A
conquista da América
Começo
essa crônica com os olhos rasos d´água. Assim como estavam no dia da
apresentação. Mas não se preocupem que são de alegria. De realização de pai.
Daquele sentimento que vai brotando do coração e afeta dois pontos em especial.
Os lábios com o sorriso e os olhos com a lágrima. Se todos ao meu lado não
estivessem no mesmo estado de transe em que me encontrava, juro que teria
pedido por um beliscão. O que acontecia era coisa quase inacreditável. Crianças
subindo ao palco de um dos maiores expoentes da música mundial. Mas não eram
quaisquer crianças. Eram músicos que estavam treinando em exaustão por um
semestre inteiro. Mas não estavam apresentando quaisquer músicas. Tocaram peças
de compositores brasileiros. Mas não era qualquer casa de música. Era o
Carnegie Hall em Nova Iorque. E isso tudo só começou a fazer sentido quando
passando pelos corredores da casa, pude ver quadros dos que haviam se
apresentado lá. Não precisava legenda para nominar. Beatles, Edith Piaf, Frank
Sinatra e Louis Armstrong. E agora minha filha. Os nossos filhos. Vocês
conseguem abarcar a dimensão disso que estou tentando narrar em meio às
lágrimas que me atrapalham? Eu também achava que tinha até entrar na sala de
espetáculos e ver o piano solitário criar vida com os acordes dos talentosos e
privilegiados pianistas que ali se sentavam. Coisa de gente grande. O pai se
tremia todo na cadeira da plateia enquanto uma criança de nove anos deslizava
seus dedos pelas teclas de marfim como se fosse habitual e corriqueiro. Fez
parecer fácil. Mas não era. Lembrei-me de todo o esforço dos treinos. Das horas
ausentes das brincadeiras dedicadas aos estudos. Das aulas, audições, saraus e
apresentações exaustivas. Comia música, dormia musica, respirava música.
Camargo Guarnieri, autor das músicas que ela interpretou, já era parente bem
próximo. Como se fosse da família. Alias família foi que ganhamos em toda essa
cruzada. Pais, mães, avós, tias, amigos e professores que se tornaram família
por uma semana. Os que estavam presentes realmente e virtualmente. Uns cuidando
dos outros como se filhos e pais fossem. Cada um vibrando com a vitória dos
seus, dos outros e dos nossos. Sim! Dos nossos. Somos uma família ligada pelo
estrondoso sucesso. Ligados pelo coração. Ligados pelos brindes nos almoços e
jantares. Ligados pelos risos e prantos de alegria. Ligados pelos hospitais
(mas só de vez em quando). Ligados pela brisa quente do central Park. Ligados
pelas luzes da Times Square. Ligados pelo carinho dos professores. Esse um
capítulo a parte. Mestres no sentido literal da palavra. Acolhimento, ensinamento
e engrandecimento. Ligados pela gratidão. Ligados por um fio invisível que nos
tornou fortes e grandes. E se hoje, ao escrever essa crônica, meus olhos se enchem
de lágrimas, assim como se encheram no dia da apresentação, é porque sei que
não vivi essa emoção só. Vivemos essa emoção. Um furacão tropical musical
arrebatou Nova Iorque. A América nunca mais será a mesma depois desse
10/06/2015. Nem nós. Bravo! Bravíssimo!
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, terça feira 16 de junho de
2015
Helena linda! Que emoção, hein pai!
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