A tal da logística
Estava eu pensando esses dias sobre
um assunto que está na moda. A tal da logística. O fato que ocasionou tal
pensamento foi uma manhã numa obra de reforma. Pasmem os senhores e as senhoras
que não me conhecem intimamente, que me formei engenheiro. Os trabalhos
funerários foram uma opção de vida, portanto hoje, só realizo obras para uso
próprio. Voltando ao fato, estava eu madrugando na obra que está em fase de
acabamento. Acabamento com o cidadão que vos fala. Notei que passei a manhã toda
ligando para fornecedores e, por conseguinte, proferindo palavras de baixo
calão para os mesmos. Vidro atrasado, alumínio errado, pintor que não apareceu,
ar condicionado que não chegou e por ai vai (espero que alguns fornecedores
meus leiam essa crônica). As desculpas são variadas e no fundo são as mesmas.
Na essência nada muda. Trata-se da tal da logística. Conclui naquele momento
que o trabalho de um engenheiro nos dias atuais é de logística. E assim conclui
que o do administrador também, o dos gerentes também, o dos supervisores também,
o dos políticos também... ou seja, todos hoje somos operadores de logística. Duvidam?
Senão vejamos.
Bastou um pequeno incentivo do governo
para que a construção civil aquecesse seus motores e partisse em disparada rumo
ao tal almejado eldorado. Muitos achando que finalmente o país iria se tornar
um canteiro de obras rumo ao desenvolvimento. O que aconteceu? Faltaram
materiais e mão de obra, ou seja, insumos básicos para o setor. Faltou a
logística de recursos humanos e produção do país. Nós não nos planejamos para
esse crescimento. Não temos nem pessoal e nem produção suficiente. Culpa de
quem? Da tal da logística.
Bastou um pequeno incentivo do governo
para que a agricultura fizesse jus à alcunha de “celeiro do mundo”. Produções
recordes. Safras homéricas. O que aconteceu? A China cancelou um contrato
bilionário de importação de soja brasileira por incapacidade de escoamento do
produto para o outro lado do mundo. Falta de logística de infraestrutura. As
estradas e os portos não suportam escoar a safra. Ainda utilizamos como
principal matriz de transporte o meio rodoviário. Engatinhamos na ferrovia e
hidrovia nem pensar. Culpa de quem? Da tal da logística.
Bastou um pequeno incentivo do governo
para que a indústria automobilística vendesse como nunca. O sonho do carro
próprio. Indústrias rindo para as paredes. O que aconteceu? Faltou produto.
Fila de espera de seis meses. Falta de logística de produção. Além disso,
tivemos um derramamento de veículos nas ruas das grandes cidades. Um caos
total. Falta de logística de trânsito. Muitos insatisfeitos. Os que queriam
comprar carro, mas não conseguiram o produto e os que tinham comprado mas não
conseguiram andar. Culpa de quem? Da tal da logística.
Bastou um pequeno incentivo do governo
para que muitos fizessem sua primeira viagem de avião. O sonho de tirar os pés
do chão preconizado por Santos Dumont. Passagens parceladas a perder de vista.
Junta a tralha e vamos para o aeroporto. O que aconteceu? Filas, atrasos,
cancelamentos, bate bocas. Faltou logística aeroportuária. E olha que ainda
temos uma Copa e uma Olimpíada. Privatiza, estica, encolhe, arruma e improvisa.
Os aeroportos do país não estavam preparados para essa demanda. Culpa de quem?
Da tal da logística.
Como parece que tudo é culpa da
logística, penso em sugerir a Lulu Santos e Waly Salomão que mudem a letra da
música “assaltaram a gramatica”. Segue texto sugerido:
“Assaltaram
a gramática
Assassinaram
a lógica
Meteram
poesia, na bagunça do dia-a-dia
Sequestraram
a fonética
Violentaram
a métrica
Colocaram
a culpa na logística
Meteram
poesia onde devia e não devia”
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 22 de março de 2013
Você está mais do que certo. É o príncipio da Publicidade: se você não consegue entregar, melhor não anunciar. Questão básica de "logística".
ResponderExcluirCrescimento com planejamento ágil e eficiente, coisas que o serviço público ainda tem de aprender a colocar em prática, porque na teoria somos os melhores do mundo. Mais ação, menos blá blá blá.