Minority Report
Estávamos em meados de setembro de
1987 e lembro-me de estar em frente ao Ginásio Rio Vermelho, centro da cidade
de Goiânia, aguardando na fila para ser submetido ao famigerado contador geiger (aparelho que mede nível de
radiação). Acabava de estourar em Goiânia o caso do césio 137. As filas eram
imensas e a falta de informação provocou uma corrida em massa para as portas do
ginásio. Aquele barulhinho do contador povoou meus sonhos por muito tempo como
um fantasma que espreita debaixo da cama. Fiquei um bom tempo sem ir à escola
(ficava próxima do epicentro da contaminação) e ficamos um tempo na propriedade
rural da família com medo de ser decretado estado de quarentena para os habitantes
da capital do Estado.
Minha mãe conta até hoje nas rodinhas
de família, que lembra com clareza quando eu cheguei assustado, carregando o
aparelho de televisão em seu quarto anunciando que havia começado a Operação
Tempestade no Deserto. O ano era 1990 e estávamos de novo na propriedade rural
da família (fazenda para os goianos) e para ter sinal decente de TV era um
custo. Nesse dia passei a noite toda enxergando nos chuviscos da tela a
ofensiva americana no Oriente.
Lembro-me como se fosse hoje quando vi
pela TV os aviões colidindo contra as torres do World Trade Center em Nova
York. Parecia coisa de cinema e custava a acreditar no que via repetidas vezes
pelo aparelho de televisão. Era 11 de setembro de 2001 e eu estava na capital
federal. Na mesma hora pegamos o carro e nos dirigimos a Goiânia, escutando ao
longo dos 200 quilômetros que separam as duas cidades, as notícias pelo rádio.
Ao longo das curvas da estrada o sinal ia se perdendo e por vezes sumia por
completo. Ficava imaginando se nesse meio tempo sem sinal, haviam decretado a 3ª
guerra mundial e eu não estava escutando.
Estamos no ano de 2012 e hoje as
notícias saem antes de serem vividas. Pensamentos se tornam realidade antes de
serem plasmados. A internet vem mais rápida que a velocidade da luz e nos municia
de informações e fatos. Nos assusta, nos informa, nos redime, nos condena. Quem
disser que está mal informado hoje, ou está doido ou morto. As famosas mídias
sociais, na maioria das vezes sem a devida responsabilidade, disseminam casos e
acontecimentos que depois de soltos tomam vida e dificilmente voltam às suas
gaiolas de origem. Estão sendo soltos lindos pássaros e terríveis aberrações.
São os ônus e os bônus da já démodé globalização. Bem diferente dos anos de
Césio, Tempestade no Deserto e Torres Gêmeas. Onde vamos parar com essa busca
incessante por velocidade? Onde vai parar nossa responsabilidade diante dos
fatos e seus desdobramentos? Estaremos partindo para uma tendência Minority
Report? Quais as consequências disso para o discernimento dessa geração que já
nasceu acelerada?
Esses dias conversando com amigos
sobre os recentes escândalos na política nacional, alguém aventou a hipótese de
que a memória do brasileiro era curta e que os políticos implicados logo
estariam no circuito novamente. Outro discordou e disse que as mídias sociais e
a internet não deixariam que isso ocorresse. Que a falta de informação era
coisa do passado. Assim espero. De coração. Que essa geração tenha rapidez nas
informações, memória grande, mas que ela não seja armazenada nas nuvens.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 27 de abril de 2012