Ser ou aparecer? Eis a
questão
Senta que lá vem história.
Era uma vez um garoto de classe
média nascido no estado de Ontário no longínquo Canadá. Os pais, precocemente,
notaram no pequeno menino uma aptidão musical. Aos três anos já dominava a
bateria e aos seis, o violão. Tudo girando ali no círculo familiar, pois a mãe,
cristã fervorosa, tinha medo de incentivar a veia artística do filho temendo os
vícios e perdições do meio artístico. Melhor seria tocar na igreja. Mais
seguro. Fora alguns concursos locais de talentos, o garoto seguia sua vida
corriqueira canadense. Quando tinha por volta de treze anos, sua mãe resolveu
gravar suas atuações na voz e violão e postar no YouTube, visando que seus
parentes próximos escutassem o jovem mancebo. Assim feito e assim postado. Foi
aí que um fenômeno começou a mudar a vida do jovem pré-adolescente. A internet.
Pessoas do mundo todo começaram a acessar os vídeos. Mamãe já estava
preocupada, mas continuou com as postagens. Foi então que, por acaso, um
empresário do mundo da música se deparou com um dos vídeos. Encantou-se.
Procurou o jovem talento e com ele celebrou um contrato. Sua fama se espalhava.
Viral. Contratos milionários e contatos com famosos. Todos queriam conhecer o
fenômeno. Tudo muito rápido. Foi indicado a vários prêmios musicais e sua
fortuna pessoal não parava de crescer. Tudo na mesma proporção que seus vídeos
foram assistidos no YouTube. Como um rastilho de pólvora. Diziam alguns meios
de comunicação que sua influência nas redes sociais era maior que a do
Presidente dos Estados Unidos e do Dalai Lama. Tinha um séquito de milhares e
milhares de fãs ardorosas e sedentas por qualquer coisa que se referisse a sua
figura. Brigavam, batiam e matavam por ele. Não desmerecendo seu talento
musical (nem merecendo), mas tudo imensamente impulsionado pela internet. O
catalisador que pode potencializar.
Era uma vez o mesmo cantor. Rico e
famoso. Fenômeno de popularidade na internet. Resolveu fazer uma turnê em um
país latino. Foi recepcionado pelo orbe de fãs enlouquecidos. Todas o queriam.
Todos o queriam. Mas como a maioria dos adolescentes resolveu se divertir um
pouco. Afinal essa vida de pop star cansa de vez em quando. Acometido de um
senso de imputabilidade comum às celebridades, resolveu pichar um muro em zona
nobre da cidade onde fazia show. Olha a ideia de jerico. Foi flagrado pelas
câmaras de um fotógrafo que talvez tenha feito a vida somente com essa foto.
Num átimo de segundo a notícia se espalhou pela internet. Viral. Uns acharam um
absurdo. Outros acharam divertido. Outros acharam fantástico. Todos acharam
alguma coisa. Comentários pipocaram nas redes sociais. Trend Topics. Não
satisfeito, o pop star foi flagrado saindo de uma “casa de massagem” com duas
“amigas”. Não sei se o mesmo fotógrafo, mas também irrelevante o fato. Fotos e
vídeos pipocaram novamente pela internet. Mais uma vez o cantor tornou-se pivô
dos comentários do mundo virtual. Bateram recordes e recordes de acesso as
notícias bombásticas. Assim como a vendagem de seus discos. Tudo numa proporção
geométrica até que surgisse outro viral que iria desbancar seu trono. Até que
surgisse outro artista coletado nas vias do YouTube ou Face book ou Twitter ou
Istagram ou qualquer coisa que venha sucedê-los. E quem sabe, um dia, o jovem
fenômeno voltasse ao Canadá ou acabasse sua vida afundado nas drogas e na
ilusão de retorno da fama outrora conquistada. Tudo culpa da internet. O vírus
que pode destruir.
Era uma vez a mãe de um menino. Que
pensava em criar seu filho como toda boa mãe cristã. Ama-lo, protege-lo e
educa-lo. Mas a criança conheceu o mundo virtual. Foi amor à primeira vista. E
ele sucumbiu. E ela perdeu. Nesse momento não consigo deixar de me colocar no
seu lugar. Pai. Guardadas as devidas proporções. Travando dia a dia uma luta
insana contra a internet. O catalisador que pode potencializar. O vírus que
pode destruir.
(qualquer
semelhança com fatos reais é mera coincidência. Ou não)
Texto produzido para a Revista Foccus
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta, 08 de novembro de 2013