Brasil B
Quando escutei, pós-eleição, os
comentários estapafúrdios, insensatos, imprudentes, sem noção, preconceituosos,
xenofóbicos e imbecis sobre a separação do Brasil fiquei extremamente
decepcionado com tamanho descabimento. Seria cômico se não fosse trágico. Mas
passado o susto e a indignação, fiquei exercitando a mente em relação ao fato.
Como uma licença poética. Imaginemos se realmente tivéssemos que passar um muro
dividindo o país de acordo com o resultado das eleições. Pensa na fuzarca. Pra
começar quem ficaria com o nome “Brasil”? E o outro país se chamaria “Brasil
B”? Acho que talvez para não gerar discórdia poderíamos adotar Aeciolândia e
Dilmópolis. Aí capaz de não dar briga. Resolvido. E a capital? Aeciolândia
provavelmente continuaria com Brasília, apesar de que São Paulo seria um nome
forte. Talvez até Porto Alegre para evitar outra revolução farroupilha. Mas e
Dilmópolis? Poderia retornar a Salvador ou Rio de Janeiro, já que um dia foram
capital. Mas sem dúvida se for por merecimento seria São Luiz, cujo estado deu
a maior vitória proporcional a Dilma. Poderíamos pensar ainda em Belo
Horizonte, só para afrontar o Aécio. Mas aí geraria guerra e isso nós não
queremos né? Outro problema grave seria o que fazer com o Estado do Espírito
Santo. Se notarem bem, a linha do muro passa por Minas Gerais contorna o
Espírito Santo e depois retorna para pegar o Rio de Janeiro, ou seja, deixaria
ilhado o Estado Capixaba. Uma solução interessante seria dinamitar as
fronteiras do Estado e transformá-lo em uma ilha. Já pensaram que lindo? Ilha
do Espírito Santo. Do tipo joga-la para o oceano como quem diz: “vai
tartaruguinha!”. O problema é se ele, o Espírito Santo, afundar. Nessa mesma
situação estaria o Estado de Roraima, que incrustado em Dilmópolis, deu vitória
a Aécio. O jeito seria vender para a Venezuela e ganhar uns trocados. Ajuda a
pagar as despesas da campanha eleitoral. E para construir o muro? Pensa na
marmota?! Além dos obstáculos naturais teríamos que enfrentar o
superfaturamento que geralmente acompanha essas obras de grande vulto. Pintaríamos
o lado de cima de vermelho e o de baixo de azul. Mas antes de iniciar a
separação teríamos que fazer um recadastramento dos brasileiros. Cada um no seu
Estado de origem. Abandona tudo que construiu e corre para casa. Aí vai ser um
deus nos acuda. É filho separando de pai e mãe, marido de mulher e sogra de
genro (coisa que não é de todo ruim). Teríamos que mandar todos os nordestinos
que moram em São Paulo de volta. Os que moram em Brasília também. De Brasília
sairiam também os cariocas que vieram quando da mudança da capital, e os
mineiros que vieram ajudar. Aí teríamos que repovoar a capital, porque iria
praticamente todo mundo embora. Os gaúchos tem que descer p/ o Rio Grande. Aí
enrolou. Estão espalhados pela Bahia, Tocantins, Pará, Maranhão, Minas Gerais e
Miami. Ah não! Miami o Aécio ganhou. Podem ficar por lá. Os baianos artistas
(praticamente todos) teriam que voltar para a terrinha, o que tornaria a Bahia
o Estado com maior número de artistas desempregados de Dilmópolis. É nesse
interim que entendemos que até o realismo fantástico ou o surrealismo
imaginativo têm suas limitações. Como arrancar do goiano a raiz mineira? Como
tirar de São Paulo o nordestino que adotou a cidade como sua? Como só ir às
praias frias de Santa Catarina? Como recolher os gaúchos espalhado por cada
canto desse país produtivo? Sempre nos orgulhamos da nossa diversidade e
tolerância, e não será agora que deixaremos que isso se perca. Eu não quero ser
cidadão de Dilmópolis e nem de Aeciolânia. Eu sou brasileiro. Com muito
orgulho. Com muito amor.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, 28/10/14
Nenhum comentário:
Postar um comentário