sexta-feira, 27 de abril de 2012

Minority Report

Toda uma vida num átimo de segundo.


Minority Report



Estávamos em meados de setembro de 1987 e lembro-me de estar em frente ao Ginásio Rio Vermelho, centro da cidade de Goiânia, aguardando na fila para ser submetido ao famigerado contador geiger (aparelho que mede nível de radiação). Acabava de estourar em Goiânia o caso do césio 137. As filas eram imensas e a falta de informação provocou uma corrida em massa para as portas do ginásio. Aquele barulhinho do contador povoou meus sonhos por muito tempo como um fantasma que espreita debaixo da cama. Fiquei um bom tempo sem ir à escola (ficava próxima do epicentro da contaminação) e ficamos um tempo na propriedade rural da família com medo de ser decretado estado de quarentena para os habitantes da capital do Estado.

Minha mãe conta até hoje nas rodinhas de família, que lembra com clareza quando eu cheguei assustado, carregando o aparelho de televisão em seu quarto anunciando que havia começado a Operação Tempestade no Deserto. O ano era 1990 e estávamos de novo na propriedade rural da família (fazenda para os goianos) e para ter sinal decente de TV era um custo. Nesse dia passei a noite toda enxergando nos chuviscos da tela a ofensiva americana no Oriente.

Lembro-me como se fosse hoje quando vi pela TV os aviões colidindo contra as torres do World Trade Center em Nova York. Parecia coisa de cinema e custava a acreditar no que via repetidas vezes pelo aparelho de televisão. Era 11 de setembro de 2001 e eu estava na capital federal. Na mesma hora pegamos o carro e nos dirigimos a Goiânia, escutando ao longo dos 200 quilômetros que separam as duas cidades, as notícias pelo rádio. Ao longo das curvas da estrada o sinal ia se perdendo e por vezes sumia por completo. Ficava imaginando se nesse meio tempo sem sinal, haviam decretado a 3ª guerra mundial e eu não estava escutando.

Estamos no ano de 2012 e hoje as notícias saem antes de serem vividas. Pensamentos se tornam realidade antes de serem plasmados. A internet vem mais rápida que a velocidade da luz e nos municia de informações e fatos. Nos assusta, nos informa, nos redime, nos condena. Quem disser que está mal informado hoje, ou está doido ou morto. As famosas mídias sociais, na maioria das vezes sem a devida responsabilidade, disseminam casos e acontecimentos que depois de soltos tomam vida e dificilmente voltam às suas gaiolas de origem. Estão sendo soltos lindos pássaros e terríveis aberrações. São os ônus e os bônus da já démodé globalização. Bem diferente dos anos de Césio, Tempestade no Deserto e Torres Gêmeas. Onde vamos parar com essa busca incessante por velocidade? Onde vai parar nossa responsabilidade diante dos fatos e seus desdobramentos? Estaremos partindo para uma tendência Minority Report? Quais as consequências disso para o discernimento dessa geração que já nasceu acelerada?

Esses dias conversando com amigos sobre os recentes escândalos na política nacional, alguém aventou a hipótese de que a memória do brasileiro era curta e que os políticos implicados logo estariam no circuito novamente. Outro discordou e disse que as mídias sociais e a internet não deixariam que isso ocorresse. Que a falta de informação era coisa do passado. Assim espero. De coração. Que essa geração tenha rapidez nas informações, memória grande, mas que ela não seja armazenada nas nuvens.        











Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 27 de abril de 2012

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Carpe Diem

Amigos leitores
Carpe Diem!



Carpe Diem



            Terminei o dia de ontem pensando em Edith Piaf. Iniciei o dia de hoje pensando em Mário Lago. Procurei na internet uma frase que tentasse exprimir o que estava sentindo. O oráculo do século XXI. Achei essa: “Sou como Edith Piaf, Je ne regrette rien (não lamento nada). Fiz o que quis e fiz com paixão. Se a paixão estava errada, paciência. Não tenho frustrações, porque vivi como em um espetáculo. Não fiquei vendo a vida passar, sempre acompanhei o desfile.” (Mário Lago). Coincidência? Não sei. Sei que um bom tema para uma crônica está se formando. Conjumina-se a isso uma peça que assisti no meio da semana. Belíssima e emocionante Carmina Burana de Carl Orff. Um presente à sensibilidade humana. Tema: O homem não tem o controle de sua vida, o famoso livre arbítrio. Seu destino é regido pela deusa Fortuna de uma forma aleatória e sem controle humano. Complexo né? Será que conseguimos juntar tudo em uma crônica só. Tentemos.

            Ao que parece e conta a história, os nossos dois interlocutores, Mário e Edith, aproveitaram a vida ao seu máximo. Amaram, beberam, excederam. Pelo menos é o que nos leva a crer as frases proferidas. Outra coisa em comum foi o não arrependimento, e até certo orgulho de não terem sido refém da vida e sim seu principal condutor. E, além disso, colocaram a paixão como principal regente da vida. Seu fio condutor. Como se os excessos cometidos fossem justificados pela paixão avassaladora pela vida. Bonito isso né? Em tese seria. Mas e na prática? Como explicar que Piaf tenha vivido só até os 47 anos, sendo que os últimos em sofrimento físico profundo (remediado e viciado em morfina) fruto de seus excessos em vida e Lago tenha vivido até os 91 anos em plena saúde e vasta produção artística e intelectual? E aí? Tenho certeza que muitos leitores nesse momento se viram tentados a levar em consideração a teoria de Carmina Burana. Seria o homem um joguete nas mãos do destino? Seria nosso destino pré-traçado e distante de nosso controle? A deusa Fortuna controlaria nosso futuro em um jogo de cartas marcadas? Talvez só isso explicasse essa disparidade de vidas humanas que têm meios iguais e fins totalmente diferentes. Será?

            Seria tão fácil pensar assim não é? Seria até cômodo. Simplificaram a vida! Para que vou me esforçar se o destino já está traçado? Vou é viver a vida a todo vapor. Drogas, sexo e rock and roll! Aí entra um segredo do poeta Mario Lago. Paixão. Mas não era disso que estávamos falando? Da paixão que destrói? Não. Estávamos falando de conceitos diferentes. Um tinha paixão por aquilo que minava sua vida e o outro tinha paixão por aquilo que alimentava sua vida. Ambos sem arrependimento. Será? Penso que não. Até os mais equilibrados sentem arrependimentos de certas atitudes tomadas, imagina aquele que jogou sua vida no abismo por quinze minutos de embriaguês psicológica. A ressaca é bem mais duradoura do que a tontura. Isso é fato. Não quer dizer que tenhamos que viver como monges tibetanos, mas penso que o equilíbrio de atitudes deve pautar a vida. Tenhamos paixão pelo que fazemos e pelo que somos, mas sem pensar que isso nos dá o direito de desperdiçar a vida com excessos constantes.

No final das contas se quem estava completamente correto era Edith, Mário ou Carl, eu não posso precisar. Tenho minhas conclusões como os leitores também devem ter a suas. Mas uma coisa os três tinham em comum. E talvez seja essa uma das chaves da vida. O conceito cristalino do poeta romano Horácio: “dum loquimur, fugerit invida aetas: carpe diem quam minimum credula postero. (enquanto estamos falando, terá fugido o tempo invejoso: colhe o dia, quanto menos confia no de amanhã)”. Colham o dia. Com parcimônia.





Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 20 de abril de 2012

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Túlio Agonia?

amigos leitores

segue uma opinião pessoal sobre a diferença entre perseverança e obstinação.

espero que gostem, concordando ou não


Túlio Agonia?



            O tema da crônica de hoje é baseado em uma notícia que escutei essa semana. Não passaria de um fato cotidiano do nosso meio esportivo se não beirasse a insanidade. Trata-se da transferência do jogador Túlio Maravilha para um time de futebol. Mas o que tem de novo ai? Digo. Ele sai do poderoso CSE de Alagoas (nada contra o time e nem contra a bela Alagoas) e vai para o Tanabi de São Paulo (o corretor ortográfico do Word sublinhou a palavra de vermelho. Sinal de que ele não a conhece). O que tem de estranho nisso? O Tanabi Futebol Clube é da 4ª divisão do campeonato paulista! Digamos que a próxima fase seria voltar às categorias de base do futebol. Tipo tampinhas ou mirim. E vamos mais longe. Sabe qual o prazo do contrato do jogador? Tipo assim: até o final do campeonato, um ano, seis meses... Nada disso! O contrato tem prazo de validade de 8 gols. Inédito no Brasil. Pelo menos eu nunca tinha visto isso. A questão por trás do fato é que o jogador quer chegar ao seu milésimo gol, e pelas contas do mesmo restariam 15 (fonte: DataTulio). Aí chegamos ao ponto nevrálgico da questão. Até que ponto podemos chegar para realizar um sonho? Existe limite para alcançar um objetivo? Quando o nosso esforço passa de saudável para doentio?

            Antes de mais nada quero deixar bem claro que não tenho nada contra o Túlio, pelo contrário. Como torcedor do Vila Nova tenho um imenso carinho por sua dedicação ao Tigrão da Vila. Trouxe muitas alegrias à torcida colorada assim como trouxe as mesmas alegrias a torcida esmeraldina do Goiás Esporte Clube (torcida menor que a do Tigrão, diga-se de passagem). Talvez aí esteja o grande segredo de Túlio. Ter jogado por equipes arque rivais e mesmo assim ainda ser amado por ambas. O artilheiro cativante com os pés e com as palavras ficou marcado pela artilharia e pelos comentários inteligentes e marqueteiros. Teve uma carreira de elite com passagem por times estrangeiros e pela Seleção Brasileira, com vários campeonatos estaduais por diversos estados diferentes e um Campeonato Brasileiro pelo Botafogo do Rio. Talvez aí resida o olho do furacão. Será que com todo esse currículo de campeonatos e títulos importantes, já não estava na hora do artilheiro pendurar as chuteiras? Essa busca desenfreada pelo milésimo gol não poderá lhe causar uma mácula profissional irreparável?

            Como eu não tenho nada a ver com a vida e os anseios do jogador limitarei a dar minha opinião sobre as atitudes. Colocando o exemplo dele como um aprendizado que podemos concordar ou discordar. Eu entendo que devemos entender a hora de parar. Que devemos saber quando um esforço de conquista está ficando caro perto do objetivo almejado. Se isso é fácil? Nem um pouco. Principalmente para aquelas pessoas ditas obstinadas. O que pode parecer para muitos uma qualidade (perseverança), pode se tornar uma grande deficiência (obstinação). Essa deficiência cega e ensurdece o indivíduo. Como achar o caminho do equilíbrio? Eis aí uma questão delicada. Mas acho que a opinião de quem está ao nosso lado e principalmente das pessoas que nos amam deve servir de balizador para nosso caminho. Quantas vezes não escutamos de nossas mães para não fazermos algo? E geralmente a teimosia gerava consequências danosas. Outra chave é dar ouvidos à sensibilidade e tentar enxergar a razão do fato. Quando uma pessoa caminha sem escutar seu lado sensível e avistar a razão ao fim do caminho, acaba por esbarrar em pedras que poderiam ser percebidas com maior facilidade. Penso que esse seja um bom caminho a se trilhar. No mais escutei várias vezes e nesse caso concordo com aquela velha frase: “Pelé e que soube a hora de pendurar as chuteiras. No auge.” Talvez por isso tenha sido único mesmo sem ser uma unanimidade.            

Guilherme Augusto Santana
#OCoveiro
Goiânia, sexta feira 13 de abril de 2012