, porque você está usando uma camisa cor de rosa?”. Mais que de repente, sem que eu pudesse responder, minha filha mais velha, muito diplomaticamente, emendou: “Sabe o que é papai? O Otávio não gosta de cor de rosa!”. Vendo que estava na berlinda, e tudo que eu dissesse naquele momento poderia ser usado contra mim no tribunal, puxei o fôlego e esclareci. Expliquei que cada pessoa tinha um gosto por cor. Uns gostavam do preto, outros do amarelo e outros de cor de rosa. Expliquei também que o gosto é uma questão muito particular. Fiz com que eles recordassem que no meu armário haviam camisas de cores surtidas. Enquanto tentava convencê-los a não rotular um ser humano pela cor da sua vestimenta, lembrei que no fundo os grandes culpados por esses rótulos, somos nós pais. Desde pequenos impomos a nossos filhos alguns padrões que nos foram impostos em nossa infância e juventude. Menino usa azul. Menina Rosa. Mulher é que usa brinco. Homem não chora. Será que nossos padrões atuais correspondem ao que tentamos ensinar a nossos filhos? Educamos nossos filhos para o que está no mundo ou para o que gostaríamos que estivesse no mundo? Nesse momento, os fatos narrados acima fizeram sentido e entendi que os acontecimentos nos ocorrem para serem juntados e aprendidos. E se possível, ensinados.
Diante de tudo isso segue uma declaração. Eu uso cor de rosa. E minha esposa diz que fica bem em mim (espero que ela não esteja mentindo). E vou dizer mais ainda. Isso não afeta em nada minha opção sexual. Hetero convicto. Posso ter sido criado para usar azul, mas entendi ao longo do tempo que isso é bobagem. Não conta nada sobre ninguém. São somente rótulos. E muitas vezes oprimem as pessoas e lhes tira o direito de se expressar e de ser feliz. Se a Rotam usa preto ou branco, não me interessa. O que importa é que eles façam o seu trabalho com dignidade e eficiência. Se o cidadão tem tatuagens, piercings ou usa brincos não me interessa. Importa que ele cumpra seus deveres como cidadão. Eis a essência do pensamento. Preocupemos mais com o que somos do que o que aparentamos ser. Espero que meus filhos façam na vida o que lhes fizer bem. Esse é um dos segredos da felicidade. Penso eu.
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, 02/12/11
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