sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Ser Pai também é...

Amigos leitores

Depois da poesia vem a conta.

Uma visão bem real sobre os ônus de ser pai



Ser Pai também é...



            Muitos dos leitores devem ser lembrar que a crônica da semana passada foi sobre o dia dos pais. Reeditei um semi poema dedicado a minha primeira filha por ocasião do seu nascimento. Ali ficaram escancaradas as sensações, descobertas e alegrias de um pai de primeira viagem embarcando na nave do amor incondicional. Muitos acharam lindo e poético. Eu também! Mas agora vamos bater uma real? Vamos ao lado “obrigações” do ser pai? Espero que estejam preparados, porque não vai ser nada poético dessa vez. Então aqueles que estão em dúvida sobre ter filhos, aconselho que abandonem o texto nesse momento. Não me responsabilizo por traumas de leitura.

           

            A frase “todos veem a cachaça que eu bebo, mas poucos veem os tombos que levo” seria cômica se não fosse trágica. E real. Educar filhos é uma arte no mínimo espinhosa. Delicada. Afinal estamos lidando com mentes em formação. Aí muitos poderiam supor que isso denotasse fragilidade e inocência. Ledo engano. Por estarem em formação, essas pequenas mentes ainda não distinguem bem o certo do errado e muitas vezes erram querendo acertar e acertam querendo errar. E os pais (sempre me colocando no meio destes) com seus conceitos bem definidos, não conseguem assimilar esse método infantil de erro e acerto. É fácil de entender. Mirem no exemplo. Você sabe qual cor é o azul. Eu sei também. Aprendi isso e a informação faz parte do meu conceito. Vamos lá. A criança não sabe o que é azul. Aí se você pergunta para ela onde está o azul e ela aponta o amarelo, é como se acendesse uma luz vermelha no seu cérebro. Você explica que aquele que ela apontou é o amarelo e aponta novamente o azul como a resposta certa. Pergunta de novo qual é o azul. Ela aponta para o verde. Nesse ponto o pai descobre que a repetição dos conceitos faz parte da fixação dos mesmos. Porém a paciência é inversamente proporcional ao número de vezes que você repete qual é o azul. Funciona assim. Minha filha mais velha tem me dito com frequência que não tem paciência para fazer suas tarefas de casa, e eu me pergunto: Será que eu tenho paciência suficiente para ensiná-la a ter paciência? Ou será que ela aprende melhor a ter paciência, detectando a paciência nos atos de seu pai? Seria a famosa educação por exemplos. Outro aspecto interessante que temos que lidar na educação de filhos é a firmeza de nossa postura e o valor da palavra. Essa semana estava eu, pai avulso (esposa tinha viajado), com os dois pequenos em uma feira que acontece no meu condomínio uma vez por semana. Procuro estabelecer as regras para esses eventos antecipadamente com os meninos. Tipo: primeira coisa que fazemos ao chegar é cumprimentar todo mundo da mesa e depois escolher algo para comer e depois ir brincar. Coisas desse tipo. Eis que a primeira regra estabelecida foi: Não teremos sobremesa hoje. Vocês estão comendo doce demais a noite. Ok? O mais novo pergunta: “papai, vou pedir um pastel de banana com canela. Pode?”. “Pastel de banana com canela é doce (pelo menos no meu conceito). Então não pode. Peça um de queijo.”. Sai um menino para cada lado e num átimo de segundo o que foi pedir o pastel volta. Sem o pastel e mastigando alguma coisa. Senti o cheiro de doce. Tentando me controlar pergunto o que ele comia. Ele, muito espertamente para a idade, mostrou que estava com a boca cheia e que responderia após engolir a comida. Provavelmente pensou que se falasse de boca cheia estaria cometendo dois delitos e que sua pena poderia ser maior. Logicamente que ele demorou uma década para terminar de mastigar imaginando que eu pudesse esquecer o delito. Pacientemente esperei a deglutição e perguntei novamente o que era em sua boca. Ele me respondeu que era um doce. Nessa hora dá vontade de pegar pelos cabelos e gritar qual parte do “não é para comer doce” ele não entendeu, mas de maneira sutil iniciei uma conversa. Nessa hora a mesa inteira de avós, tias e afins está a te olhar esperando sua reação. Relembrei a criança o combinado e sentenciei: Estará de castigo pelo resto da noite. O que significa isso na prática? Ficar sentado ao meu lado e não poder ir brincar no parquinho. Aí começa a revolta geral. Inicia-se pela irmã mais nova que vem igual uma cobra caninana tentar um Habeas Corpus. Nessa hora você já não está se sentido bem. Os olhares de reprovação são lançados por muitos. Você se sente injusto. A criança que está de castigo começa a argumentar e dizer que não fará mais isso e que se arrepende do seu erro. Você se sente um sem coração. A partir desse momento nada mais desce redondo. Nem o pastel nem o suco e nem a conversa. Você se sente um monstro, déspota, covarde e insensível. Mas uma coisa é certa. Você lançou sua palavra. E se tem alguma coisa que aprendi com educação é que a palavra lançada tem que ser cumprida. Uso muito um exemplo esdrúxulo para justificar a perspicácia das crianças em detectar erros paternos e se aproveitar deles. Digo que elas se assemelham aos Veliciraptores (dinossauros retratados no filme “Parque dos Dinossauros”) que ficam testando a cerca elétrica a todo o momento buscando uma falha para escaparem. Assim funcionam as crianças. Testam os pais a todo o momento e se apegam aos seus deslizes para errarem também. Correndo o risco de ser considerado um monstro, mantive minha palavra e fomos no mesmo enredo até o fim da noite. Se ele ficou com raiva de mim? Parece que não. No outro dia acordou com a felicidade que lhe é peculiar e a relação voltou ao seu estado harmônico. Se as avós, tias, irmãs e afins ficaram com raiva de mim? Provavelmente sim. Mas esse é um dos ônus da educação. Uma coisa é certa. Educar é uma função individual e intransferível. Não podemos achar que delegando a outros essa função, cumpriremos nossa missão de pai. E para não terminar só com bronca e para que o leitor não fique também achando que sou um monstro, citarei uma frase de minha autoria que postei no twitter essa semana. Ela expressa, no meu entendimento, a relação ônus e bônus de ser pai. É mais ou menos assim: “Se não tivesse tido filhos, talvez não tivessem tantos livros inacabados na minha vida, mas com certeza, o livro da minha vida estaria inacabado.”.        









Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 17 de agosto de 2012

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