sexta-feira, 22 de março de 2013

a tal da logística

vamos rir para não chorar


A tal da logística

 

            Estava eu pensando esses dias sobre um assunto que está na moda. A tal da logística. O fato que ocasionou tal pensamento foi uma manhã numa obra de reforma. Pasmem os senhores e as senhoras que não me conhecem intimamente, que me formei engenheiro. Os trabalhos funerários foram uma opção de vida, portanto hoje, só realizo obras para uso próprio. Voltando ao fato, estava eu madrugando na obra que está em fase de acabamento. Acabamento com o cidadão que vos fala. Notei que passei a manhã toda ligando para fornecedores e, por conseguinte, proferindo palavras de baixo calão para os mesmos. Vidro atrasado, alumínio errado, pintor que não apareceu, ar condicionado que não chegou e por ai vai (espero que alguns fornecedores meus leiam essa crônica). As desculpas são variadas e no fundo são as mesmas. Na essência nada muda. Trata-se da tal da logística. Conclui naquele momento que o trabalho de um engenheiro nos dias atuais é de logística. E assim conclui que o do administrador também, o dos gerentes também, o dos supervisores também, o dos políticos também... ou seja, todos hoje somos operadores de logística. Duvidam? Senão vejamos.

           

Bastou um pequeno incentivo do governo para que a construção civil aquecesse seus motores e partisse em disparada rumo ao tal almejado eldorado. Muitos achando que finalmente o país iria se tornar um canteiro de obras rumo ao desenvolvimento. O que aconteceu? Faltaram materiais e mão de obra, ou seja, insumos básicos para o setor. Faltou a logística de recursos humanos e produção do país. Nós não nos planejamos para esse crescimento. Não temos nem pessoal e nem produção suficiente. Culpa de quem? Da tal da logística.

           

Bastou um pequeno incentivo do governo para que a agricultura fizesse jus à alcunha de “celeiro do mundo”. Produções recordes. Safras homéricas. O que aconteceu? A China cancelou um contrato bilionário de importação de soja brasileira por incapacidade de escoamento do produto para o outro lado do mundo. Falta de logística de infraestrutura. As estradas e os portos não suportam escoar a safra. Ainda utilizamos como principal matriz de transporte o meio rodoviário. Engatinhamos na ferrovia e hidrovia nem pensar. Culpa de quem? Da tal da logística.

           

Bastou um pequeno incentivo do governo para que a indústria automobilística vendesse como nunca. O sonho do carro próprio. Indústrias rindo para as paredes. O que aconteceu? Faltou produto. Fila de espera de seis meses. Falta de logística de produção. Além disso, tivemos um derramamento de veículos nas ruas das grandes cidades. Um caos total. Falta de logística de trânsito. Muitos insatisfeitos. Os que queriam comprar carro, mas não conseguiram o produto e os que tinham comprado mas não conseguiram andar. Culpa de quem? Da tal da logística.

           

Bastou um pequeno incentivo do governo para que muitos fizessem sua primeira viagem de avião. O sonho de tirar os pés do chão preconizado por Santos Dumont. Passagens parceladas a perder de vista. Junta a tralha e vamos para o aeroporto. O que aconteceu? Filas, atrasos, cancelamentos, bate bocas. Faltou logística aeroportuária. E olha que ainda temos uma Copa e uma Olimpíada. Privatiza, estica, encolhe, arruma e improvisa. Os aeroportos do país não estavam preparados para essa demanda. Culpa de quem? Da tal da logística.

           

Como parece que tudo é culpa da logística, penso em sugerir a Lulu Santos e Waly Salomão que mudem a letra da música “assaltaram a gramatica”. Segue texto sugerido:

 

“Assaltaram a gramática

Assassinaram a lógica

Meteram poesia, na bagunça do dia-a-dia

Sequestraram a fonética

Violentaram a métrica

Colocaram a culpa na logística

Meteram poesia onde devia e não devia”

      
 

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 22 de março de 2013

Um comentário:

  1. Você está mais do que certo. É o príncipio da Publicidade: se você não consegue entregar, melhor não anunciar. Questão básica de "logística".
    Crescimento com planejamento ágil e eficiente, coisas que o serviço público ainda tem de aprender a colocar em prática, porque na teoria somos os melhores do mundo. Mais ação, menos blá blá blá.

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