Pai de quem?
Senta que lá vem história.
Era uma vez dois pais. Ambos zelosos
por suas crias. Ao menos era assim que se achavam ser. Papai Tio Sam e papai
Tupiniquim. Separados historicamente e geograficamente. Contemporâneos, porém
distintos. Um rico e próspero. Ou outro tentando ser. Sempre tentando ser.
Papai Tio Sam protegia seus filhos com unhas e dentes. Papai Tupiniquim criava
os seus soltos no quintal. Papai Tio Sam criava briga direto para defender a
“honra” dos seus. Invadiu papai Iraque, papai Afeganistão e ameaçou papai Sírio.
Às vezes ele acha que é pai de todos. Carrega nas costas a “responsabilidade”
de defender o mundo. Muitos maldosamente dizem que Papai Tio Sam arruma
encrenca pelo menos uma vez por década para alimentar seus filhos da indústria
bélica. Prefiro não acreditar nisso. Prefiro pensar que é zelo. Liberdade de
seus filhos empunharem armas para se defenderem e defenderem o planeta. Papai
Tupiniquim não. Esse é tranquilo. Fez uma consulta popular sobre desarmamento.
No final das contas quem era para ganhar acabou perdendo e quem era para perder
acabou ganhando e até hoje ninguém sabe quem perdeu e quem ganhou. Um
verdadeiro samba do crioulo doido. Alias como tudo que se refere a papai
Tupiniquim. Mas o que importa é que seus filhos são alegres. Isso é essencial.
Já os filhos de papai Tio Sam... não posso dizer o mesmo. Vivem taciturnos.
Fingindo uma satisfação que não parece real. Talvez porque sejam muito visados.
Invejados. Por isso papai Tio Sam espiona todos aqueles que podem fazer mal a
seus filhos. E espiona também os que aparentemente são inofensivos, como o
papai Tupiniquim. Vai que né? E quando papai Tio Sam é descoberto fazendo coisa
errada, nem se digna a pedir desculpas ou sentir remorso. Mas ele não gosta de
ser espionado. Ai, ai, ai! Fica nervoso. Briga. Ele não gosta de filhos
dedo-duro. Apela para o quesito segurança nacional. Afinal faz isso tudo em
prol da felicidade de seus filhos. É zelo. Já papai Tupiniquim não. Vive
bajulando seus vizinhos fanfarrões. Papai Chavista, papai Castrista e papai
Bolívia. Coisas de ideologias passadas. Fica todo envergonhado quando comete um
deslize. Filho de Bolívia esses dias ficou mais de ano na casa de papai
Tupiniquim. Todas as conversas forma executadas para que papai Bolívia autorizasse
a saída de seu filho rebelde. Nada. Aí num lampejo hollywoodiano, filho de
papai Tupiniquim evade com o cidadão para acabar com a prosopopeia. O que papai
Tupiniquim faz? Fica envergonhado e pede desculpas. Puni seu filho teimoso. É
assim que papai Tupiniquim faz. Papai Tio Sam não pede desculpas nunca. Papai
Tupiniquim pede desculpas sempre. Até quando não é necessário. Síndrome de vira
lata. Papai Tio Sam ajuda sempre seus filhos. Protecionismo no mercado permite
que seus produtos, mesmo com custos mais elevados, sejam vendidos. Papai
Tupiniquim também. Dá bolsa para tudo. Sustenta seus filhos que estão passando
fome. Sustenta também parte dos que não estão passando fome. É porque papai
Tupiniquim é meio desorganizado sabe? Papai Tio Sam gosta das coisas bem
certas. Republicanos e Democratas. Vermelho e Azul. Elefante e burro. Não gosta
de bagunça na hora de decidir os rumos da casa. Papai Tupiniquim não. Gosta de
fartura. Um sem número de partidos. Decisões que não se firmam. Indecisões que
se perpetuam. Tudo em prol da felicidade de seus filhos. Aliás, os dois pais. Ambos
só querem ver sua prole bem nutrida e feliz. Assim também é minha intenção.
Papai Guilherme. Ver meus filhos felizes e bem educados. As definições dependem
do ponto de vista de quem olha. Paternalismo, zelo, desleixo, liberdade,
protecionismo, proteção. São palavras que fazem parte da vida de quem tem por
missão educar filhos. Mas uma palavra eu tento introduzir sempre nesse meio.
Equilíbrio. Penso que essa seja a lição de moral da história. Nem tão a papai
Tio Sam e nem tão a papai Tupiniquim.
(Texto produzido para a Revista Foccus)
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta, 06 de setembro de 2013
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