Carpe Diem!
Carpe Diem
Terminei o dia de ontem pensando em Edith
Piaf. Iniciei o dia de hoje pensando em Mário Lago. Procurei na internet uma
frase que tentasse exprimir o que estava sentindo. O oráculo do século XXI. Achei
essa: “Sou como Edith Piaf, Je ne regrette
rien (não lamento nada). Fiz o que quis e fiz com paixão. Se a paixão
estava errada, paciência. Não tenho frustrações, porque vivi como em um
espetáculo. Não fiquei vendo a vida passar, sempre acompanhei o desfile.” (Mário
Lago). Coincidência? Não sei. Sei que um bom tema para uma crônica está se
formando. Conjumina-se a isso uma peça que assisti no meio da semana. Belíssima
e emocionante Carmina Burana de Carl Orff. Um presente à sensibilidade humana. Tema:
O homem não tem o controle de sua vida, o famoso livre arbítrio. Seu destino é
regido pela deusa Fortuna de uma forma aleatória e sem controle humano.
Complexo né? Será que conseguimos juntar tudo em uma crônica só. Tentemos.
Ao que parece e conta a história, os
nossos dois interlocutores, Mário e Edith, aproveitaram a vida ao seu máximo.
Amaram, beberam, excederam. Pelo menos é o que nos leva a crer as frases
proferidas. Outra coisa em comum foi o não arrependimento, e até certo orgulho
de não terem sido refém da vida e sim seu principal condutor. E, além disso, colocaram
a paixão como principal regente da vida. Seu fio condutor. Como se os excessos
cometidos fossem justificados pela paixão avassaladora pela vida. Bonito isso
né? Em tese seria. Mas e na prática? Como explicar que Piaf tenha vivido só até
os 47 anos, sendo que os últimos em sofrimento físico profundo (remediado e
viciado em morfina) fruto de seus excessos em vida e Lago tenha vivido até os
91 anos em plena saúde e vasta produção artística e intelectual? E aí? Tenho certeza
que muitos leitores nesse momento se viram tentados a levar em consideração a
teoria de Carmina Burana. Seria o homem um joguete nas mãos do destino? Seria
nosso destino pré-traçado e distante de nosso controle? A deusa Fortuna
controlaria nosso futuro em um jogo de cartas marcadas? Talvez só isso explicasse
essa disparidade de vidas humanas que têm meios iguais e fins totalmente
diferentes. Será?
Seria tão fácil pensar assim não é?
Seria até cômodo. Simplificaram a vida! Para que vou me esforçar se o destino
já está traçado? Vou é viver a vida a todo vapor. Drogas, sexo e rock and roll!
Aí entra um segredo do poeta Mario Lago. Paixão. Mas não era disso que
estávamos falando? Da paixão que destrói? Não. Estávamos falando de conceitos
diferentes. Um tinha paixão por aquilo que minava sua vida e o outro tinha
paixão por aquilo que alimentava sua vida. Ambos sem arrependimento. Será?
Penso que não. Até os mais equilibrados sentem arrependimentos de certas
atitudes tomadas, imagina aquele que jogou sua vida no abismo por quinze
minutos de embriaguês psicológica. A ressaca é bem mais duradoura do que a
tontura. Isso é fato. Não quer dizer que tenhamos que viver como monges
tibetanos, mas penso que o equilíbrio de atitudes deve pautar a vida. Tenhamos
paixão pelo que fazemos e pelo que somos, mas sem pensar que isso nos dá o
direito de desperdiçar a vida com excessos constantes.
No final das contas se quem estava
completamente correto era Edith, Mário ou Carl, eu não posso precisar. Tenho
minhas conclusões como os leitores também devem ter a suas. Mas uma coisa os
três tinham em comum. E talvez seja essa uma das chaves da vida. O conceito
cristalino do poeta romano Horácio: “dum
loquimur, fugerit invida aetas: carpe diem quam minimum credula postero.
(enquanto estamos falando, terá fugido o tempo invejoso: colhe o dia, quanto
menos confia no de amanhã)”. Colham o dia. Com parcimônia.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 20 de abril de 2012
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