Cachoeira
amarga
Minha
filha mais velha está realizando um trabalho para a escola onde cada aluno se
responsabiliza por mostrar um município com potencial turístico do Estado de
Goiás. Apresentado o resultado em classe, uma cidade é escolhida para que a turma
faça uma viagem de fechamento do ano. Cachoeira Dourada foi a sorteada para o
trabalho da empolgada filha e desde então estamos (a família toda) fazendo um
mutirão de informações sobre o município. Na verdade, trata-se de uma cidade
pequena cuja atração turística se resume ao lago formado pela usina
hidrelétrica de Cachoeira Dourada. Mas essa não é a questão que pretendo
abordar. Numa dessas conversas, a filha perguntou o porquê do nome do
município. Respondi que era por conta da usina. Ela então perguntou se havia
uma cachoeira na cidade com esse nome. Respondi que havia, porém com a
construção da usina a cacheira foi coberta. Foi quando ela indignada perguntou
como era possível acabar com uma cachoeira por conta da geração de energia
elétrica. Nessa hora o assunto ficou sério. Precisei lembrar-me da diferença de
idade entre as gerações e a mudança dos conceitos que ela já carrega. Tentei
explicar que o empreendimento havia sido construído em uma época que não havia
uma consciência ambiental muito arraigada e que tudo se prestava ao
desenvolvimento do país. Tentei explicar também sobre os novos métodos de
produção de energia que geram menos impacto, mas que ainda funcionam de forma
incipiente. Mas de tudo que tentei lhe passar, o que frisei com letras garrafais
foi a responsabilidade dela e de todos com o uso da energia e de outros
recursos naturais renováveis ou não. A maioria das pessoas tem uma tendência a
lutar pelas causas ambientais, mas não estão dispostas a reduzir seu consumo ou
mudar seus hábitos em prol dessa causa. E esse é o ponto nevrálgico que tentei
passar a pequena ambientalista naquele momento. A sustentabilidade não um
assunto pacificado e fácil de ser implantado. Ainda precisamos caminhar muito
para termos soluções realmente sustentáveis que possibilitem o homem coexistir
com o meio que o cerca com a menor degradação possível. Mas fico feliz em
perceber sua indignação em relação ao que hoje chamamos crime ambiental, mas já
foi tratado como solução de progresso. E fico mais feliz ainda de ver que ela
se impressiona ao encontrar com uma cachoeira em seu estado natural. O brilho
nos seus olhos mostra a mudança no conceito que as gerações vão formatando.
Digo isso porque seu pai (no caso esse que vos escreve), de uma outra geração,
brilhava os olhos ao ver uma grande obra de engenharia como uma usina
hidroelétrica. E ainda brilha. Mas já sente o coração doer ao pensar nos
sacrifícios ambientais que foram necessários para aquele feito. Isso que difere
as gerações. O que para uns foi mudança dolorida, para outros é parto sem dor.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 20 de maio de 2016