"Todo mundo é capaz de dominar uma dor, exceto quem a sente."
AMOR INCONDICIONAL
Ontem quando cheguei em casa senti
uma vontade imensa de abraçar minha filha. Parecia uma desejo vindo de dentro,
como um alento para meu coração apertado. Quando ela me viu, correu com um
sorriso no rosto e me abraçou como se a saudade não coubesse mais dentro de seu
coraçãozinho. Eu a abracei e fiquei por um instante com a sensação de que
aquele momento poderia se eternizar e nunca mais me separaria dela. Se pudesse
fazer um pedido a Deus naquele momento, mesmo que fosse um pedido insano, ele
seria para que um pai nunca precisasse enterrar seu filho. Mas como Deus não me
permite pedidos insanos, pedi a Ele então, um alento para os pais que acabavam
de enterrar o seu, apesar também de saber que esse pedido dificilmente iria ser
atendido.
Ontem quando vi as lágrimas
correrem nos olhos de muitos, quando vi a consternação estampada no rosto de
todos ao verem um pai e uma mãe conversarem com seu filho como se ele ainda
estivesse vivo, lembrando a si mesmos quantos momentos bons haviam passado
juntos, me lembrei que fazia muito tempo que não abraçava os meus pais. Que
fazia muito tempo que não dizia a eles o quanto os amava. E me lembrei que eu
ainda tinha essa oportunidade diferente do filho que jazia imóvel diante das
lágrimas dos seus.
Ontem quando fui dormir, não
conseguia tirar de meu pensamento o quarto vazio que havia deixado aquele filho.
Derramei mais uma lágrima imaginando a dor de seus pais ao entrarem naquele
quarto e não encontrarem mais seu filho. Somente objetos. Somente lembranças. O
quarto de minha filha também estava vazio aquela noite. Ela estava dormindo
comigo. Nem que fosse por aquela noite. Eu podia sentir seu calor e sua
respiração tranquila. Olhei para ela e segurei sua mão com força como numa
tentativa insana de acalentar dois corações distantes que não tinham mais
aquela aportunidade.
* em
memória de Tiago de Melo.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, 17/03/2008
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