sexta-feira, 8 de janeiro de 2016

cria tipo menino!


Cria tipo menino!

         

Quando eu era criança pequena lá em Barbacena (mentira que sou goianiense do pé rachado) tinha mania de achar que tinha razão. Toda razão do mundo. Não podia ser questionado e muito menos acusado de estar errado, afinal eu era a razão em pessoa. Chamava isso de obstinação. Pulso firme. Inflexível. Estava certo até quando estava errado. E algumas vezes (senão a maioria) quando percebia que podia ter uma nesga de engano permanecia firme na minha posição como um exército de um homem só. Inabalável. Intransigente em minha certeza racional. Racional em minha certeza intransigente. Ou seja, era um reizinho déspota. Isso em uma criança chega a ser bonitinho. Fofinho. “Olha que gracinha dando birra de teimosia”. Conforme você vai crescendo a coisa vai mudando. O que era bonitinho e fofinho passa a ser preocupante. Mas tem sempre o da família que solta um: “mas ele não está roubando. Isso é de família”. Pronto! Mais uma justificativa. Deficiência familiar. Tem que ser preservada. Tradição que se deve carregar. Ensinar filhos e netos. Joias da coroa. Observaram que agora já passou à categoria de deficiência né? Antes era característica. Individualidade. Agora já passa para o rol do negativo. Mas é de família. Herança. Não podia fugir disso. Né não? Né não! Foi quando comecei a perceber como determinadas deficiências são acalentadas com carinho e se transformam em monstros devorando seu caráter. Viram bichos indomáveis que aterrorizam as pessoas que convivem com você. O que fazer já que tinha a razão? Isolar numa luta solitária contra o mundo? Partir para um ataque suicida e passar de louco? E se eu não estivesse com a razão sempre? Imaginem essas ideias passando na cabeça de um adolescente. Foi isso que ocorreu comigo. Como agir? Primeiro identificando o monstro. Seu modo de agir e de operar. Suas recorrências e situações de fragilidade. Depois passando a limitar suas ações. Não alimentando seu ego e nem passando a mão na sua cabeça. Aos poucos ele vai diminuindo e diminuindo até se tornar um bicho de estimação. Mas não me engano que ele é traiçoeiro. Pode crescer a qualquer momento. Debaixo do meu nariz. Voltar a aprontar das suas. Aliás de vez em quando apronta. Mas com menor frequência do que fazia em outros tempos. Chego a ficar de camarote as vezes observando ele tentar morder meu calcanhar. Mas não me iludo. Sei que ele me acompanhará até os meus últimos dias a fazer companhia. Penosa companhia. Resta-me somente nesse tempo mostrar quem manda em quem. Não deixar nunca que se invertam os papeis. E resta-me ainda o mais importante. Passar adiante. Aos meus filhos e netos. Uma herança nova. Fácil? Nem de longe. Possível? Totalmente. Afinal, quem tem razão, dá razão.

(Crônica dedicada carinhosamente a Kim Jong Un. Cria tipo menino!)       

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 08 de janeiro de 2016

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