sexta-feira, 29 de agosto de 2014

se estressar não dirija


Se estressar não dirija

 

Existe um desenho antigo da Disney que parece ser atual. Os que têm acima de 35 anos com certeza vão se lembrar. Um pacato cidadão chamado Pateta sai para trabalhar dirigindo seu automóvel e no decorrer do percurso se torna um louco facínora portando uma arma que é seu veículo. O que o desenho quis retratar foi a mudança que o stress cotidiano pode provocar no ser humano, quanto mais se tratando de trânsito. Eu particularmente, muitas vezes, me sinto o próprio personagem retratado pelo Pateta ao enfrentar as ruas da minha cidade. Pensando nisso e até como uma maneira de utilizar o leitor como divã de psicanalista, confesso abaixo as 8 situações de trânsito que mais me irritam. Segue:

 

1)      Tia com SUV – Impreterivelmente elas ganham aqueles monstros de carro do marido e saem às ruas para desafiar a física. Dois corpos não ocupam o mesmo lugar no espaço! E quando elas querem estacionar naquela vaga justa em uma via que só cabe um carro? Haja paciência. Dá vontade de descer do carro e propor ajuda-la a estacionar. Ou mandar ela comprar um Uno.

2)      Motorista Pac Man – Eles acham que a faixa intermitente que divide as duas pistas da rua são comidinhas do Pac Man. Só pode. Pergunta se notam o sinal de luz de quem vem atrás? Claro que não! Estão concentrados em coletar os segmentos brancos como se acumulassem energia. Dá vontade de buzinar até acabar a bateria do carro.

3)      Enxame de motos – Sabe quando você esta parado no sinaleiro imaginando acelerar quando pintar a luz verde? E ai vem um enxame de motos e estaciona na sua frente? E com certeza quando o sinal abre uma das motos apaga e o com mais certeza ainda é daquelas com ignição por pedal? Não dá vontade de acelerar o carro e passar por cima das motos como se fosse jogo de boliche?

4)      Motorista de fim de semana – Eles geralmente tem aquele chevette 81 ou Volks 79. Guardam a joia rara na única garagem da casa debaixo de lona para proteger das intempéries. Só saem da garagem aos fins de semana. Permanecem à sua frente em velocidade não detectada pelo velocímetro. Andam de vidro aberto e com os braços de fora. Estão a passeio. Vontade que dá de encostar os para choques e sair empurrando.

5)      Colado ao volante – Esse espécime de motorista ou tem problemas de visão ou de braço curto, porque ficar colado ao volante daquele jeito chega ser engraçado. O pior é que nessa posição, a visão periférica fica prejudicada e o condutor parece que dirige numa bolha isolada do restante dos motoristas. Sua velocidade média é quase parando. Dá vontade de passar e gritar: “aprendeu a dirigir na roça!”.

6)      Seta mágica – Alguns carros saem de fábrica com seta mágica. Assim que são ligadas dão direito ao motorista de entrar sem ser questionado. Deve ser isso que pensam alguns condutores. Esquecem que dentro do trânsito existe um código de educação e conduta. Setas são indicativas e não impositivas. Vontade que dá de enfiar o carro na frente e bater de propósito.

7)      Condutor legislador – Existem alguns motoristas que adoram inventar leis de transito. Ou dar interpretações próprias a algumas leis. Quem não escutou que estando na faixa da esquerda e abaixo da velocidade limite não há necessidade de dar passagem a quem vem em maior velocidade? Ou parar rapidinho só para deixar minha vó em local com placa de proibido estacionar e parar é permitido? Ou que para deixar filho em escola tem-se salvo conduto para praticar atrocidades no trânsito? Vontade de retornar com o cidadão para o banco da auto escola.

8)      Prelazia de carro forte – Muita gente xinga os carros fortes por pararem em qualquer lugar sem saber que existe uma exceção no código brasileiro de trânsito para essa categoria de veículos. Mas o que muitos não sabem é que caminhão de bebidas e caminhão cegonha NÃO SÃO CARROS FORTES! Resumidamente, não tem a mesma prelazia de parar e descarregar em qualquer lugar. Dá vontade de jogar uma granada no meliante.

 

Ufa! Terminada a seção de psicanálise, respiremos no saco algumas vezes e vamos embora enfrentar o trânsito novamente. Com a conclusão que no fim das contas culminamos na velha e boa palavra que define as relações humanas: Educação. Fora isso, uma boa dose de paciência e gentileza não faz mal a ninguém. Ou isso, ou Pateta. Literalmente cara de pateta.

 

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 29/08/14

sexta-feira, 22 de agosto de 2014

o balde de gelo da discórdia


O balde de gelo da discórdia

 

           

Sabe esses assuntos que tomam conta da semana e é impossível não tecer comentários a respeito? Pois é. Como não falar do caso “balde de gelo”? Impossível. Confesso que comecei a assistir os primeiros vídeos sem entender muito bem do que se tratava. Para aqueles que não sabem do que estou falando (acho meio difícil isso acontecer), faço um esclarecimento breve: começaram a circular na internet cenas de celebridades (ou não) se auto flagelando com um balde de água com gelo e desafiando mais três pessoas a realizar o mesmo ato. A princípio pensei ser mais uma brincadeira de internet viral. Depois do décimo vídeo procurei esclarecimentos sobre o ato insano-infantil e então descobri a motivação. Tratava-se de uma campanha para arrecadar fundos para pesquisa e tratamento da Esclerose Lateral Amiotrófica, vulgo ALS organizada por uma ONG que cuida desse assunto. Pois bem. Achei a ideia interessante e divertida. A causa me parecia nobre e tudo transcorria numa boa. Celebridades e pseudo celebridades molhadas doando dinheiro por um bom motivo. Mas como nada na internet e no mundo globalizado é simples, começaram a aparecer as críticas. “Essas celebridades estão querendo aparecer”, “isso é só autopromoção”, “A ALS atinge uma parcela mínima da população mundial”, “essas pessoas deveriam focar em doenças mais significativas como a AIDS e o ebola”, “isso é ativismo de internet”. Diante desse tiroteio todo descobri até uma expressão que não conhecia. “Slacktivism”. Que é a junção de “slack” com “activism”, o que na pratica significaria algo como “ativismo preguiçoso” ou similar. Depois que você escuta esses comentários de diversas fontes, começa a questionar a legitimidade, eficácia e seriedade dos atos. Passa até a sentir uma vergonha alheia pelas pessoas que se submeteram a brincadeira travestida de boa causa. E agora? Qual das opiniões se encaixa mais no que pensamos? Quer saber a minha? Continuo achando legal a campanha. Nesses assuntos sou adepto de Maquiavel. Os fins justificando os meios. Se as celebridades querem aparecer ou posar de socialmente responsáveis ou caridosos, não é problema meu. Se eles entendem que sua responsabilidade perante a sociedade se restringe a uma doação de vez em quando para uma campanha, eu não tenho nada a ver com isso. Nesse caso o fim, qual seja, os fundos arrecadados para uma causa nobre, foram satisfeitos. Outra. Se a causa não é das top 10 mais urgentes do planeta, não quer dizer que não mereça olhos. Entendo que existem problemas muito mais graves e imediatos, porém não quer dizer que tenhamos que abandonar outras causas que também merecem atenção. Talvez seja hora das ONG´s prestarem atenção em campanhas mais criativas para angariar fundos ao invés de criticar quem implementa uma boa ideia. Outra ainda. Entendo que a consciência social se forma aos poucos. Utopia é achar que o cidadão vai nascer totalmente politizado e consciente de suas responsabilidades sociais, e muito mais utopia achar que a sociedade vai se transformar num passe de mágica. A evolução se processa aos poucos. Lenta e gradual. E por último. Tão chato quanto a semi celebridade em busca de dez segundos de fama baseado numa causa nobre, é o pseudo socialista que critica tudo e todos baseado numa irreal visão de sociedade. Pronto falei.      

 

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, 22/08/14

sexta-feira, 8 de agosto de 2014

palmada, vara de goiabeira, puxão de orelha e afins


Palmada, vara de goiabeira, puxão de orelha e afins

 

           

Ultimamente assistindo aos noticiários tenho sentido uma vontade irrefreável de utilizar de um artifício antigo, utilizado na época de nossos pais e avós, para punir determinados atos de insubordinação de moleques levados. É um desejo quase primitivo de punir atos que a princípio parecem impensados, inconsequentes, irresponsáveis ou até mesmo absurdos. Coisas como atirar pedras nas vidraças dos vizinhos e sair correndo, ou atear fogo à batina do padre no meio da procissão, ou tirar as calças do menino mais novo e força-lo a andar pela rua pelado, ou ainda urinar nas garrafas de leite deixadas nas soleiras das portas pelo leiteiro. Parece que estou falando de coisas do século passado né? Pois é. Mas os noticiários também têm mostrado coisas que nos fazem refletir se realmente nos encontramos no século XXI. Senão vejamos.

Tirando o fato trágico do menino que teve o braço arrancado pelo tigre no zoológico de Cascavel, e de toda comoção nacional que um acontecimento desses causa por se tratar de uma criança, quem em sã consciência não sentiu vontade de pegar aquele menino pelo braço e traze-lo a força para detrás das grades? E de lhe aplicar uma bronca bem dada? E de coloca-lo de castigo sem doces por uma semana pela desobediência? Não me interpretem mal. Lembre-se que estou aqui fazendo um exercício de vontade irrefreável. Não quer dizer que o fato irá se materializar. E quem não sentiu vontade de dar um tapa naquele cidadão que filmava a cena e não interviu para tentar tirar aquele pestinha de dentro do limite proibido? E quem ainda não sentiu vontade de dar uma surra de vara de goiabeira naquele pai que permitiu que o filho brincasse com um felino daquela periculosidade? E depois de tudo isso ainda vazaram fotos na internet da criança no hospital! Olha se essa pessoa que divulgou isso não merecia um bom puxão de orelha? O excesso de exposição e a falta de limites cria uma sociedade inconsequente de seus atos.

Toda vez que vejo notícias sobre a eterna briga entre árabes e israelenses, lembro-me de minha mãe contar sobre o método que meu avô materno utilizava para resolver quizilas entre irmãos. Colocava os infringentes abraçados por determinado tempo e depois tinham que se beijar e pedir desculpas. Logicamente que dependendo do delito sobravam umas lambadas de chinelo de sola de pneu. Aí fico pensando na liberdade poética de poder amarrar os radicais dos dois povos que tanto se estapeiam. Amarrar todos juntos no deserto. Debaixo do sol escaldante. Só vão sair daí quando resolverem suas diferenças. E depois terão que se abraçar e se beijar e prometer que não farão mais isso. Crianças traquinas. Capaz de eles morrerem secos no sol ao invés de resolverem suas pendências. A falta de tolerância e aceitação das diferenças cria uma sociedade absurda.

Não gosto de falar mal de vizinho, mas que a Excelentíssima Senhora Presidente da Argentina anda merecendo umas boas palmadas nas nádegas, ah isso anda. Daquelas de deitar de bruços sobre as pernas e deitar a mão. Vejo até a cena ao som de “Não chores por mim Argentina”. Uma nação historicamente tão culta, aguerrida, determinada, se deixar levar mais uma vez por esse discurso populista bolivariano do século XIX? Parece coisa irreal. E enquanto os discursos vão para o tom de “todos estão contra nós”, ou “querem nos dominar”, a economia argentina antes tão pujante vai para o buraco. Quem anda viajando as terras dos hermanos nos últimos tempos tem notado a decadência da sociedade argentina e visto que parecem caminhar cegos atrás de líderes populistas. Só espero que em terras brasileiras não sigamos os mesmos caminhos de nossos vizinhos e sinceramente espero que alguém tenha coragem de dar as boas “palmadas” nos nossos governantes antes desse fato acontecer. A ignorância ufanista cria uma sociedade irresponsável.

No final das contas fico pensando que a vontade das palmadas, vara de goiabeira, puxões de orelha e afins vão ter que ficar realmente no campo hipotético, porque além da famosa Lei da Palmada (assunto para uma outra e polêmica crônica), temos que evoluir os métodos de tratamento da sociedade. Voltar a tratativas antigas e superadas remete a uma incapacidade do ser humano de pensar e evoluir, se bem que em determinados momentos dá uma vontade...   

  

 

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 08 de agosto de 2014