Amanheceu
o pensamento
“Baby compra o jornal e vem ver o sol.
Ele continua a brilhar apesar de tanta barbaridade”
E
foi assim que amanheceu o dia na quinta-feira, 12 de maio de 2016. Incólume e
impassível como acontece desde o princípio dos tempos. Pulei da cama com a
música em mente e já liguei a televisão para acompanhar a votação do Senado
sobre o impeachment da Presidenta. Ainda falavam os últimos oradores e com isso
ganhei tempo para preparar o café e acordar os filhos e a esposa para
assistirmos juntos aquele momento. Tirada uma foto daquele instante,
encontraríamos a família toda aninhada na cama, ainda sonolenta, presenciando
um episódio histórico para nosso país. Sentia uma enorme inquietação e ao mesmo
tempo uma alegria pueril. Recordei-me do ano de 92 quando pintei o rosto de
verde e amarelo e fui às ruas junto com amigos gritando pela queda do então
Presidente. Um fato guardado em minha memória com muito carinho. À época achava
que entendia o que estava fazendo, mas no fundo não passava de um Don Quixote a
golear alguns moinhos. Agora me encontrava sobre mesma expectativa. Sob as
mesmas circunstâncias históricas. Mas dessa vez em outro estágio de minha vida.
Podendo estar junto com minha família. Podendo compartilhar com eles essa
oportunidade única de testemunha ocular da história, independente do mérito do
fato presenciado. Com certeza eles, os filhos, não conseguiram abarcar a
grandeza desse momento, mas eu também não tinha conseguido entender por
completo quando passei por ele em 92. Essa prelazia da experiência somente o
tempo nos concede. Naquela época eu não passava de um estudante com sonhos em
abundância e ações em carência. Hoje, assim como a ordem dos fatores sonhos e
ações se inverteu, os papeis de pais e filhos também. Quando acabou a votação,
até de forma um pouco decepcionante em vista do “espetáculo” dado na Câmara dos
Deputados, um dos filhos questionou que podia ser feriado, pois se tratava de
um dia muito importante. Consequentemente eles não precisariam ir à escola. Por
um segundo internalizei aquela fala e lhe respondi muito calmamente que essa
não era a melhor opção. Que na verdade tínhamos uma responsabilidade dobrada
naquele momento. Que tínhamos obrigação de cumprir nossas funções. No caso
trabalho e estudo. Que ambas ocupações eram importantes para o país. Mas que no
final das contas, eles os estudantes, é que poderiam fazer todo aquele momento
histórico funcionar de maneira efetiva. Mas para isso precisavam pensar. Pensar.
E seguimos todos com nosso dia. Que amanheceu incólume e impassível como o faz
desde o princípio dos tempos. Mas sempre com algo diferente. Não no dia. Mas
nas pessoas. Como se naquele dia amanhecesse também o pensamento.
“Mas quem tem coragem de ouvir,
amanheceu o pensamento. Que vai mudar o mundo com seus moinhos de vento. ”
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 13 de maio de 2016
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