Pedala!
Essa semana foi divulgada
a notícia de que o Papa Francisco receberá no Vaticano cinquenta prefeitos de
todo mundo para discutir, entre outros temas, a nova Encíclica papal. Para quem
não está familiarizado com o tema, as encíclicas são cartas solenes,
doutrinárias ou dogmáticas dirigidas pelo Papa ao clero católico de todo o
mundo. Trocando em miúdos, o livro de
regras da Igreja Católica Apostólica Romana. Nada com que se estranhar, visto
que os sumo pontífices costumam se valer desse artifício regimental para
pastorear seu rebanho. O que causa estranheza, e, diga-se de passagem,
estranheza boa, é o fato de que a Encíclica Laudato
Si (Louvado Seja) trata do assunto sustentabilidade ambiental. Olha se não
é um fato inusitado. Já não bastasse a perspicácia com que o Papa tem tratado
com os assuntos dogmáticos da Igreja, agora está opinando e influenciando o
aspecto ambiental mundial. Laudato Si
eu me atreveria a dizer a ele. Atitude de se aplaudir de pé. Mas não vou
aqui desfiar a minha tietagem em relação ao pop Francisco porque não é esse o
ponto que quero abordar. Mas vale o registro. Voltando ao encontro com os
líderes municipais, o convite foi feito a sete prefeitos de cidades
brasileiras: São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Curitiba, Salvador,
Porto Alegre e Goiânia. Logicamente que todos se sentiram extremamente honrados
com o convite e devem ter pretensões intensas de discussão com o revolucionário
Papa argentino. Eu também as teria se estivesse no lugar deles. Por conta disso
fiquei recordando a via crucis que a
cidade de Goiânia, onde sou nascido, criado e residido, tem percorrido para
tentar se tornar um pouco mais sustentável. Forante as propagandas exageradas
dos governos, a cidade sempre teve orgulho de ser bastante arborizada e de
certa forma sempre acolheu a ideia com muito gosto. Mas sempre permaneceu nesse
diapasão. Porém há muito tempo tem-se criado um senso comum de que somente
árvores não bastam. É preciso tratar o assunto com mais profundidade. Pois não
se trata somente de verde. E nos últimos tempos o assunto mais discutido foi o
trânsito e suas toneladas de poluentes lançados na atmosfera. Esse é um fato
recorrente e crítico. Quem está contido dentro dos muros da cidade muitas vezes
não percebe a má qualidade do ar, envenenamento lento, gradual e letal. E é
numa dessas vertentes de tentativa de diminuição da poluição e consequente
melhoria do trânsito da metrópole, que tomou força a ideia das ciclovias. Substituição
de parte do transporte veicular motorizado pelo mecânico humano. Mas tem sido
um parto. Chuva de críticas. Ácidas. Não tem adiantado os exemplos de cidades
mundiais que mudaram seu perfil de transito e aderiram às duas rodas como
solução. Não tem adiantado números e mais números mostrando a melhoria nos
índices. Isso tudo esbarra na incredulidade de uma população cansada de ser
ludibriada e leniente em relação ao seu status
quo. Todos querem mudar, mas contanto que não afete o seu modo de viver.
Todos querem ceder, mas contanto que o outro ceda primeiro. Todos querem
melhoria, mas contanto que não cause transtornos. Não que a implantação de
ciclovias vá resolver o problema de uma vez por todas. Não. Mas faz parte de um
arcabouço de pontos que incluem também transporte público mais eficiente,
melhoria na infraestrutura da cidade e uso de veículos menos poluidores. Mas
isso também é uma mania que emana da nossa cultura. A inocência ignorante e
pueril de que os problemas se resolvem num piscar de olhos com soluções mágicas
e instantâneas. Coisa de conto de fada. E assim vamos seguindo nosso caminho ao
calvário pregando um discurso e fazendo outro. Como em diversos assuntos nesse
nosso país. Mas não vamos esmorecer. Vamos rir de nossas próprias desgraças.
Por isso peço liberdade para uma sátira poética. Antes que venham me
crucificar. Penso que falta ao nosso prefeito, para concretizar de vez as
ciclovias na nossa cidade, contratar os especialistas no assunto. Para
Secretário de Esportes vamos chamar o Robinho e suas pedaladas futebolísticas.
Para Secretário de Finanças vamos encampar o Ministro Levy e suas pedaladas
fiscais. E por fim para Secretário de Governo convidaremos o Presidente Eduardo
Cunha e suas pedaladas legislativas. Pronto! Quem disse que não somos o país do
pedal?! Logicamente que tudo com a benção do Papa. Amém.
Guilherme Augusto
Santana
Goiânia, sexta feira 10 de julho de 2015
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