Sobre
responsabilidade
Não
quero aqui falar sobre a morte do gorila Harambe ocorrido no zoológico de
Cicinnati nos Estados Unidos. Muitos já falaram por ele. Já prestaram sua
homenagem e sua indignação pela morte de um animal cuja espécie se encontra em extinção.
Mas independente do risco de desaparecer do mapa mundial, senti seu abatimento
como sentiria em qualquer caso que visse uma situação semelhante. Um animal que
certamente foi levado até aquele local contra a sua vontade e aparentemente não
fazia nada mais do que seu instinto o ordenava. Diante de uma situação de risco
eminente sua vida foi subtraída.
Não
quero aqui falar sobre a ética em se manterem zoológicos espalhados pelo mundo.
Muitos já falaram e falam diariamente sobre essa causa. Argumentos são variados
e tornam o assunto polêmico e de difícil conclusão. Independente do tratamento,
na maioria das vezes salutar, que recebem em cativeiro, vêm à baila se não
estariam melhores no local de origem. Isso tudo em prol do entretenimento
humano ou do conhecimento humano? Esse é o pomo da discórdia sobre o assunto.
Enquanto uns veem a futilidade da diversão humana, outros veem a luz da ciência
do conhecimento. Eu diria que talvez um pouco dos dois, mas isso não alimenta
causa e nem lado para se torcer.
Não
quero falar aqui sobre o descuido, ou como foi alardeado por parte, da
irresponsabilidade dos pais da criança que deixaram com que o menino fosse
parar no refúgio do gorila. Quem tem filhos sabe que são como leite que se
coloca a ferver. No menor descuido ocorre o derramamento. Também não tiro essa
responsabilidade deles visto que, impreterivelmente e indelevelmente, essa
culpa é dos pais. Sempre. Mas não consigo ver julgamento atroz e ferino em
imputar a morte do gorila a essa “irresponsabilidade”. Fatos que aconteceram.
Culpa sem dolo. Afinal todo pai quer o bem de seu filho e nunca, em sã
consciência, faria ato deliberado ou falha deliberada para prejudicar uma cria.
Quero
aqui falar, afinal, da responsabilidade de quem decide. De quem está à frente.
Do líder. Aquele que em situações de risco toma as decisões em prol de seus
liderados. São essas pessoas com quem me solidarizo nesse momento. Muito foi
questionado sobre as decisões disponíveis no momento em que a criança corria
risco fatal. Muitos questionaram o abatimento do gorila. Muitos questionaram a
razão de termos zoológicos. Muitos questionaram a irresponsabilidade dos pais.
E tenho certeza que tudo isso pesou sobre a cabeça de quem tinha o poder da
decisão. Mas mesmo diante do risco de não acertar, ele ou eles tomaram a decisão.
E é a essas pessoas que presto minha homenagem nesse momento. A eles e a todos
que tomam decisões. Das menores as maiores. Das erradas as acertadas. Esse é o
ônus de que as toma. Assim fizeram os administradores do zoo de Cicinnati e
assim eu também o faria.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 03 de junho de 2016
“Um gorila do zoológico de Cincinnati, nos Estados Unidos, foi
morto no sábado por tratadores após ter agarrado um menino de 4 anos que caiu
em seu cercado de cativeiro. A criança ficou por cerca de 10 minutos com o
gorila, de 17 anos, e a equipe de resposta contra riscos de animais considerou
a situação como uma ameaça à vida do menino.”
(G1 – 29/05/2016)
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