Sopa de minhoca
Se
acompanharmos a História brasileira bem de perto, notaremos que desde o início
da colonização pelos portugueses, o trabalho era visto como um castigo. Algo
impuro e relegado às classes menos abastadas e principalmente aos escravos. Por
toda sorte tentaram acorrentar os índios e não tendo conseguido, recorreram aos
negros africanos para tal serviço. Isso se estendeu por alguns séculos e esse
conceito de trabalho ser algo ruim se perpetuou na cultura do nosso país.
Talvez por isso, uma das deficiências que mais acomete o brasileiro seja a propensão
ao fácil. Se a coisa é fácil não gera trabalho. E trabalho, como já mostramos,
não é nada desejado. Aí vemos pipocar diversas situações que futuramente temos
a certeza que se tornarão grandes problemas, e o “trabalho” para resolve-las
será, com certeza, bem maior. Digamos que seria um parcelamento do trabalho em
longas prestações, mas com juros exorbitantes. Ao final gera um passivo imenso
e muitas vezes impagável. Querem ver alguns exemplos? Todo brasileiro, acima de
18 anos, tem o dever e o direito cívico de votar não é? Pois bem. E qual o
percentual desses cidadãos, após eleger seu candidato ao que quer que seja,
exerce o direito da cobrança? Sou capaz de deduzir que muito poucos. Aí vêm os
aumentos de impostos, ingerências, corrupções, roubos entre outros e o coro se
põe a reclamar. Reclama de tudo. Mas porque a cobrança não é feita
sistematicamente dos nossos gestores? Porque dá trabalho né? Porque temos
outras coisas mais importantes a fazer né? Pois é. Aí nos deparamos com o que
está acontecendo em nosso país. Uma conta absurda e praticamente insolúvel.
Quem “vamos” pagar a conta ao final? Quer outro exemplo? Vejo inúmeros pais
delegando a educação de seus filhos aos colégios. Pagam mensalidades caras e
com isso entendem que tem o direito a uma educação proporcional ao montante que
desembolsam. Como se educação se comprasse em prateleira. Pois bem. Esses
mesmos pais exercem o papel de educação dentro de casa? Estão em sintonia com
os professores para auxiliar nessa educação formal? Dá trabalho né? Mais fácil
deixar a criança grudada no vídeo game e afins devorando um pacote de bolachas
recheadas. Muito mais fácil. Depois o professor que se vire na escola. Estou
pagando caro é para isso. Aí vemos crescer uma geração de crianças sem educação
e cheia de direitos. Cara a conta no futuro? Pois é. Quem “vamos” pagar a conta
ao final? Querem ver algo pior? Se não bastasse a negligência com seu país e
com seus filhos, vemos cada dia mais presente os que não tem preocupação nem
consigo mesmo. Aqueles que vão ribanceira abaixo em termos de valores morais.
Batem no peito exigindo os direitos mas negligenciam como podem seus deveres. Mas
perceber deficiências e lutar para melhorar dá muito trabalho né? Melhor ficar
como está. Mais fácil. Deixa para os outros. E no fundo todos nós pagamos a
conta ao final, por estarmos alimentando essa propensão limitadora e danosa. Enquanto
não percebermos que somos diretamente responsáveis pelo futuro da humanidade e
atuarmos em prol disso, sem delegar a ninguém nossa responsabilidade,
continuaremos pagando essa conta salgada. Porque no fundo a vovó é que estava
certa. Quer moleza? Toma sopa de minhoca.
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 05 de fevereiro de 2016
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