Adaptação,
eis a questão
Principio
a crônica de hoje com uma cena forte. Aqueles que têm estômago fraco o melhor é
se retirarem da sala. Imaginem um domingo de manhã com toda sua família deitada
na cama assistindo TV e tomando café. Aí numa dessas de atravessar de um lado
para o outro do quarto, seu dedo se encontra com o pé da cama. Agudo. Imaginaram?
Mas não foi o dedinho não. Aquele que Deus fez com sistema de articulação dupla
para aguentar esse tipo de topada. Foi o dedo vizinho ao dedão. Esse mesmo. O
que não sabemos nem o nome de tão insignificante se faz em nossas vidas. Pois
bem. O barulho foi de algo quebrando. Olhei para cama em busca das caras dos
expectadores. Todos me olhavam com emoji de espanto. Experimentei todas as
cores do arco íris e sensações no estômago. Dor. Mas capaz de não ser nada. Tenho
que adaptar. Improvisamos uma tala com palito de picolé, calcei o sapato e
partimos para um almoço de comemoração. Besteira. A dor me enviou ao pronto
socorro. Raio-x. Fratura. Imobilização. Ainda bem que não engessam mais. Agora
usa bota ortopédica. Tira a bota toda hora. Dá até para dirigir. Fácil. Engano.
Piorou. Muleta. Sem colocar o pé no chão. Tempo incerto. Mas como vou dirigir?
Trabalhar? Levar meus filhos na escola? Tomar banho? Nesse momento senti-me um
inválido. Um saco de carne jogado dependendo da boa vontade de outrem. Inútil. Pensamento
de desistência. Foi aí que me lembrei das Paraolimpíadas do Rio que se iniciam
por esses dias. Recordei-me de uma reportagem que havia assistido há pouco de
uma ciclista brasileira paraplégica. O esforço hercúleo que ela e a família
fizeram para se adaptar ao esporte. À vida. Vítima de um acidente de carro.
Reportagem de chorar dias sem parar. Horas de tristeza e horas de alegria. Qual
o ingrediente principal ela utilizou para seguir a vida? Adaptabilidade. Uma
das Leis Universais. Inexorável. Independente de fatos trágicos e obtusos, o
ser humano necessita se adaptar. Quer seja a situações físicas ou psicológicas.
Adaptação para evoluir com ser humano. Aqui sentado nesse computador poderia
ficar horas escrevendo e lamentando sobre as limitações desse meu estado precário.
Mas não o farei. Lembrar-me-ei, em todos os momentos de fraquejo, dos atletas
paraolímpicos e principalmente daquela ciclista. De sua adaptabilidade,
resiliência e força de vontade. E se precisar subir no pódio, o farei. Mesmo
que seja de muletas e com a ajuda dos que ao meu lado se encontram.
Boa sorte aos atletas paraolímpicos em
mais esse desafio. Vocês já são campeões.
Guilherme
Augusto Santana
Goiânia, sexta feira 02 de setembro de
2016
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