Corroboro.
Amor de mãe
Estava
eu sentado na sala de espera do oftalmologista pela hora do almoço de hoje.
Comigo estavam minha esposa e nossos dois pimpolhos. Montem a cena: sexta-feira,
mais de hora de espera, passada a hora do almoço, meninos com pupilas dilatadas
querendo desesperadamente correr pelos corredores. Montaram? Pois era esse meu
cenário. No meio da balburdia, bem de soslaio, consegui ver o que passava no
noticiário da pequena TV instalada na sala de espera. Era a mãe do suspeito da
chacina de Doverlândia (quem não é de Goiás basta jogar no Google para
descobrir) que havia falecido na queda do helicóptero da Polícia Civil no
começo da semana no município de Piranhas. Percebi que seu semblante era de
sofrimento. Justificado certamente pela perda do filho. A primeira reação que
me veio à mente foi de desentendimento e revolta. “Como pode uma pessoa sofrer
pela morte de um cidadão que supostamente assassinou sete pessoas e, por
tabela, provocou a morte de mais sete na queda do helicóptero?”. “Não teriam as
mães dos outros falecidos nas duas tragédias muito mais razões para chorarem?”.
Acredito que teriam sidos os primeiros pensamentos da maioria das pessoas que
me leem. Na maioria das vezes a revolta com as atrocidades não nos deixa ver o
sentimento puro e o ponto de vista alheio. Na mesma hora olhei para meus filhos
a minha volta, lembrei-me que se aproximava o dia das mães e recordei-me de
palavras da minha. “Amor de mãe é incondicional”. E outras. “Você só vai
entender esse amor incondicional quando for pai”. Hoje as entendo
perfeitamente. Cada letra soa no meu ouvido como se fosse verdade. Verdade que
descobri depois de ser pai. E vamos aqui dar a César, o que é de César. Nosso
amor, de pai, não chega aos pés do amor materno. Despi-me de toda injúria pelo
filho assassino e me compadeci da dor daquela mãe. Aquela que deu a luz,
alimentou, educou, criou. Não analisemos aqui a qualidade e eficácia dessa
educação. Se o desvio daquele cidadão foi educacional, psicológico, provocado
pelo meio ou outro motivo qualquer, não nos cabe discutir nesse momento. Vendo
aquela mãe com os olhos chorosos imaginei-a em seus momentos de reflexão se
perguntado onde tinha errado. Por que sempre se culpam. Sempre. Isso faz parte
do amor incondicional. Trazer a culpa para elas. “Preferia que fosse comigo”. Transpus
a dor materna de uma mulher que já não tinha mais nada a fazer por seu filho
para aquela sala de espera. Ali estavam os meus. Pequenos. Mentes em formação.
Quisera eu naquele momento que suas pupilas continuassem dilatadas por toda a
vida. Assim poderia guia-los com meus olhos. Evitaria que eles se iludissem com
as luzes da vida e que esbarrassem nas pedras do caminho. Mas eis o amor
incondicional novamente. Aquele que nos faz sentir que os filhos devem caminhar
com as próprias pernas. Esbarrar em suas próprias pedras. Enxergar sua própria
luz. Trilhar seu próprio caminho. É desse amor que estou falando. Do que vê o
filho saindo de casa, mas nunca do coração. Que vê o filho dando um passo
errado, mas nunca lhe nega colo. Que vê o filho querer singrar o mundo, mas
nunca lhe nega abrigo. Esse é o amor incondicional. Esse que enche meus olhos
de lágrimas ao escrever essas palavras. O mesmo que as mães sentem por seus
filhos. O mesmo que aquela mãe sentia por seu filho. Aberração para nós. Filho
para ela. Incondicional.
Meus
sentimentos às mães que perderam seus filhos na chacina de Doverlândia e na
queda do helicóptero em Piranhas. Todas as mães.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 11 de maio de 2012
talvez eu não tenha a mesma sensibilidade que você teve ao ver essa mãe, não a achei tão triste assim, principalmente repetindo exatamente as palavras da advogada que a acompanhava, talvez...
ResponderExcluirAh, e que Deus abençoe os pais na criação dos filhos e que eles (os filhos) procurem sempre fazer escolhas certas pelo que aprenderam com seus pais.
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