Chove Chuva pelo amor
de Deus
Nunca antes na História desse país
se acompanhou tão detidamente o volume dos reservatórios do sudeste como nos tempos
atuais. Todo dia sai uma parcial do percentual restante, igual à cotação do
dólar, a bolsa de valores e o preço do litro da gasolina. Igualmente temos o
ineditismo do descobrimento dos nomes indígenas dados aos sistemas de
abastecimento de água: Guarapiranga, Cantareira, Ato Tietê. Parece até livro de
José de Alencar. Porém uma coisa que não é inédita, sendo pelo contrário lugar
comum é a mania de jogar a culpa em outrem. O Governo do Rio culpa seu vizinho
São Paulo que culpa a população que gasta muita água que culpa a Dilma que
culpa São Pedro que acaba absorvendo a culpa sem reclamar. Ninguém aprendeu
ainda a olhar para o umbigo. Os governos com sua falta de planejamento só
conseguem apagar os incêndios (quando conseguem já que está faltando água). A
população que se acostumou com a lenda de que o Brasil é o país da fartura e agora
“farta” água (péssimo o trocadilho, porém inevitável). E São Pedro que vive pregando peças e vendo o
circo pegar fogo. Aqueles adeptos das teorias da conspiração, de bate pronto,
diriam que é algum plano malévolo de alguém que tem interesse em diminuir a
população do sudeste já tão abarrotado de pessoas. Tipo seleção natural. Os
religiosos fervorosos diriam que é castigo divino em virtude do excesso de
pecados e o resultado da eleição para Presidente. Os cantadores de cordel poetizariam
que se trata de sina dos nordestinos que migraram fugindo da seca e a mesma
seguiu seus passos. Os otimistas diriam que é coisa passageira e que logo tudo
voltará ao normal. Os pessimistas, por sua vez, diriam que pior será quando começar
a chover canivete. E aí poucos pensaram que juntamente com as exceções da mãe
natureza, em sua mudança constante, associada ao maltrato constante do planeta,
quer seja com consumo desenfreado de insumos e aumento insensato da população,
somado ao cego imediatismo governamental e ao egoísmo humano do tipo “farina
pouca, meu pirão primeiro”, podem estar causando os problemas que enfrentamos.
Mas é muito complexo pensar dessa forma. Como uma teia que se entrelaça e cada
fio puxado interfere no todo. Mais fácil supor causas simplistas e simplesmente
passar a batata quente para a mão do vizinho. Ou ainda acreditar na profecia de
Antônio Conselheiro quando previu que o sertão viraria mar, mas que havia o
medo que o mar também virasse sertão. Se assim o for, melhor ajoelhar e rezar. Mas
rezemos com parcimônia para não agastar a fúria divina. Vai que vem um dilúvio
por ai.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, 31/10/14