sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

sopa de minhoca


Sopa de minhoca

         

          Se acompanharmos a História brasileira bem de perto, notaremos que desde o início da colonização pelos portugueses, o trabalho era visto como um castigo. Algo impuro e relegado às classes menos abastadas e principalmente aos escravos. Por toda sorte tentaram acorrentar os índios e não tendo conseguido, recorreram aos negros africanos para tal serviço. Isso se estendeu por alguns séculos e esse conceito de trabalho ser algo ruim se perpetuou na cultura do nosso país. Talvez por isso, uma das deficiências que mais acomete o brasileiro seja a propensão ao fácil. Se a coisa é fácil não gera trabalho. E trabalho, como já mostramos, não é nada desejado. Aí vemos pipocar diversas situações que futuramente temos a certeza que se tornarão grandes problemas, e o “trabalho” para resolve-las será, com certeza, bem maior. Digamos que seria um parcelamento do trabalho em longas prestações, mas com juros exorbitantes. Ao final gera um passivo imenso e muitas vezes impagável. Querem ver alguns exemplos? Todo brasileiro, acima de 18 anos, tem o dever e o direito cívico de votar não é? Pois bem. E qual o percentual desses cidadãos, após eleger seu candidato ao que quer que seja, exerce o direito da cobrança? Sou capaz de deduzir que muito poucos. Aí vêm os aumentos de impostos, ingerências, corrupções, roubos entre outros e o coro se põe a reclamar. Reclama de tudo. Mas porque a cobrança não é feita sistematicamente dos nossos gestores? Porque dá trabalho né? Porque temos outras coisas mais importantes a fazer né? Pois é. Aí nos deparamos com o que está acontecendo em nosso país. Uma conta absurda e praticamente insolúvel. Quem “vamos” pagar a conta ao final? Quer outro exemplo? Vejo inúmeros pais delegando a educação de seus filhos aos colégios. Pagam mensalidades caras e com isso entendem que tem o direito a uma educação proporcional ao montante que desembolsam. Como se educação se comprasse em prateleira. Pois bem. Esses mesmos pais exercem o papel de educação dentro de casa? Estão em sintonia com os professores para auxiliar nessa educação formal? Dá trabalho né? Mais fácil deixar a criança grudada no vídeo game e afins devorando um pacote de bolachas recheadas. Muito mais fácil. Depois o professor que se vire na escola. Estou pagando caro é para isso. Aí vemos crescer uma geração de crianças sem educação e cheia de direitos. Cara a conta no futuro? Pois é. Quem “vamos” pagar a conta ao final? Querem ver algo pior? Se não bastasse a negligência com seu país e com seus filhos, vemos cada dia mais presente os que não tem preocupação nem consigo mesmo. Aqueles que vão ribanceira abaixo em termos de valores morais. Batem no peito exigindo os direitos mas negligenciam como podem seus deveres. Mas perceber deficiências e lutar para melhorar dá muito trabalho né? Melhor ficar como está. Mais fácil. Deixa para os outros. E no fundo todos nós pagamos a conta ao final, por estarmos alimentando essa propensão limitadora e danosa. Enquanto não percebermos que somos diretamente responsáveis pelo futuro da humanidade e atuarmos em prol disso, sem delegar a ninguém nossa responsabilidade, continuaremos pagando essa conta salgada. Porque no fundo a vovó é que estava certa. Quer moleza? Toma sopa de minhoca.  

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 05 de fevereiro de 2016

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