sexta-feira, 26 de junho de 2015

as tais rimas pobres


As tais rimas pobres

 

Esse é o país que nós temos

Segue o breve relato.

A não ser que mudemos

Ou encaremos o fato.

 

Se gritarem lava jato

E a polícia anunciar operação,

Melhor correr pro mato

Ou ir para o hospital do coração.

 

Ameaça de detenção

E delação premiada,

Solta habeas corpus como prevenção

Ou prisão relaxada.

 

Crise apertou

E o dólar disparou,

Partiu exterior

E Caldas Novas inflacionou.

 

Se não vê a inflação à vista

E continua consumindo de carrada,

Melhor procurar um oculista

Ou sua poupança estará ameaçada.

 

Água tá parada

Se o mosquito não conter,

Dengue nada de braçada

Ou Chikungunya você pode ter.

 

Presidenta vai falar

E no papel é ela quem manda,

Prepara para gargalhar

Ou bate panela igual uma banda.

 

Morre em acidente de carro

E o falecido é famoso,

Sempre tem gente tirando sarro

E fotos e vídeos rolando na rede a rodo.

 

A seleção já não encanta

E o Neymar é processado e tudo mais,

Melhor perder a esperança

Imagina nós reles mortais.

 

Tem juiz que só quer julgar

Tem polícia que só quer prender,

E alguns vendendo liminar

E outros querendo aparecer.

 

Melhor resumo não me cobres

É o que temos para o momento.

Um punhado de rimas pobres

Terminando com um lamento.

 

             

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 26 de junho de 2015

sexta-feira, 19 de junho de 2015

NYC continua...


NYC continua...

 

            NYC continua sendo a única cidade do mundo que é reconhecida somente com as iniciais. Ah não sabe de que cidade estou falando?! Conta outra! Logo virão os fanáticos californianos dizerem que LA também o é, mas o meu corretor ortográfico não entende assim. Logo arruma para LÁ. Já a sigla de NYC ele mantém do jeito que está. Incólume. Absoluta. Assim continua sendo a cidade. Receptiva com seus habitantes e com seus visitantes. Mesmo que tenha cicatrizes ainda doloridas. Mas não se fazem de rogado. Não se deixam abater. Constroem parques e memoriais sobre suas feridas. Edifícios mais altos para mostrar que são fortes. Mas ao mesmo tempo frágeis como a árvore que resta apoiada em cabos de aço como testemunha do atentado de 2001. Continua sendo o celeiro de povos. Caldeirão de etnias. Sabores, cores, aromas e idiomas que se misturam em cada esquina como numa torre de babel. Uma desordem ordeira. Onde tudo tem regra. E cada cidadão faz questão de seguir essa ordem. NYC continua sendo a cidade mais americana e menos americana da América. Sempre.

 

            NYC continua um caos no trânsito. Mas que metrópole não é? Aproveite para andar de metrô. Garanto que se locomoverá com maior velocidade e facilidade. Ao invés de esperar duas horas para andar dez quadras de taxi, se embrenhe pelos subways nova iorquinos que a recompensa é certa. Entre passantes e pisantes poderá encontrar joias da arte popular em apresentações de street dance e jazz. E se der muita sorte (tipo sorte da Mega Sena) poderá esbarrar com Bono Vox e The Edge tocando em qualquer das estações. Mas se não encontrar, mesmo assim poderá esperar o trem com entretenimento de primeira. E não precisa ficar com receio do emaranhado de linhas de metrô. Basta ter paciência de olhar com mais atenção os mapas. E de preferência abaixar um aplicativo com o mapa das rotas. Organizado e simples. E nada melhor que a sensação de parar na estação Times Square e subir as escadas avistando a efervescência das luzes dos letreiros. Coisa de cinema. Ande a pé também. Alias em determinados momentos não tem outra alternativa. Assim poderá ver a miscelânea da arquitetura. Catedrais góticas, prédios corporativos curvos, edifícios de tijolo aparente e suas escadas externas. Cada passo uma descoberta. Descubra também as pessoas. indianos, ucranianos, mexicanos, chineses, brasileiros.  Cada um com sua indumentária, com sua face característica, com seu passo e sua cultura. Mas apesar do caos de veículos e pessoas, a cidade continua incrivelmente limpa. Raramente se nota meios fios quebrados ou tampas de bueiro fora do lugar. Calcadas perfeitas para transito de pedestres. Cidade dos pedestres. NYC continua sendo um caos harmônico. Sempre.              

             

            NYC continua sendo um paraíso da gastronomia. Ah esse assunto eu domino. Tem para todos os gostos. Do mais renomado restaurante estrelado como o Blue Hill à melhor comida de rua como o Halal Guys. Alias não consegui comer no primeiro por falta de verba e no segundo porque a fila estava impraticável. Mas está valendo. Quer uma dica? Ouça as dicas. Do tipo: “tem um sanduiche no lobby do hotel Meridien detrás de uma cortina de veludo vermelho que é de comer ajoelhado”. Quase literalmente, porque o local é tão pequeno que o negócio é comer de pé mesmo. Ou ainda: “vá ao Chelsea Market e coma uma dúzia de ostras com uma cerveja IPA daquelas de amargar o fundo da língua e depois veja o pôr do sol do Highline Park”. Coisas de tirar o fôlego (as ostras a IPA e o pôr do sol). Alguns locais continuam sendo a coqueluche do momento. O Eataly continua imperdível. Mas anda jorrando gente pelo ladrão. Brasileiro então... Quer um plano B? Suba até o 14º andar e almoce na birreria (cervejaria em italiano) recém-inaugurada. Vai se sentir numa roof party. E, além disso, poderá experimentar a famosa DogFish. Meio cerveja e meio reality show. Agora não se assuste ao pagar a conta. NYC continua sendo uma cidade cara. Ainda mais com o essa cotação horrenda do dólar. Mas se de tudo não quiser gastar muito coma um hot dog na rua mesmo. Existe para mais de mil. Satisfação garantida. NYC continua sendo a cidade da comida. Sempre. 

 

            NYC continua sendo a cidade da cultura. Quer assistir uma peça? Tem. Quer assistir um balé? Tem. Quer ir a um museu? Tem também. Mas não são quaisquer peças, balés e museus. São os melhores do mundo. Tem coisas para fazer que daria uma vida inteira. Mas se quiser repetir pode também. O museu de História Natural, por exemplo, pode-se permanecer por lá uns 2 dias ou 22 anos. Tem coisa para ver e se surpreender. As peças da Broadway cada dia se superando. Quer assistir um show man em ação? Vá ver Alladin. Pensa num gênio da lâmpada que dança, sapateia, canta e encanta. Agora se estiver interessado em algo mais erudito pode assistir a um balé no Metropolitan Opera. Espetacular. Só a arquitetura do local já vale o ingresso. E se de tudo não tiver com verba disponível para bancar um desses, vá a Times Square porque lá o espetáculo é certo. De música de rua a atores andando seminus com seus corpos pintados. Diversão em cada esquina. NYC continua sendo a capital do entretenimento. Sempre.  

 

            NYC continua sendo tudo isso e mais um pouco. Continua sendo Central Park e suas locações de filmes. Continua sendo Times Square e sua profusão de luzes e pessoas. Continua sendo a estátua da liberdade e a ponte do Brooklyn restando impávidos na baia. Continua sendo as lojas de grife da 5ª Avenida e os brechós da 7ª. Continua sendo o Empire State Building e o King Kong. Continua sendo o Rockefeller Center e o Wall Street. Continua sendo o Carnegie Hall e o Metropolitan Opera. Continua sendo dos americanos e do mundo todo. Continua sendo arrebatadora de corações como o do que vos escreve nesse momento. Continua sendo NYC. Always.

 

             

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 19 de junho de 2015
 


terça-feira, 16 de junho de 2015

A conquista da América


A conquista da América

 

 

            Começo essa crônica com os olhos rasos d´água. Assim como estavam no dia da apresentação. Mas não se preocupem que são de alegria. De realização de pai. Daquele sentimento que vai brotando do coração e afeta dois pontos em especial. Os lábios com o sorriso e os olhos com a lágrima. Se todos ao meu lado não estivessem no mesmo estado de transe em que me encontrava, juro que teria pedido por um beliscão. O que acontecia era coisa quase inacreditável. Crianças subindo ao palco de um dos maiores expoentes da música mundial. Mas não eram quaisquer crianças. Eram músicos que estavam treinando em exaustão por um semestre inteiro. Mas não estavam apresentando quaisquer músicas. Tocaram peças de compositores brasileiros. Mas não era qualquer casa de música. Era o Carnegie Hall em Nova Iorque. E isso tudo só começou a fazer sentido quando passando pelos corredores da casa, pude ver quadros dos que haviam se apresentado lá. Não precisava legenda para nominar. Beatles, Edith Piaf, Frank Sinatra e Louis Armstrong. E agora minha filha. Os nossos filhos. Vocês conseguem abarcar a dimensão disso que estou tentando narrar em meio às lágrimas que me atrapalham? Eu também achava que tinha até entrar na sala de espetáculos e ver o piano solitário criar vida com os acordes dos talentosos e privilegiados pianistas que ali se sentavam. Coisa de gente grande. O pai se tremia todo na cadeira da plateia enquanto uma criança de nove anos deslizava seus dedos pelas teclas de marfim como se fosse habitual e corriqueiro. Fez parecer fácil. Mas não era. Lembrei-me de todo o esforço dos treinos. Das horas ausentes das brincadeiras dedicadas aos estudos. Das aulas, audições, saraus e apresentações exaustivas. Comia música, dormia musica, respirava música. Camargo Guarnieri, autor das músicas que ela interpretou, já era parente bem próximo. Como se fosse da família. Alias família foi que ganhamos em toda essa cruzada. Pais, mães, avós, tias, amigos e professores que se tornaram família por uma semana. Os que estavam presentes realmente e virtualmente. Uns cuidando dos outros como se filhos e pais fossem. Cada um vibrando com a vitória dos seus, dos outros e dos nossos. Sim! Dos nossos. Somos uma família ligada pelo estrondoso sucesso. Ligados pelo coração. Ligados pelos brindes nos almoços e jantares. Ligados pelos risos e prantos de alegria. Ligados pelos hospitais (mas só de vez em quando). Ligados pela brisa quente do central Park. Ligados pelas luzes da Times Square. Ligados pelo carinho dos professores. Esse um capítulo a parte. Mestres no sentido literal da palavra. Acolhimento, ensinamento e engrandecimento. Ligados pela gratidão. Ligados por um fio invisível que nos tornou fortes e grandes. E se hoje, ao escrever essa crônica, meus olhos se enchem de lágrimas, assim como se encheram no dia da apresentação, é porque sei que não vivi essa emoção só. Vivemos essa emoção. Um furacão tropical musical arrebatou Nova Iorque. A América nunca mais será a mesma depois desse 10/06/2015. Nem nós. Bravo! Bravíssimo!        

             

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, terça feira 16 de junho de 2015