sexta-feira, 10 de junho de 2016

só queria embalar meu filho


Só queria embalar meu filho

 

 

“Só queria lembrar o tormento
Que fez o meu filho suspirar...”

Ontem quando abracei um pai que tinha o olhar marejado na porta do IML, escutei-o justificar a depressão. Da imensa judiação em se perder um ser pleno em função do traiçoeiro mal do século. Aquele que chega sorrateiro e mina as forças. Só o escutei. Ele queria. Ele precisava. Como justificando aquilo que não tem justificativa. Como que explicando a seu coração que aquela dor imensa tinha um porquê. Por que? E ficamos ali abraçados. Um pai tentando doar uma parte de seu coração, aquele outro pai que perdera parte do seu naquele dia triste de junho.   

“Só queria agasalhar meu anjo
E deixar seu corpo descansar...”

Ontem quando vi o sofrimento e as lágrimas dos seus, entendi o imenso vazio que sua ausência traria. Aquele menino que era exemplo em tudo quanto fazia. Educado e gentil como poucos. Um anjo errante que nos deixou muito cedo, levando junto com ele parte dos corações daqueles que por ele choravam naquele instante. E em uma tentativa de compensar a perda vieram os abraços. Como que numa esperança de doar uma parte de seu coração, aquele familiar que perdera parte do seu naquele dia choroso de junho.  

“Queria cantar por meu menino
Que ele já não pode mais cantar...”

Ontem quando cheguei em casa abracei meus filhos como se não os visse há muito. Precisava. Queria. Fiquei pensando naqueles pais que não tinham mais a oportunidade de abraçar o seu. Que iriam para casa sem uma parte de seus corações. Pensei nos abraços e lagrimas daqueles que procuravam um porquê. Pensei nas palavras não ditas ou ditas desnecessariamente. Pensei na efemeridade da vida e o quanto precisamos aproveitá-la. Com corações inteiros ou pela metade. E como que por reflexo fiquei agarrado aos meus filhos querendo eternizar aquele momento. Como que em um desejo do calor de nossos corações, aquecer aqueles que perderam parte do seus naquele dia frio de junho.  

 

 

* em memória de Pedro Torquato Ramos

 

 

 

Guilherme Augusto Santana

Goiânia, sexta feira 10 de junho de 2016

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