sexta-feira, 10 de julho de 2015

Pedala!


Pedala!

 

           

Essa semana foi divulgada a notícia de que o Papa Francisco receberá no Vaticano cinquenta prefeitos de todo mundo para discutir, entre outros temas, a nova Encíclica papal. Para quem não está familiarizado com o tema, as encíclicas são cartas solenes, doutrinárias ou dogmáticas dirigidas pelo Papa ao clero católico de todo o mundo.  Trocando em miúdos, o livro de regras da Igreja Católica Apostólica Romana. Nada com que se estranhar, visto que os sumo pontífices costumam se valer desse artifício regimental para pastorear seu rebanho. O que causa estranheza, e, diga-se de passagem, estranheza boa, é o fato de que a Encíclica Laudato Si (Louvado Seja) trata do assunto sustentabilidade ambiental. Olha se não é um fato inusitado. Já não bastasse a perspicácia com que o Papa tem tratado com os assuntos dogmáticos da Igreja, agora está opinando e influenciando o aspecto ambiental mundial. Laudato Si eu me atreveria a dizer     a ele.  Atitude de se aplaudir de pé. Mas não vou aqui desfiar a minha tietagem em relação ao pop Francisco porque não é esse o ponto que quero abordar. Mas vale o registro. Voltando ao encontro com os líderes municipais, o convite foi feito a sete prefeitos de cidades brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador, Porto Alegre e Goiânia. Logicamente que todos se sentiram extremamente honrados com o convite e devem ter pretensões intensas de discussão com o revolucionário Papa argentino. Eu também as teria se estivesse no lugar deles. Por conta disso fiquei recordando a via crucis que a cidade de Goiânia, onde sou nascido, criado e residido, tem percorrido para tentar se tornar um pouco mais sustentável. Forante as propagandas exageradas dos governos, a cidade sempre teve orgulho de ser bastante arborizada e de certa forma sempre acolheu a ideia com muito gosto. Mas sempre permaneceu nesse diapasão. Porém há muito tempo tem-se criado um senso comum de que somente árvores não bastam. É preciso tratar o assunto com mais profundidade. Pois não se trata somente de verde. E nos últimos tempos o assunto mais discutido foi o trânsito e suas toneladas de poluentes lançados na atmosfera. Esse é um fato recorrente e crítico. Quem está contido dentro dos muros da cidade muitas vezes não percebe a má qualidade do ar, envenenamento lento, gradual e letal. E é numa dessas vertentes de tentativa de diminuição da poluição e consequente melhoria do trânsito da metrópole, que tomou força a ideia das ciclovias. Substituição de parte do transporte veicular motorizado pelo mecânico humano. Mas tem sido um parto. Chuva de críticas. Ácidas. Não tem adiantado os exemplos de cidades mundiais que mudaram seu perfil de transito e aderiram às duas rodas como solução. Não tem adiantado números e mais números mostrando a melhoria nos índices. Isso tudo esbarra na incredulidade de uma população cansada de ser ludibriada e leniente em relação ao seu status quo. Todos querem mudar, mas contanto que não afete o seu modo de viver. Todos querem ceder, mas contanto que o outro ceda primeiro. Todos querem melhoria, mas contanto que não cause transtornos. Não que a implantação de ciclovias vá resolver o problema de uma vez por todas. Não. Mas faz parte de um arcabouço de pontos que incluem também transporte público mais eficiente, melhoria na infraestrutura da cidade e uso de veículos menos poluidores. Mas isso também é uma mania que emana da nossa cultura. A inocência ignorante e pueril de que os problemas se resolvem num piscar de olhos com soluções mágicas e instantâneas. Coisa de conto de fada. E assim vamos seguindo nosso caminho ao calvário pregando um discurso e fazendo outro. Como em diversos assuntos nesse nosso país. Mas não vamos esmorecer. Vamos rir de nossas próprias desgraças. Por isso peço liberdade para uma sátira poética. Antes que venham me crucificar. Penso que falta ao nosso prefeito, para concretizar de vez as ciclovias na nossa cidade, contratar os especialistas no assunto. Para Secretário de Esportes vamos chamar o Robinho e suas pedaladas futebolísticas. Para Secretário de Finanças vamos encampar o Ministro Levy e suas pedaladas fiscais. E por fim para Secretário de Governo convidaremos o Presidente Eduardo Cunha e suas pedaladas legislativas. Pronto! Quem disse que não somos o país do pedal?! Logicamente que tudo com a benção do Papa. Amém.    

 

 

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 10 de julho de 2015

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