sexta-feira, 20 de maio de 2016

cachoeira amarga


 
 
Cachoeira amarga
 
          Minha filha mais velha está realizando um trabalho para a escola onde cada aluno se responsabiliza por mostrar um município com potencial turístico do Estado de Goiás. Apresentado o resultado em classe, uma cidade é escolhida para que a turma faça uma viagem de fechamento do ano. Cachoeira Dourada foi a sorteada para o trabalho da empolgada filha e desde então estamos (a família toda) fazendo um mutirão de informações sobre o município. Na verdade, trata-se de uma cidade pequena cuja atração turística se resume ao lago formado pela usina hidrelétrica de Cachoeira Dourada. Mas essa não é a questão que pretendo abordar. Numa dessas conversas, a filha perguntou o porquê do nome do município. Respondi que era por conta da usina. Ela então perguntou se havia uma cachoeira na cidade com esse nome. Respondi que havia, porém com a construção da usina a cacheira foi coberta. Foi quando ela indignada perguntou como era possível acabar com uma cachoeira por conta da geração de energia elétrica. Nessa hora o assunto ficou sério. Precisei lembrar-me da diferença de idade entre as gerações e a mudança dos conceitos que ela já carrega. Tentei explicar que o empreendimento havia sido construído em uma época que não havia uma consciência ambiental muito arraigada e que tudo se prestava ao desenvolvimento do país. Tentei explicar também sobre os novos métodos de produção de energia que geram menos impacto, mas que ainda funcionam de forma incipiente. Mas de tudo que tentei lhe passar, o que frisei com letras garrafais foi a responsabilidade dela e de todos com o uso da energia e de outros recursos naturais renováveis ou não. A maioria das pessoas tem uma tendência a lutar pelas causas ambientais, mas não estão dispostas a reduzir seu consumo ou mudar seus hábitos em prol dessa causa. E esse é o ponto nevrálgico que tentei passar a pequena ambientalista naquele momento. A sustentabilidade não um assunto pacificado e fácil de ser implantado. Ainda precisamos caminhar muito para termos soluções realmente sustentáveis que possibilitem o homem coexistir com o meio que o cerca com a menor degradação possível. Mas fico feliz em perceber sua indignação em relação ao que hoje chamamos crime ambiental, mas já foi tratado como solução de progresso. E fico mais feliz ainda de ver que ela se impressiona ao encontrar com uma cachoeira em seu estado natural. O brilho nos seus olhos mostra a mudança no conceito que as gerações vão formatando. Digo isso porque seu pai (no caso esse que vos escreve), de uma outra geração, brilhava os olhos ao ver uma grande obra de engenharia como uma usina hidroelétrica. E ainda brilha. Mas já sente o coração doer ao pensar nos sacrifícios ambientais que foram necessários para aquele feito. Isso que difere as gerações. O que para uns foi mudança dolorida, para outros é parto sem dor.      
  
Guilherme Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 20 de maio de 2016
 
 

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Amanheceu o pensamento


Amanheceu o pensamento

 

         

“Baby compra o jornal e vem ver o sol. Ele continua a brilhar apesar de tanta barbaridade”

 

          E foi assim que amanheceu o dia na quinta-feira, 12 de maio de 2016. Incólume e impassível como acontece desde o princípio dos tempos. Pulei da cama com a música em mente e já liguei a televisão para acompanhar a votação do Senado sobre o impeachment da Presidenta. Ainda falavam os últimos oradores e com isso ganhei tempo para preparar o café e acordar os filhos e a esposa para assistirmos juntos aquele momento. Tirada uma foto daquele instante, encontraríamos a família toda aninhada na cama, ainda sonolenta, presenciando um episódio histórico para nosso país. Sentia uma enorme inquietação e ao mesmo tempo uma alegria pueril. Recordei-me do ano de 92 quando pintei o rosto de verde e amarelo e fui às ruas junto com amigos gritando pela queda do então Presidente. Um fato guardado em minha memória com muito carinho. À época achava que entendia o que estava fazendo, mas no fundo não passava de um Don Quixote a golear alguns moinhos. Agora me encontrava sobre mesma expectativa. Sob as mesmas circunstâncias históricas. Mas dessa vez em outro estágio de minha vida. Podendo estar junto com minha família. Podendo compartilhar com eles essa oportunidade única de testemunha ocular da história, independente do mérito do fato presenciado. Com certeza eles, os filhos, não conseguiram abarcar a grandeza desse momento, mas eu também não tinha conseguido entender por completo quando passei por ele em 92. Essa prelazia da experiência somente o tempo nos concede. Naquela época eu não passava de um estudante com sonhos em abundância e ações em carência. Hoje, assim como a ordem dos fatores sonhos e ações se inverteu, os papeis de pais e filhos também. Quando acabou a votação, até de forma um pouco decepcionante em vista do “espetáculo” dado na Câmara dos Deputados, um dos filhos questionou que podia ser feriado, pois se tratava de um dia muito importante. Consequentemente eles não precisariam ir à escola. Por um segundo internalizei aquela fala e lhe respondi muito calmamente que essa não era a melhor opção. Que na verdade tínhamos uma responsabilidade dobrada naquele momento. Que tínhamos obrigação de cumprir nossas funções. No caso trabalho e estudo. Que ambas ocupações eram importantes para o país. Mas que no final das contas, eles os estudantes, é que poderiam fazer todo aquele momento histórico funcionar de maneira efetiva. Mas para isso precisavam pensar. Pensar. E seguimos todos com nosso dia. Que amanheceu incólume e impassível como o faz desde o princípio dos tempos. Mas sempre com algo diferente. Não no dia. Mas nas pessoas. Como se naquele dia amanhecesse também o pensamento.

 

“Mas quem tem coragem de ouvir, amanheceu o pensamento. Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento. ”    

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 13 de maio de 2016


 

sexta-feira, 6 de maio de 2016

a tocha da discórdia


A tocha da discórdia

         

         

Essa semana foi marcada, além da montanha russa da política nacional, pelo início do tour da tocha olímpica pelo país. E junto com seu trajeto começaram também as críticas. Vale o princípio da democracia e do contraditório não é verdade? Cada um com sua opinião e liberdade para expressá-la contanto que não ultrapasse o limite do próximo. Então, defendido esse princípio, vou expressar a minha opinião. Eu acho massa demais! Entendo o espírito olímpico como uma coisa bela e acho os jogos muito benéficos para a humanidade. Compreendo os argumentos que ressoam justificando não passarmos por um momento bom para sediar os jogos, visto que enfrentamos uma crise política, institucional e financeira. Mas lembro também que quando fomos escolhidos para sede, tanto da Copa quanto das Olimpíadas, passávamos por um momento diferente. Aliás, foi por ser a bola da vez mundial, que tivemos a escolha para os eventos agraciada. E não acho correto que refluamos desse compromisso acertado. Imagino que o mundo não veria com bons olhos também uma desistência nessa altura do campeonato. Isso geraria, com certeza, uma imagem bem pior para o Brasil do que a que estamos passando na atualidade. Tanto externa quanto interna. Existe também o argumento de que está se gastando muito dinheiro com os jogos e que grande parte das obras ficarão inacabadas ou abandonadas. Não refuto o fato. Realmente deverão ficar esqueletos das Olimpíadas pela cidade do Rio assim como ficaram, pelo país inteiro, as da Copa do Mundo de Futebol. Mas isso é culpa dos jogos olímpicos? Penso que não. Isso é responsabilidade nossa. Dos brasileiros. E não coloquemos também a culpa nos políticos, afinal eles não são extraterrestres que aportaram de outro planeta direto para nossa política. Eles foram colocados lá por nós. Representam a população brasileira. E tudo que executam é feito em nosso nome. Se abandonam as obras antes do seu término é porque a população é conivente com esses atos. É leniente. E o argumento de serem todos os políticos corruptos incitando o desinteresse de muitos pelo processo político só piora a situação pois deixa alguns guetos nadando de braçada pelo cenário nacional fazendo o que bem entendem. E isso tudo influi na nossa vida. Direta e indiretamente. Independente disso acho que poderíamos ser mais receptivos ao espírito olímpico. Talvez ele possa nos ensinar a olhar o lado positivo das coisas, pois é egresso de tempos de guerra e crises mundiais, mas mesmo assim continua com sua luz acesa. Espero sinceramente que esse fogo olímpico, representado pela tocha, ajude a aquecer o coração do brasileiro que anda cercado de frio pessimismo.          

           

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 06 de maio de 2016