Sobre educação
Já diria o ditado mais
que popular, que de boas intenções o inferno está cheio. A maioria dos grandes
erros da humanidade iniciaram-se com as ditas boas intenções. E penso que
transladando para o mundo da educação infantil podemos cair na mesma vertente.
Por que digo isso? Por que como pais e educadores, estamos sempre na linha
tênue entre acertar e errar quando educamos nossos filhos. Não existe receita
de bolo no processo educacional e não passamos de experimentadores a testar
nossa capacidade de transferir conhecimentos e conceitos. E muitas das vezes,
nem dominamos e muito menos temos pacificado dentro de nós os tais
conhecimentos e conceitos que tentamos legar. Ossos do ofício dos educadores.
Por que estou falando isso? Logo explico.
Helena, minha filha
mais velha está na fase de entender o valor financeiro das coisas e
consequentemente criando fascinação pelo dinheiro, o que é muito característico
dessa fase. Eis que algumas semanas atrás ela manifestou o desejo de adquirir
um brinquedo. O pai recusou. Não por falta de dinheiro, mas por entender que a
mocinha merecia um freio em seu ímpeto consumista (que aliás, é uma coisa
extremamente difícil de combater nos dias de hoje). Não satisfeita ela decidiu
que ganharia seu próprio dinheiro para satisfazer a vontade do mimo. Nessa hora
sua direção educacional muda por completo. Passa-se de “não incentivador do
consumismo” para incentivador do “vire-se” como forma de crescimento
individual. Pois bem. Mas o que vender? Entra nesse ponto o imediatismo das
crianças que querem ver seus problemas resolvidos instantaneamente. Quando ela
percebe que não será fácil, lança-se aos prantos. Outra reação típica. Acalma-se.
Aí vem uma manifestação muito característica dela. Desenha com letras recortadas
a frase: “Helena quer vender”. O pai acha engraçadinho e posta na rede social.
As pessoas se comovem. O que aquela menina queria vender? Porque estava chorando?
Coitadinha! Mostro a ela as manifestações. Ela delira. Aí o pai dá a ideia:
Porque você não faz desenhos exclusivos e vende para as pessoas? Se tivesse uma
máquina fotográfica para poder captar o brilho no olho da criança... Colocamos
a ideia em pratica. Rede social e esperamos. Logo surgem as primeiras
encomendas. Ela rapidamente se lança aos lápis de cor. Esmera-se. Colore. Posto
os desenhos. Ela quer saber quais foram os comentários. Ela não quer dormir.
Quer fazer logo todas as encomendas. Quer saber detalhes das pessoas que
pediram os desenhos para ser bem personalista. Dá gosto ver a maneira com que
ela plasma sua alegria na folha de papel. Parece tudo perfeito né? Mas não é. E
o que isso tem de risco? Logo explico.
Parei para refletir
sobre o ato. Pontos positivos e negativos. O que provocou essa minha parada
para reflexão foi a ansiedade dela em saber o que as pessoas tinham comentado
sobre seus desenhos. As dúvidas começam a pulular na mente do pai educador. Não
estaria a pequena mente em formação preocupada demais com opiniões
instantâneas? A não confirmação das expectativas não poderia causar uma
frustração irreversível? Ou a frustração faz parte do processo de crescimento?
Em qual proporção? O imediatismo das redes sociais não traz uma dificuldade de
fixação dos conceitos permanentes? A exposição excessiva não traria uma certeza
infantil de supervalorização de suas habilidades? Para variar não sei responder
todas as perguntas. Deixo para vocês tentarem fazê-lo. O que me alenta depois
de tantas perguntas foi lembrar de uma passagem da minha infância. Quando criança
e adolescente trabalhei (durante as férias escolares) em uma loja de canetas
que pertencia à família no centro da cidade. Foram momentos de aprendizado
intenso. Convivência com conceitos que moldaram meu caráter e minha maneira de
enxergar as convivências humanas. Aprendi a tomar gosto pelo comércio e entendi
que o “não” faz parte do seu crescimento pessoal. Assim como o “sim”,
logicamente que o primeiro de maneira muito mais dolorosa. Penso que nos dias
atuais os conceitos não mudaram muito, com exceção da velocidade de informações.
Por isso fiquei mais tranquilo. Movimentar a mente de nossas crianças no
sentido de lhes disponibilizar crescimento é fundamental. Logicamente que com responsabilidade
e discernimento dos conceitos. Esse é o desafio.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 31 de agosto de 2012